Capítulo IV - As Crônicas de Isabel: Príncipe Callel - Parte 1



     Eu estava descendo as escadas quando vi Rômulo, Ricardo, Diego[1] e George conversando sob a luz de um poste que ficava em frente à escada onde eles estavam.
− A quê devo a honra George? – Perguntei.
− Eu não sou George. – Respondeu.
− Ele é um mensageiro de Bolo. – Explicou Rômulo.
− Em Isabel todos os mensageiros ficam iguais aos seus donos quando vão dar alguma mensagem. – Explicou ele.
− E qual é a mensagem?
− Isabel foi ameaçada de invasão. – respondeu.
− Invasão? – Perguntei.
− Deixe que eu explique. – tencionou Rômulo.
− Não! – Exclamou o sósia de George. – Eu sou o mensageiro. Eu dou a mensagem.
− Tudo bem.
− Um mensageiro veio até Isabel nos oferecer submissão aos sete planetas da Aliança Saiajeans, mas meu senhor, e as rainhas Tamires, Vanessa e Lorena negaram o pedido e eles nos ameaçaram com a invasão. Ao saber que eles tinham uma tropa tão grande que encobriria Isabel toda como se fosse uma grande nuvem que se estende por todo planeta, meu senhor me enviou até aqui para chamá-los para nos ajudar.
− Interessante. – Foi o que eu disse.
− Você quer dizer preocupante, né? – Perguntou Rômulo nervoso.
− Se quiser Rômulo, posso lhe dar o maior exército que a galáxia já viu.
− E como vai fazer isso se o anel está com Pé?
− O anel de Trago? – Perguntou Ricardo. – Você não ganhou dele numa aposta?
− Mas passei para Larissa na nossa primeira guerra em Isabel. – Respondi.
− Primeira? – Pergunta Diego.
− Primeira já que a segunda vai ocorrer em breve não é?
− Temos então que falar com Pé. – Interveio Rômulo se levantando e indo em direção a casa da prima.
Nós o seguimos e lá dentro falamos com ela e com sua irmã Vanessa. O mensageiro tinha acabado de dar o recado.
− Posso controlar os bruxos de novo. – Disse ela.
− Está pensando pequeno. – disse eu.
− O que sugere Braço. – Interpela Vanessa.
− Em um exército indestrutível, forte e, se for o caso grande.
− Que tal de vampiros? – Indaga Ricardo. – Só há três maneiras de matá-los, são fortes, têm muitos debaixo da terra, podem se teletransportar
− Eu tenho um vampiro em casa e acredite: não são essas coisa todas.
− Imagino que você tenha um palpite infalível. – Disse Rômulo já perdendo a paciência.
Eu dei uma leve risada antes de falar.
− Precisamos de um exército que não possa ser destruído de uma, quanto mais de três formas diferentes.
− Só um deus não pode ser destruído. – Disse Vanessa.
− Um morto também não. – Declara Diego, sorrindo mostrando aqueles muitos dentes.
− Tem razão. – Confirma Rômulo.
− Então está decidido. Leve de volta a seu senhor a mensagem de que já temos um grande exército para enfrentar esses Saiajeans. – Ordena Larissa.
− Sim, senhora. – O mensageiro se curva e volta para escada de onde veio.
− Convocarei o maior numero de mort
− Chame todos. – Disse.
− O que? – disseram Rômulo e Vanessa juntos.
− Pense bem: eles são de sete planetas e já devem ter conquistado muitos outros afora. Você ouviu o que o mensageiro disse: eles têm um exército que pode cobrir toda Isabel como se fossem uma grande nuvem negra.
− Braço tem razão. – Me apoiou Ricardo.
− É, mas não podemos tirar o descanso daqueles que se foram para combaterem em uma guerra. – Argumenta Rômulo.
− E a vida que tiramos para nada, na primeira vez que fomos a Isabel? – Contra-argumentei. – Vocês ouviram um jegue que veio de outra dimensão e com isso mataram centenas de bruxos.
− Fala como se não tivesse tido participação. − Contra-atacou Vanessa.
− Tive. Assim como vou ter nessa, e se não me escutarem, não vamos chegar à maioridade.
Com isso eles se calaram e refletiram sobre o que eu disse.
− Braço está certo. – Assumiu Rômulo. – Agora não há volta.
− Tudo bem. – disse Larissa. – Vou reunir todos os mortos da Terra e levá-lo-eis até Isabel.
− Se lembre que você tem que dar um anel a um membro para fazer um elo com a raça dele. – Lembrei-a.
− Eu sei dessa regra, só não sei como vou dar um anel a um morto.
− Você tem duas opções. – Disse Ricardo. – A primeira é ir ao céu ou inferno atrás de um. A segunda é ressuscitar alguém.
− Na Sibéria tem um cemitério de gelo eterno onde os mortos são congelados. Diz a lenda que se eles forem descongelados voltarão à vida. – Conta Rômulo.
− É um bom começo. – Disse. – Eu vou voltar para Isabel e saber mais sobre esses Saiajeans.
− Eu vou com você. – Anuncia Ricardo.
− Eu também. – Diego.
− Já eu vou com Pé e Papel.
E assim foi.






