Capítulo VI - A Casa: Parte 2




Parecia que eu tinha sido sugado por minha própria nuvem negra, pois eu não conseguia enxergar nada por um bom tempo até eu bater em um asfalto também preto. Eu levantei meio tonto e percebi que estava nu no meio de uma cidade à noite e deserta. Bem, nem tão deserta, pois não demorou um minuto até eu ser abordado por um policial em uma moto.
– Ei! Você?
Eu me virei pra ele. Quando o homem me viu parecia que estava olhando para um fantasma. A principio imaginei que sua surpresa era a mesma com a minha: ele era de plástico; um boneco. E eu não.




Ele pegou o rádio da moto e convocou uma galera de nomes estranhos ao mesmo tempo em que apontava uma arma pra mim. Depois me mandou erguer as mãos e virar de costas.
– Olha meu velho, eu só quero saber onde eu estou e como eu saio daqui.
– Você vai saber em breve, agora me obedeça.
Como eu estava em terreno estranho, eu não podia me dar ao luxo de sair brigando com qualquer um, então aceitei suas condições, até porque aquelas algemas não iam me segurar se eu quisesse fugir.
Logo após ele me algemar outro policial, também de moto, mas de uniforme diferente, chegou me mandando subir em sua garupa. Eles me levaram até uma delegacia que parecia uma caixa de ferramentas gigante onde o xerife parecia ser de outro planeta devido às roupas.



– Então você chegou?
– Eu era aguardado?
– Mais ou menos.
– Quem vai levá-lo? – perguntou o primeiro policial.
– O samurai. – respondeu o xerife.
– Pra onde é que vocês vão me levar? Aliás, aonde é que eu estou?
– Todas as suas perguntas serão respondidas em breve.
Minha primeira reação foi me soltar e forçá-los a me responderem, mas o tal samurai já havia chegado.
Ele realmente parecia um samurai com uma espada dourada de um lado e um punhal do outro. Em sua armadura marrom havia uma cabeça de touro.


– MacLaine, pegue uma roupa pra ele. – mandou o xerife.
– Que sorte a dele ter o que nós não temos. – falou o primeiro policial antes de entrar em um elevador.
– E então? Vão me dizer o que está acontecendo ou não?
– Relaxe, meu rapaz. Logo você vai saber. – disse o xerife.
– E pra onde vocês estão me levando? Disso eu posso saber né?
O xerife olhou para o Samurai antes de me responder.
– Te levaremos até o nosso deus.
A priori eu pensei que eles iriam fazer um ritual comigo ou algo parecido, mas as roupas que MacLaine trouxe eram tão comuns que eu duvidei veementemente daquilo.
– A parti daqui podem deixar que eu cuido dele. – falou o samurai quando eu terminei de me vestir.
Ele me acompanhou até um touro e pediu para que eu subisse nele.
– Você só deve estar brincando né?
– Eu pareço brincar?
– Eu não vou subir em um touro, mesmo que ele seja de plástico.
– Você pode fazer do modo fácil ou do modo difícil. O que você prefere?
– Eu já disse que não vou subir em um touro!
Ao dizer aquilo o Samurai se aproximou e tentou me dar um soco, mas antes que me atingisse eu dei um assopro nele jogando-o a certa distância. Ele devia ser muito pesado, pois se fosse outra pessoa voaria longe.
Ele levantou e socou o chão me fazendo cair com o tremor. Em seguida ele correu em minha direção, mas eu joguei minha perna em sua cara; ele recuou, mas voltou como se eu nunca o tivesse atacado. Eu enrolei minhas pernas na dele fazendo-o cair e, automaticamente ele puxou sua espada passando perto de minha canela. Afinei minhas mãos saindo das algemas, me virei e levantei. Quando ele também estava de pé, eu joguei uma rajada de ar que ele parou com uma mão.
“Mas que droga!”
Em seguida deu um passo e pulou; o impacto de seu corpo contra o chão me atirou a uns dois metros. Quando eu olhei pra cima, porém não era mais ele que vinha em minha direção e sim o touro. Eu ia congelá-lo, mas percebi que eu estava sem os anéis.
“Droga duas vezes!”
Eu rolei pro lado fazendo o animal passar direto, mas o que não passou direto foi o chute do Samurai em minha cara.