Isabel parecia não ter mudado nada desde a última vez que estive lá. A única diferença era a agitação e ansiedade das pessoas devido à iminente guerra.
Ao chegarmos ao palácio fui saudado como rei.
− Meu Primo! – Exclamou Tamires antes de me abraçar, na sala principal.
− Como vai Minha Prima. – Disse.
− E então? Que exército é esse que vocês vão trazer? – Perguntou George.
− Um grande exército de mortos. – Respondi.
− De mortos? – Perguntou Vanessa enquanto eu abraçava Lorena.
− O maior que você já viu. – Completei ao abraçá-la.
− E de quantos vão ser? – Perguntou minha suposta prima.
− Quantos mortos têm a Terra? – Perguntou Ricardo.
− Serão todos os mortos da Terra?! – Perguntou Vanessa espantada.
− Com licença, meus senhores, – Disse um lacaio. – mas o Jegue quer lhes falar.
− O que ele quer? − Perguntou Tamires.
− Disse que é sobre os Saiajeans.
− Como ele sabe? – Questionou Lorena.
− Não sei senhora.
− Jegue? – Pergunta Diego.
− Ele é o antigo rei de Isabel. – Responde George.
− E o que vocês fizeram com ele? – Indaguei.
− Ele está preso junto com a Princesa. – Respondeu Vanessa.
− Você quer dizer na mesma cela? – Continuei.
− Claro que não! – Exclama Lorena. – Eles estão na mesma prisão junto com seus guerreiros.
− Não sei se foi uma boa ideia colocá-los juntos.
− Se quisessem que eles estivessem em cadeias diferentes, estivesse aqui e arrumasse isso, bonitinho. – Reclama Tamires.
− Bunitinho não é ele não, é Lucas. – Brinca Ricardo fazendo dois ou três rirem.
− Tudo bem. Mas agora que eu estou aqui, eu mesmo vou falar com ele.
− Ele chamou a nós. – Intervém George.
− E quem ele tentou matar? – Foi o que eu interpelei antes de pedir a localização do Jegue para o lacaio.


− Estão boas às acomodações? – Perguntei ao ver o quadrúpede deitado em uma folha de bananeira na cela de quatro por quatro.
− Ah. Pelo visto está de volta. – Disse se levantando.
− Pelo visto está bem informado para um preso.
− Quem é rei, nunca perde a majestade.
− Então de rei pra rei, me diga o que você tem a dizer para os outros quatros.
− Promete que conta pra eles? – Debocha.
− Tem a minha palavra. – Retribuí.
− Há uma maneira de vencer os Saiajeans.
− Mesmo? E qual seria? – Ironizei.
− Estou falando sério, garoto.
− Eu não duvido. Só não sei por que quer nos ajudar.
− Tudo tem seu preço.
− E qual seria?
− A libertação da Princesa para voltar a governar.
Eu olhei pro focinho dele e comecei a dar risada.
− Nos chamou aqui para nos oferecer um acordo imoral como esse? − Continuei a ri. – Você só deve estar brincando.
− Só assim vocês poderão reunir todos os exércitos de Isabel e tentar ter alguma chance contra os Saiajeans.
− Nós temos o maior exército que Isabel e a Terra já viram. E ele é tão grande que levaria uma semana inteira e contínua para poder passar metade dele pela escada.
− Então terão que lutar com a metade.
Parei de ri.
− Do quê você está falando?
− Daquele dragão que você e seu amiguinho mataram na última vez que estiveram aqui. Ele era o único deus que Isabel tinha. Senhor de todos os Espíritos Nascentes daqui. E são esses Espíritos que controlam, entre outras coisas, as passagens entre Isabel e os outros mundos, inclusive o seu. E saiba espertinho, que eles se enfureceram com a morte de seu deus e vão deixar de sustentar todas as bases das coisas que existem aqui. Inclusive a passagem da escada.
− Está mentindo.
− Se acha isso, pergunte a um dos seus reis o que está acontecendo com o gelo de Mesdoran, ou se preferir, passe um dia inteiro nas planícies perto do castelo e veja como o tempo está bem equilibrado.
Eu recuei e fitei meus pés, pensativo.
− Digamos que eu acredite em você. Por que a princesa e não você. Pelo que me lembre, você é bem mais convincente do que a Princesa. Talvez consiga até um exército maior do que ela conseguiria.
− Mas com a Princesa vocês conseguiriam três vantagens, enquanto comigo só uma.
− Estou ouvindo. – Disse.
− A única coisa que eu conseguiria, como você disse, é um exército maior. Mas a Princesa pode convencer os Espíritos Nascentes de voltarem a sustentar o equilíbrio em Isabel, deixando a escada sempre aberta. Ela também pode, como eu disse, reunir todos os povos de Isabel sob a sua bandeira. E terceiro, pode convencê-lo a lutar conosco.
− Convencê-lo quem? De quem você está falando?
− Da única maneira de vencer os Saiajeans.
− Prossiga.
− Acho que já falei demais.
− Se quiser me convencer, me dê os fatos.
− O que posso dizer é que a força e número, não são nada comparados ao conhecimento. E isso ele tem de sobra.
− Posso não ter muito conhecimento, mas sei que não posso confiar em você. Então a menos que me peça outra coisa eu não vou ouvi-lo. – Disse no momento em que George chegava com dois guarda-costas.
− Você estará condenado Isabel agindo assim Danilo.
− Nossa conversa com você acabou.
− O que está havendo aqui? – Perguntou George.
− Não dê ouvidos a ele. Ele é louco.
Estava me dirigindo a saída quando o Jegue disse:
− Eu te dei a única opção de salvar esse mundo e você a jogou fora.
− Do quê você está falando?
Foi a última coisa que ouvi antes de passar pela porta.

Voltei depois de uma procura cansativa por uma biblioteca ou qualquer lugar que pudesse me informar sobre os seres de Isabel, mas foi em vão.
− Este lugar não tem uma biblioteca?! – Perguntei ao chegar à sala principal. – O que ela está fazendo aqui?
− Eu a soltei. – Respondeu George.
− Você só deve estar de brincadeira. Eu não disse para não soltá-la?
− O rei aqui sou eu Braço, e você não manda em mim.
− Achei que fossem treze.
− Achou errado.  – Interveio Tamires. – Só os que ficaram são reis.
− Achei que fossem os que lutaram por esse reino.
− Por favor, não quero que briguem por mim. – Disse a Princesa.
− E você fique calada.
− Braço, você está falando com a nova Imperatriz. – Explicou Vanessa.
− O quê?!
− Nós aceitamos o trato do Jegue e libertamos a Princesa. – Continuou Vanessa. – Que agora é Imperatriz.
− Vocês estão cometendo o mesmo erro de antes. Vocês não podem confiar neles. Eles são traidores. Forjaram uma guerra apenas para matar a mim e a Rômulo.
− Nós já sabemos da história, Braço. – Interrompe George.
− Mas não temos outra escolha. – Completa Vanessa. – Se os Espíritos fecharem a escada, de nada adiantará controlar os mortos se não o usarmos.
− Eles podem estar blefando. Não há ninguém em Isabel que saiba mais sobre ela do que eles. Esses fenômenos podem acontecer sempre.
− O tempo está um caos, Braço! – Exclama Tamires. – Você considera uma chuva torrencial sem nuvem algo normal?
− Na verdade não temos nem o que discutir. – Pronunciou George. – Nossa decisão foi tomada e você não tem nada a ver com isso.
Fez-se um breve silêncio.
− Tudo bem. – Disse por fim. – Se é assim que vocês querem − Me curvei debochadamente e saí.
Eu sabia: aquilo era mais um plano do Jegue e da Princesa e eu tinha que fazer algo para que nosso fim não fosse inevitável. No entanto, sem a ajuda dos quatro reis, isso seria desnecessariamente difícil. Então eu tinha que ser o terceiro a tomar as rédeas da situação. Eu agora estava jogando um xadrez contra dois adversários e doze piões.

Minha primeira atitude foi enviar até Larissa uma mensagem que pedia que ela atrasasse a passagem do exército pela escada até eu saber de quem o Jegue estava falando, quem são esses Saiajeans e se o que eles disseram sobre os Espíritos Nascentes era verdade. Três dias depois tive que recorrer ao Jegue de novo.
– Você já teve o que queria agora me diga de quem você estava falando na última vez em que conversamos.
– Eu me referia ao príncipe Callel.
– Quem é esse príncipe?
– O filho de um deus que tem o conhecimento de mil civilizações.
– Achei que Isabel só tinha um deus.
– E tem. Ele não é daqui. Pelo menos não seu pai. E ele com certeza deve conhecer os Saiajeans e saber seus pontos fracos.
– E onde ele mora?
– Ao leste. No reino de Golan. Mas se eu fosse você eu não iria falar com ele. Pode acabar dando uma má impressão e fazê-lo não querer ajudar. Deixe que a Imperatriz fale com ele.
Eu me aproximei da grade e disse:
– Não se esqueça Jegue, que você é meu prisioneiro, não conselheiro. – Sai logo após disso e dei com a Imperatriz que estava saindo.
– Indo a algum lugar em especial?
– Não que eu te devo explicações, mas estou indo a um reino ao leste.
– O de Golan?
– Exatamente.
– Que coincidência! Também estava indo pra lá. Me acompanha?
– Eu já tenho companhia. As rainhas Lorena e Vanessa.
– Está me dispensando, majestade?
Ela se aproximou.
– Não pense que eu esqueci o tapa que me deu naquele fatídico dia.
– E nem você pense que eu esqueci a armadilha que você e seu amiguinho armaram pra mim e pra Rômulo. Eu estou de olho em você Princesa…
– Imperatriz.
– Dê um pequeno deslize e eu faço a suposta profecia virar realidade.
– Espero que não estejam brigando. – Disse Vanessa se aproximando junto com Lorena.
– Imagina! – Disse. – Quem seria eu pra brigar com uma Imperatriz.
– Bom, Braço… Se me der licença, estamos de saída.
– Eu sei. Na verdade estava pensando em ir com vocês, se não se importarem.
As duas se entreolharam.
– É que vamos falar com um príncipe e só podem ir os reis de Isabel. – Falou Lorena.
– Não esqueçam, “altezas”, que só existem duas pessoas além de mim que realmente merecem serem chamadas de reis de Isabel. E elas não estão aqui.
Me dirigir a carroça presa a cavalos alados, quando Vanessa me interpelou:
– Está dizendo que não merecemos estar naquele trono?
– Não. – Me virei. – Estou dizendo que se não fosse por mim, Rômulo e Larissa, vocês não estariam vivos para estar nele. – Dei um leve sorriso e entrei no veículo.

A viagem foi mais longa do que eu gostaria, principalmente pela companhia de alguém que tentou me matar e de duas garotas esnobes que não fizeram metade do que eu fiz por Isabel e se acham as donas desse mundo.
Quando pousamos, estávamos em um campo, que mais parecia um milharal.
– Onde estamos? – Perguntei sem ter minha resposta.
– Chegamos? – Perguntou Vanessa.
– Não. – Respondeu a Imperatriz. – Vim buscar um guia.
– Você não sabe onde fica o reino? – Perguntei.
A princesa ia me ignorar mais uma vez, no entanto, a dúvida não era só minha.
– Sim, eu sei. Mas viajar pelo ar, nas condições que Isabel está não seria seguro. Por isso precisamos de um guia que nos leve por terra dando a volta no Abismo Sem Fim.
– Abismo Sem Fim? – Repetiram as rainhas, enquanto eu achava muito estranho aquela estória.
Eu sentia como se estivesse sendo levado novamente para o Santuário do Dragão. Mas dessa vez eu estaria preparado.