Eu tinha desmaiado e fui acordado com um banho d’água. Quando abri os olhos eu mal pude acreditar: eu estava me vendo, só que a diferença era que esse eu vestia uma roupa bem mais bonita e feita. E tinha os anéis.
– Clone? – ele riu antes de responder.
– Passou longe.
– Quem é você então?
– Eu sou o eu que você não é.
– Hum… não entendi nada.
– Eu sou o verdadeiro Danilo. Aquele dono do corpo que você se apossou na Lotérica lá na Liberdade.
– No dia do ataque do “Just do it” contra os caras?
– Exatamente.
– E o que você faz fora do corpo?
– O mesmo que você: eu vim parar aqui, só que há mais tempo que você.
– E onde estamos?
– Olhe você mesmo.
Ele apontou para algo às minhas costas e quando eu me virei eu vi que estava no alto de um grande prédio, mas ao olhar para baixo eu quase não acreditei no que meus olhos estavam dizendo ao meu cérebro. Eu estava no meu quarto em cima do meu guarda-roupa.
– Correção: meu quarto; meu guarda-roupa.
– Você pode ler meus pensamentos?
– Claro. Estávamos intimamente ligados não só no mesmo corpo, mas também no mesmo cérebro.
– E por que eu não posso ler os seus?
– Por causa disso. – ele apontou para um capacete cinza de plástico que usava.
– Por que estamos em casa?
– Essa não é exatamente a nossa casa. É uma dimensão ilusória. É como se estivéssemos em outra dimensão que se assemelha a algo que conhecemos. Mas precisamos sair daqui e é por isso que você está aqui. Você vai procurar por um artefato tão antigo quanto a pedra que nos aprisionou nesta dimensão. Esse objeto é a única chave que temos para sair dessa casa e é você que vai procurá-lo.
– O quê? Por que eu?
– Porque foi você que nos trouxe pra cá. Em vez de enfrentá-lo tentou fugir. Duas vezes.
– Ei! Se não fosse por mim você seria um assassino agora.
– Acho nobre você ter se preocupado comigo naquela Lotérica, mas você fugiu do clone e fugiu do Esforiöul. Não acho que devo te agradecer de nada, pois se você não fugisse como um covarde estaríamos em casa agora do tamanho de pessoas e não do tamanho de bonecos.
– Se eu só faço besteiras por que você não vai atrás da tal peça e nos tira daqui?
– Porque se você foi capaz de nos colocar aqui, vai ser capaz de nos tirar.
– E se eu me recusar?
– Eu mando meus homens atrás da peça e você fica aqui.
– Está mentindo. Você precisa de mim pra sair daqui.
– O que o faz pensar que eu precisaria de você? Acha que se eu não quisesse, eu não jogaria você lá embaixo?
– Acho que você não faria isso porque você não é um assassino e acho que você não faria isso porque de fato você precisa de mim.
Com um movimento rápido ele jogou um rio de água contra mim, me fazendo cair do alto do guarda-roupa, mas antes que eu chegasse ao chão, uma teia prendeu no meu pé. Eu fui puxado por um boneco do Homem-Aranha.




– Eu posso não ser homicida, mas quem disse que eu não tenho tendências suicidas? – falou quando eu já estava de volta ao topo do armário. – E então? O que prefere? Morrer ou sair daqui?
Ele tinha me encurralado. Nas condições em que estávamos eu não duvidava que ele pudesse me matar ou até mesmo mandasse me matar, afinal eu havia tomado seu corpo e ele tava me dando uma chance que seria totalmente desnecessária.
– O.k. Você venceu. – disse enfim.
– Ótimo. Em breve o anjo que eu convoquei virá e nos dará a primeira pista do objeto.
– Imagino que isso será uma caça ao tesouro não é?
Ele me ignorou e prosseguiu:
– Vou mandar que te deem uma roupa melhor e armas, mas saiba desde já que eu posso saber tudo o que você pensa, então não dê uma de sabidinho.
– Pode deixar.
– Leve-o.
O guarda de Danilo me levou até o andar inferior do guarda-roupa e me deu a roupa de Eku, uma arma cinza e um pequeno bastão vermelho que ao apertar um botão aparecia um invólucro verde de uma caneta pequena.


– O que isso faz?
– Serve como uma espada a laser.
– Hum. 

Ao chegar de volta ao terraço eu me dirigi a Danilo que estava cercado de outros bonecos.
– Essa é a roupa de Eku, Danilo. Achei que nunca mais iríamos usá-la.
– Ela tem boas funções e, aliás, ela é muito mais traumática pra mim do que pra você.
– Acha que você foi o único a sofrer com…
– Ei! Eu não vou discutir isso.
Pouco depois de ele dizer isso um anjo de enfeite apareceu acompanhado de uma pomba branca. Todos os reverenciaram menos eu, claro.
– Suponho que trouxe a primeira pista. – falou Danilo.
– Sim. – disse o anjo. – O primeiro lugar que ela esteve foi no outro quarto, protegido pelas pelúcias, mas algo os atacou, abriu a pirâmide em que ela estava e ainda matou uma das pelúcias.
– Você faz alguma ideia de quem foi?
– Algo pequeno o suficiente para entrar sem que eles vissem e forte a ponto de matar uma pelúcia.
– Alguém viu alguma coisa?
– As próprias pelúcias, mas acho que eles estão envergonhados de mais para dizer alguma coisa.
– Tudo bem. Mandarei meus homens pra lá.
“Homens!? fala sério!”Ao pensar nisso, Danilo me lançou um olhar furtivo, mas irritado.
– Deixarei Alex com vocês caso precisem de alguma coisa.
– Obrigado, Anjo.
Ele voou e deixou Danilo com seus brinquedos, um pássaro e eu.
– Vocês ouviram. Acompanhem o Sr. Eku…
– Mazda. – interrompi.
– O Sr. Mazda até o quarto ao lado e tomem conta e cuidado com ele.
– Venha. – chamou um Power Ranger verde que parecia ser o líder do grupo composto pelo samurai, Mulher-Gato, Wolverine e um ninja de cabeça verde e roupa vermelha.
Eles se dirigiram até um lustre no meio do armário. Entramos nele e após um aviso de “se segurem” uma luz tomou todo o lugar me cegando e quando eu abri os olhos estávamos ultrapassando o espelho do guarda-roupa da mãe de Danilo. Na cômoda, além de vários frascos de vários materiais de beleza, havia um cachorro e um carneiro, ambos de pelúcia.