Descemos da carroça e ficamos esperando o tal guia da Princesa. Dois minutos depois de espera, um espantalho veio voando em asas de corvo.
– Desculpe a demora, Alteza. – Disse com sua voz rouca ao pousar e se ajoelhar.
– Tudo bem Crow. Onde estão nossas montarias?
– Mais a frente, senhora. – Respondeu.
Seguimos o espantalho até um pequeno monte onde estavam grandes tartarugas de caudas espinhosas e chifres pontiagudos.
– Eu sei que não é a melhor montaria para minhas altezas, mas elas são velozes e protegem a qualquer custo seus cavaleiros com seus cuspes incandescentes.
– Não temam meninas… e menino. Eles são bem dóceis e fáceis de guiar. – Disse a princesa.
– Segurem no chifre. – falou Crow montando em uma tartaruga vermelha.
A minha era azul, a de Vanessa, rosa, a de Lorena amarela e a da princesa verde.

Cavalgamos por entre bosques, vales e riachos, mudando quase abruptamente de uma paisagem para outra. Ao passarmos por uma ligação de areia que dividia dois grandes rios que pareciam oceanos, o guia avistou algo.
– Olhem!
Era um enxame de abelhas iguais as que foram falar com Tamiles após a primeira batalha.
– Protejam-se! – gritou a Princesa.
As três colocaram as capas que traziam em volta do corpo protegendo-se.
“Por que eu não ganhei uma dessas?” pensei atraindo uma porção de água para jogar contra o enxame, mais eu fui alertado.
– O que está fazendo? – Perguntou o espantalho. – Se mexer nessas águas você pode quebrar o equilíbrio e destruir a passagem. Deixe que eu e os tortugas abrimos a passagem.
Tencionei usar o ar no lugar da água, mais o espantalho já estava voando empunhando armas verdes que soltavam balas amarelas que explodiam em uma espécie de gelatina branca que prendia as abelhas. Se eu criasse uma rajada de vento eu o levaria junto, além do quê, sua estranha arma estava resolvendo o problema, junto com as bolas de fogo das tartarugas. Criei então um manto negro e me protegi.
Minutos depois estávamos do outro lado.
– Estão todos bem? – Perguntou a princesa.
– Sim. – Responderam as duas.
– O amigo de vocês quase botou tudo a perder. – Disse o espantalho fazendo as três me fitarem. – Ele ia mexer nas águas.
– Ficou louco?! – perguntou a Princesa. – Uma pequena onda naquele canal e iríamos todos morrer afogados.
– Parece que você conhece bem o lugar para quem nunca andou por ele. – Disse sem muito efeito nas crentes e cegas rainhas.
– Nós sabemos Braço que você foi traído por ela no passado, mas agora ela está do nosso lado. – Alegou Vanessa. – Tem que confiar nela assim como confiamos em você e deixamos você vir.
– Um tigre nunca muda suas listras, Vanessa. O propósito dela pode parecer o mesmo que o nosso, mas ela só está nos usando. E mais cedo ou mais tarde ela estará te levando para outro “Santuário do Dragão”.
Lorena tencionou dizer mais alguma coisa, mas a própria Princesa interferiu.
– Tudo bem meninas. Ele tem todo o direito de não acreditar em mim. O importante agora é chegar a Golan e falar com Callel.
Elas me olharam em tom de desaprovação e seguiram a Princesa. Tolas.

Andamos muito, contudo, o sol temia em não se por. Algumas horas depois avistamos o que pareciam ser ruínas de um castelo.


– Não me lembro de ruínas em Isabel. – Disse a Princesa.
– Será que chegamos tarde de mais? – Pergunta Lorena.
– Não altezas. – Responde Crow. – Este foi o primeiro castelo construído pela família real de Callel, destruído pelos Flautinos, na época em que a senhora estava presa, há exatos mil quatrocentos e oito anos.
– Mil quatrocentos e oito? – Perguntaram as rainhas.
– O tempo aqui em Golan passa diferente do resto da Isabel. – Explica a monarca.
– Hoje eles vivem em um principado no subterrâneo. – Continuou o guia.
– Tudo bem. Vamos descer.
Seguimos a Princesa e o guia até a entrada de uma grande pedra que ainda ficou de pé.
Lá dentro, com um estalar de garras metálicas, o espantalho ascendeu um caminho de pólvoras que circulava toda a sala.
– Por onde entramos? – Pergunta Vanessa.
– Temos que ser convidados. – Responde Crow.
Esperamos por meio minuto, quando o príncipe apareceu nos surpreendendo.
– Quem são vocês e o que querem?
– Eu sou a Imperatriz e estes os reis de Isabel. – Respondeu sem perceber nosso espanto.
– Pombinho? – Perguntou Lorena.
– Quem? – A Princesa.
– O que disse? – O príncipe.
Eu me aproximei daquele homem que tinha o rosto de Diego[1].
– Você se parece muito com um amigo nosso chamado Diego.
– Suponho que ele não seja príncipe não é?
– Não, não é. – Respondi.
– Viemos aqui pedir a sua ajuda para lutar contra os Saiajeans. Esperamos que possa nos auxiliar com seu conhecimento e exército contra uma iminente invasão. – Começou a Princesa.
– E o que tem a oferecer? – perguntou.
– Podemos ajudá-los contra os Flautinos, a erguer novamente o seu palácio e ainda damos dez por cento de toda nossa riqueza.
Ele riu, comedidamente, mas riu.
– Os Flautinos não nos são problemas há séculos. Quanto ao palácio, não precisamos ostentar nossas riquezas, pois as mais importantes são abstratas. E quanto às suas riquezas… dez por cento é uma piada, e de mau gosto. Eu quero cinquenta por cento de toda a Isabel.
– O que?! – Exclamaram em uníssono as altezas.
– É isso ou nada.
– Você só deve estar de brincadeira. – Disse.
– Eu sou um príncipe. Respeite-me.
– Então se dê ao respeito.
– Braço! – Me reprimiu Vanessa.
– Alteza, deixe que eu resolvo. – Ela se virou novamente para Callel e prosseguiu. – Majestade, o reino de Isabel já está bem divido para dar-lhes cinquenta por cento dela.
– Se preferirem, podem ficar sem parte alguma. Pois se os Saiajeans declararam guerra, eles não vão descansar até destruir todo o reino.
– Inclusive o seu. – Intervir de novo.
– Alteza. – Tentou a Princesa.
– Por quanto tempo acha que você vai conseguir se esconder nessa toca sem que eles descubram?
– Se seu conhecimento dos Saiajeans fosse tão grande quanto tua língua, saberia que eles pouco se importam com quem está debaixo deles.
– E você se importa com quem está acima, ou a derrota aqui foi tão humilhante que deixaste de se importar com quem vive aqui como uma espécie de vingancinha.
– É melhor controlar a língua de teu amigo antes que eu a corte fora.
– És tão homem assim a este ponto?
– Está me pondo a prova?
– Sim, estou. E aposto até, que não consegue me vencer.
– Pois aposte.
– Aposto sua ajuda: Se me vencer, terá o direito de nos ajudar apenas se lhe dermos os cinquenta por cento por você requerido. Mas se eu vencer, vai nos ajudar em troca do que oferecemos. De qualquer maneira ganha.
Houve um tenso silêncio após minhas palavras.
– Aceito. Espada?
– Não. Corpo a corpo.
– Espero que ganhe, Danilo, ou eu mesmo acabo com você. – Disse a Princesa passando por mim.
As mulheres se afastaram junto com o guia. Do alto de algumas pilastras eu pude perceber as flechas miradas para mim caso eu fizesse algo impróprio para um duelista.
Comecei atacando-o com sequencias de chutes que ele defendeu, até eu dar uma rasteira e ele voar. Fui até ele para lhe deferir um soco, mas o príncipe me repeliu com uma forte luz que me fez criar um buraco no chão.
Mal pude abrir meus olhos e ele já vinha me afundar mais ainda com o pé. Num movimento rápido eu girei saindo do buraco a tempo e chutei seu rosto fazendo-o voar até uma pilastra, onde ele parou horizontalmente de pé. Aproveitei ainda para lançar-lhe uma rajada de ar que o fez atravessar a pilastra, mesmo assim ele ainda ficou de pé. Na posição certa, dessa vez.
– Nada mal. – Disse ele.
– Isso é só o começo. – Partir pra cima dele de novo.
Dessa vez o príncipe não ficou só em defender e também atacou. Entre um golpe ou outro eu passei pela pilastra como uma onda viva. Achei que o tinha impressionado, mas aquilo não era nada para quem podia tirar a luz das chamas acesas pelo espantalho e transformá-la em um chicote que dividiu duas pilastras antes de transformá-la em milhões de raios finos e rápidos que me jogaram contra a parede.
Eu mal tinha tocado o chão com os pés de novo, que ele já me socava e me jogava para fora com parede e tudo. Em seguida, saiu à luz do sol para me atirar raios de luz que brocavam o chão que eu rolava em esquiva, até que eu criei um escudo negro e revidei com as trevas jogando-o contra uma parede ainda de pé.
Dirigir-me até ele que já estava de pé.
– Trevas?
– Algo contra?
– Você é sacerdote de Zorel?
– Zorel?
– O senhor das trevas, irmão de meu pai, Jolel.
– Não. Não conheço nenhum Zorel, nem deuses das trevas. Todo meu poder provém desse anel prateado. Ele me torna um mago das trevas.
– Cuidado. Zorel permeia por todas as fontes de escuridão, seja ela qual for.
– Suponho que ele não possa fazer nada contra mim da onde eu venho.
– Mas agora você está aqui, não é?
– Se não se importa eu gostaria de voltar a lutar.
– Tudo bem. – Disse depois de um tempo. E foi o que aconteceu.
Dessa vez foi ele que começou a atacar e para cansá-lo eu só defendi, mas pelo jeito que a luta ia, ele iria demorar a ofegar. Então quando ele menos esperava, eu usei a técnica de dominação da água presente no corpo, mas novamente ela falhou.
“Acho que só funciona com quem é da Terra.” Pensei. E quando eu menos esperava, ele brilhou me ofuscando, me atingindo, em seguida, com uma bola de luz. Dessa vez fui eu que atravessei uma parede.
Sem hesitar, ele lançou um raio, também de luz que tive que revidar com um raio negro: O Olho das Trevas. Disputamos poderes opostos que faziam tremer o chão, mas ele levou a melhor e destruiu meu anel deixando a pedra negra transparente como vidro.
– Acho que eu venci.
De fato eu não tinha nenhum outro poder equiparado ao dele, mas eu não ia desistir.
– Eu acho que não.
– Suponho que você tenha perdido seu maior poder e ainda quer lutar comigo?
– Você supõe demais. – Uni as duas Canetas liberando toda minha energia. – Esse é meu maior poder.
Disparei contra ele uma luz muito mais forte do que a que ele tinha mostrado até agora. Cheguei até a criar um rastro no chão. Apesar de ele usar essa força, ele ficou ferido com meu golpe.
– Ainda quer lutar?
– Mas é claro! – Ele ergueu as mãos e criou uma bola luminosa como se puxasse a luz do sol. – Será luz contra luz.
Ele jogou a bola contra mim, mas eu a desintegrei usando outro tipo de energia. Quando o olhei de novo, o príncipe estava totalmente curado.
“Mas como?”
Então ele partiu pra cima de mim novamente, porém mais rápido e aparentemente mais forte. Continuei com o plano de cansá-lo, mas prevenindo uma nova surpresa, fiquei invisível e me esquivei.
– Eu ainda posso vê-lo. – disse olhando para mim.
“Mas como?” pensei.
– Mesmo que a luz passe direto por você, ela ainda entra em contato com seus átomos.
Ele veio a mim com grande velocidade, no entanto eu o esperava intangível, contudo ele me acertou mesmo assim.
– Se esperava que eu passasse direto, saiba que eu sou um semideus. Posso tocar a tudo.



O que mais me irritava, não era só o fato de minhas técnicas falharem com ele, mas o fato dele prever todas elas. Optei então, pelo meu maior poder, que utilizava toda a energia das Canetas. Era o poder máximo dos Arquitetos do Universo convergido em uma imensa bola cósmica que poderia destruir a lua. Mas como nós precisávamos dele vivo, diminuir o poder pela metade, mas ainda seria forte o suficiente para deixá-lo algumas horas desacordado.
A grande esfera de plasma seguia velozmente seu curso contra meu oponente, não obstante, uma aura divina surgiu do príncipe fazendo-o brilhar como o próprio sol, protegido por anjos que barraram meu poder como grandes planetas protegendo seu sol. Eu mal pude acreditar quando vi aquela cena. Ele não precisou mexer um só dedo que o seu pai todo-poderoso enviou sua proteção e sua força contra mim, me jogando em um lago ali próximo.
Eu havia perdido.
– Só voltem aqui quando estiverem prontos para me dar metade de Isabel.
– Você trapaceou.
– O quê?!
– Você trapaceou. – Repeti meio cambaleante. – Você usou os anjos de seu pai para poderem parar meu poder.
– Meu pai não usa anjos.
– E o que foi aquilo voando na sua frente bloqueando meu golpe? – Perguntei exasperado.
– É uma força criada por meu pai, sim, para poder me proteger. Todo filho de deus tem essa proteção. Ela faz parte de mim.
– Está mentindo. Você recorreu a seu pai para que ele lhe protegesse.
– Não seja um mau perdedor. Aceite a derrota e agradeça por ainda está vivo.
– O quê?! Eu vou…
– Pare com isso Danilo. – Disse a Princesa se interpondo entre mim e o príncipe. – Já nos basta à vergonha de você ter arruinado tudo com seu topete e arrogância.  Não nos obrigue a termos que levá-lo carregado.
Eu olhei para a Princesa com uma fúria quase incontrolável. Eu seria capaz de quebrar o pescoço dela ali mesmo, sem dó nem piedade, e metade dos nossos problemas estaria resolvido.
  – Teremos que pegar outro caminho, pois aquele canal a noite é muito perigoso. – Disse o espantalho.
– E por onde iremos? – Perguntou Lorena.
– Pelas minas. – Respondeu.
“Aí está o ‘Santuário do Dragão’” pensei. Mas para minha surpresa elas sabiam o que aquilo significava.
– Mas não é onde os mineradores que vencemos moram? – Perguntou Vanessa.
– Lá mesmo. – Respondeu o guia.
– Teremos que passar por lá despercebidos. – falou a Princesa.
“E é lá que você vai ficar.”

As minas ficavam debaixo de uma montanha. Entramos por um túnel inacabado que daria no outro lado, mas tivemos que pegar um desvio em um elevador de madeira pouco confiável.
– Temos que passar um de cada vez, exceto pelas rainhas, que são mais leves. – Disse o espantalho.
 Vanessa e Lorena foram as primeiras.
– Agora o senhor. – Disse ele.
– Primeiro as damas.
Aparentemente neutra, a Princesa desceu o elevador sem muitos sustos.
– Agora é o s…
Encostei o guia na parede com uma mão e preparei um soco com o outro.
– Agora que estamos sozinhos, me diga: Qual é o plano da princesa?
– Do que o senhor está falando?
– Não acabe com o resto de paciência que eu ainda tenho. Eu sei que ela já sabia que o príncipe iria pedir algo semelhante e que nós recusaríamos, para na volta passarmos por aqui e sermos atacados pelos mineradores loucos por vingança. O que eu quero saber é aonde o plano dela termina. Onde seremos atacados.
– Juro pelas minhas asas de que não sei do que o senhor está falando.
– Braço! – Gritou Vanessa. – Por que está demorando tanto?
– Eu apanhei demais hoje e eu quero revidar em alguém. Se não quiser que seja você, é melhor abrir o bico.
– Alteza, não sei do que o senhor está falando.
Dei um soco nele com tanta força que ele chegou a afundar a parede.
– Não brinque comigo Crow. Você não me conhece. Não sabe do que eu sou capaz.
– Minha majestade me ataca por qual motivo? – Perguntou com um quê de raiva em sua voz.
Preparei outro soco…
– Danilo!
… Mas a Princesa me interrompeu.
– O que pensa que está fazendo?
– O que eu vou fazer com você em breve. – Me virei para o buraco onde o elevador se mantinha sem muita confiança e pulei para parar ao lado das rainhas meio atônitas.
– O que aconteceu com você lá na Terra enquanto estávamos aqui? – Perguntou Vanessa.
– Coisas maravilhosas. – Respondi dando alguns passos na frente.
O espantalho não quis me dizer o plano da Princesa. Mas eu ia descobrir mais cedo ou mais tarde.
Quando estávamos perto da saída, Crow nos avisou que passaríamos por uma passagem estreita bem acima da cidade dos mineradores.
– Tomem cuidado. – Disse ele. – Se a queda não matarem vocês, os mineradores iram.

A passagem era de pedra. De onde estávamos, dava para ver a cidade quase toda que se dividia entre túneis e poços cavados por ciclopes de bronze.
Estávamos quase no fim da passagem, perto de um túnel que era nossa saída quando um prisioneiro de três braços, que era interrogado enquanto amarrado falou alguma coisa após receber dois socos com vontade. E então um dos mineradores olhou diretamente para onde estávamos. Foi o que bastou para que um ciclope disparasse uma rajada vermelha contra a passagem fazendo-nos cair.
O espantalho pegou a Princesa e eu as rainhas. Joguei Vanessa para túnel, mas esse explodiu devido a uma dinamite jogada contra ele. Ela também ia caindo, mas Crow a pegou também e foi para a parte mais alta do salão. Já eu, soltei Lorena que caiu em um lago. Nesse meio tempo eu fui atingido por um raio e bati na parede, caindo em seguida.
Lorena submergiu criando uma constelação que se dividiu fazendo as estrelas atingirem mineradores, casas e ciclopes, sendo que o último não foi afetado. Já eu levantei tonto e queimando, mas me recuperei a tempo de puxar minha espada a laser laranja e decepar membros como se fossem folhas de papel, dando tempo suficiente para Lorena sair do lago e tentar fugir por um dos túneis.
Quando o ciclope lançou seu raio de novo. Eu rebati com a espada criando um buraco no peito dele. Ele bateu na parede e caiu de cara no lago. O mesmo aconteceu com mais dois. Foi quando então Crow voltou e pegou a rainha e subiu novamente. Eu poderia fazer o mesmo, mas eu tinha que descarregar minha raiva em alguém, mas aí eu lembrei que aqueles mineradores poderiam ser “o dragão saindo da cachoeira e dando uma caudada em Rômulo”.
Guardei minha espada e voei até o topo da montanha fechada por uma grossa camada de gelo.
– Estamos presos. – anunciou a Princesa.
– Não seja pessimista. – Me dirigir ao centro da “tampa” de gelo e cravei minha espada nela.
Eu poderia derretê-la fazendo ela sair do meu caminho mas eu queria dar um presentinho aos mineradores e aos ciclopes que queimaram minha roupa já reconstruída.
Quando as dinamites estavam quase nos atingindo, o bloco de gelo caiu fazendo um estrago lá embaixo. Subimos até a neve lá em cima no momento em que o espantalho foi atacado pelo que parecia um urso polar de cauda.
– Crow!!! – Gritou a Princesa.
Na verdade eram ratos brancos e grandes como ursos polares.
– O que é isso? – Perguntou Vanessa.
– Ratos do gelo. – Respondeu a monarca disparando um raio pelo anel contra um deles petrificando-o. – Cuidado com a cauda. A ponta pode te congelar. – Disse.
Enquanto ela disparava seus raios que transformavam os roedores em esculturas de pedra, eu cortava o rabo ou outro membro deles. Lorena jogava suas estrelas como uma metralhadora fazendo alguns caírem no imenso buraco e Vanessa ora dava socos com sua incrível força, ora se esquivava com sua incrível agilidade.
– Danilo, vá atrás de Crow! – disse disparando contra um rato que iria atacar Lorena pelas costas.
– Por quê? – Perguntei jogando duas metades lá em baixo. Eu não confiava nela sozinha com as rainhas.
– Ele é nosso único guia. Sem ele estaríamos perdidos e em perigo.
Eu não me importava nem um pouco com aquele espantalho, mas ela poderia ter razão. Então eu pensei: “seria mais fácil eu criar um animal pessoal que não precisasse de motivo, para protegê-las e/ou tirá-las de lá para eu poder buscar o espantalho, ou eu criava uma bússola, também pessoal para nos guiar?” Mas antes que eu concluísse o raciocínio um dos ratos que teve a cauda petrificada jogou a Princesa no imenso buraco e Vanessa teve a “brilhante” ideia de se jogar para poder pegá-la. E eu tive que pular atrás deixando Lorena sozinha.
Lá embaixo Vanessa conseguiu pegar a Princesa e planar até uma pedra na parede. Aproveitando o ensejo, eu fui atrás do tal Crow que estava lá embaixo lutando garra contra garra com um rato já meio ferido. Eu pousei cortando a cabeça dele e do minerador que ia meter uma picareta no guia.
– Obrigado.
– Agradeça a rainha Vanessa que resolveu pular lá de cima para salvar sua alteza.
Nós subimos: ele foi até as monarcas e eu para o topo aberto da montanha. Lá eu pude ver um dos ratos tocar a coxa de Lorena congelando-a instantaneamente.
– Mas que droga! – Eu pousei em cima da cabeça congelada da rainha e criei um tornado que jogou os ratos montanha abaixo.
O que eu não esperava era que esse tornado criasse outros.
– O que você fez? – Perguntou a Princesa.
– Só criei um tornado para nos livrar daqueles ratos.
– Você não podia ter feito isso. – Reclama o espantalho. – Com o tempo instável, isso poderia ter criado um furacão. Vamos por aqui.
– O que aconteceu com Lore? – Perguntou Vanessa.
Ela foi até a amiga, chorosa.
– Ela foi atingida.
– Vamos Vanessa! – Chamou a monarca. – Não temos tempo.
– Eu não vou sem ela.
– Alteza! – o espantalho chamou a Princesa. – Temos que ir.
– Vanessa, vá com eles. Eu vou dar um jeito de parar a tempestade e descongelar Lorena.
– Como vai fazer isso? Como você a deixou ser congelada?
– Eu fui atrás de você. Eu não sabia que podia voar.
– Eu não sei.
– Vanessa, desça agora!
Relutante, a pequena rainha seguiu Crow e a Princesa. Assim que eles sumiram de vista eu ergui as mãos e tentei conter os tornados que giravam loucos. Por um tempo eu achei aquilo uma missão quase impossível, mas de repente a tempestade foi se dissipando. Quando o céu voltou ao normal eu vi Maia vindo em minha direção.

– Você?
– Tentando conter a tempestade com seus poderes terrenos? Não sabe que não pode mais controlá-los como antes?
Olhei para meu anel prateado com uma pedra de vidro inerte engastado nele e percebi que ele estava certo.
– O que veio fazer aqui?
– Dar-lhe um aviso. A sua amiga Larissa corre perigo.
– Veio aqui pra me dizer isso?
– Eu não estou tentando salvar uma vida que eu não criei. A questão é que ela ressuscitou todos os mortos da Terra e isso significa que anjos e demônios iram atrás dela para pegá-los de volta. O primeiro grupo deve alertá-la ou fazer algo do tipo, mas o segundo pode querer fazer sua própria “justiça” – Fez aspas com os dedos. – ou querer tomar o anel dela. Em todo caso eles serão perigosos o suficiente para não garantirem a vida dela por muito mais tempo.
– E por que está me contando isso?
– Primeiro porque foi você que deu o anel a ela, portanto você tem certa responsabilidade. E segundo porque você é o único Arquiteto Humano. Então terá que resolver esse assunto cósmico. Sozinho. Eu só vim lhe dar o recado. – após dar esse recadinho, ele voou sumindo nas nuvens cinzas como seu terno.
Apontei a mão para a congelada Lorena e disparei uma luz que a fez sair daquele estado. Ela caiu nos meus braços.
– Você está bem?
– A-acho q-que sim. – Respondeu tremendo.

Encontramos os três descendo um desfiladeiro.
– Seria mais rápido se vocês voassem.
– Lore!
Pousamos ao lado deles.
– Você está bem? – Perguntou a Princesa.
– Como se você se preocupasse.
– Você ainda acha que eu armei tudo isso como uma nova armadilha?
– Pra mim não seria uma novidade.
– Você fica tão fixado na possibilidade de eu criar outra armadilha, que não pensa que meu objetivo é o mesmo que o seu: sobreviver aos Saiajeans. E acaba esquecendo que se não fosse por você, nós agora estaríamos em um quarto quente e protegido num principado debaixo da terra.
– Como se você fosse conseguir convencer aquele esnobe a nos ajudar.
– Eu consigo convencer muito mais pessoas do que você imagina. Verá isso quando chegar ao castelo e der de cara com todas as nações de Isabel sob nossa bandeira.
– Eu ainda não vi você convencer os Espíritos.
– Eles são mais turrões do que dois de você. Mas isso não será um problema pra mim.
– Se houvessem dois de mim você ia ter um problema e tanto.

Chegamos ao castelo no que parecia ser uma noite interminável.
– Até que fim!  – Exclamou Tamires.
– E então? – Perguntou George. – Conseguiram convencê-lo?
– Não. O amigo de vocês não deixou.
– O que foi que você fez Braço? – me interpelou George.
– Não tenho tempo pra discutir agora. Tenho que voltar para a Terra.
– Você já soube o que houve com Pé? – Perguntou Diego. – Ela foi atacada por um demônio. – disse quando eu balancei a cabeça.
– Meu Deus! – Exclamou Vanessa.
– É o que eu vou resolver.
– Nandinho já foi pra lá. – avisou Diego.
– Você não me respondeu Braço. – Alertou George.
– Ele procurou fazer uma aposta com o príncipe e perdeu. – Disse Lorena.
– Agora ele só quer nos ajudar em troca de metade de Isabel. – Completou Vanessa.
– O que?
– Mas você não foi lá falar com ele? – Perguntou Tamires.
– Eu tentei, mas ele interferiu.
– Já não basta chegar dando banca, ainda por cima destrói nossa única esperança de vencer os Saiajeans?! – Esbraveja a rainha.
– Braço, você está banido desse reino. – Diz o rei. – Saia daqui agora e nunca mais volte.
Eu ri debochadamente e disse:
– Se me derem licença, eu vou me retirar, mas não demoro. Até mais.
– Até nunca mais, você quer dizer. – Disse a rainha Tamires.
– Eu quero que uma guarda de elite fique vigiando a passagem de Isabel com a Terra impedindo que ele volte. Quero também que nenhum guarda deixe… – Essa foi a ordem que eu ouvi Bolo dar antes de eu alçar voo.



[1] Este não é o mesmo Diego de “A casa: Parte 1”
[2] Esse participou de “A casa Parte1”

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