– O que fazem aqui? – perguntou calmamente o carneiro enquanto o cão já rosnava.
– Viemos saber o que houve aqui e achar os culpados. – respondeu o Ranger.
– Nós já sabemos o que houve e quem foi. – disse o cão ríspido. – Saiam daqui!
– Calma Wolf. – pediu o carneiro. – Vocês podem trazer os latrocidas?
– Sim, mas precisamos que vocês nos ajudem contando tudo o que aconteceu.
O carneiro deu um suspiro e depois começou com sua história:

    

      Era de noite e a vigília era do coelho Duran. Estávamos dormindo, então não sabemos bem como começou. Quando acordamos Duran estava caindo na Grande Cama e alguma coisa pequena como um inseto estava girando uma das canetas que fecham a pirâmide. Eu balancei meu sino e acordei o Wolf que pulou pra cima do intruso derrubando a pirâmide e se segurando na caneta sobre o precipício. O intruso que agora dava pra ver devido à luz da lua que entrava pelas frestas da Janela era um pequeno urso branco em cima de um planador que parecia um skate.
“Como ele estava mais pra fora do Cômodo eu balancei meu sino criando turbulência e o derrubei na Grande Cama onde Duran parecia estar lutando contra algo invisível que eu julguei ser outro micro urso. Após Wolf subir na Cômoda de volta eu mandei-o pular para a Cama e ajudar Duran.”
– Quando eu pulei na cama o pequeno urso estava enforcando Duran com seu próprio lenço. Eu tentei ajudá-lo, mas o segundo urso lançou um míssil onde eu estava, me derrubando. Eu cheguei ao chão desacordado. – disse sem muita vontade.
– Após matar Duran, os dois micro ursos voltaram para a Cômoda. Eu peguei um pequeno frasco cilíndrico e comecei a disparar gotas de ácido contra eles, contudo os ursos eram muito rápidos e desviavam com facilidade, portanto não demorou muito para que o urso do skate lançasse um míssil contra um frasco de perfume explodindo bem às minhas costas me desacordando também.
“Quando recobramos a consciência a pedra não estava mais lá, nem os ursos.”
– Isso é Méfora? – perguntou Wolverine parecendo cheirar um vidro de perfume mais ao canto.
– Sim, é. – respondeu o carneiro. – Por quê?
– Isso pode rastrear os passos dados pelos ursos.
– Já tentamos isso, é claro! – respondeu o cão ainda irritado.
– Mas não podemos passar da porta nem deixar o Cômodo abandonado.
– Mas nós podemos. – Disse o líder verde.
– Vocês poderiam trazer a pedra de volta? – perguntou o carneiro esperançoso.
– Não podemos garantir que a traremos de volta, mas garantimos de que acharemos esses ursos.
Com essa promessa, o carneiro borrifou a substância no ar mostrando o rastro dos dois ursos.
– Levem um pouco com vocês. – ele colocou uma boa porção em um frasco de amostra grátis, mas que ainda era grande para nós.
– Obrigado. – agradeceu o Ranger.
– Nós que agradecemos. – disse o carneiro.

Seguindo o rastro chegamos até a sala. O rastro passava por cima do sofá pequeno que era enorme. Parecia uma montanha.
– Nunca achei que esse sofazinho fosse tão grande! – comentei baixo.
– Eu e o Wolverine vamos por cima e vocês dão a volta. – falou a Mulher-Gato.
– É verdade. Vocês são mais rápidos e ágeis. Encontramos vocês depois.
Com isso os dois escalaram o sofá com suas garras e sumiram lá em cima.
– Vamos rapazes.
Enquanto dávamos a volta o ninja rubro-verde me abordou.
– E então? O que você faz?

– Não entendi.
– Nosso deus, Danilo está conosco há muitos séculos e a maior parte dele esperava por você para nos livrar do Demônio Verde. Então, o que você tem de especial além de se parecer muito com ele?
O boneco me fez uma pergunta interessante. Danilo não havia explicado a eles, obviamente, o que ele realmente quer, então eu teria que ter muito cuidado ao responder alguma coisa.
– Eu conheço bem a casa. Eu posso ser um guia.
– Nós já temos um mapa da casa. – respondeu o verdinho. – Se fosse só por isso você seria desnecessário.
– Se formos atacados por alguma coisa ou bicho, você iria parar para olhar pro mapa para saber qual é a melhor rota de fuga? Imagino que você já estaria morto antes mesmo de abrir o mapa. – ao dizer isso, dobramos a esquina do sofá e paralelamente, um gafanhoto entrou pelo portão e pela porta aberta como se fosse tirar o pai da forca.
Nos viramos rapidamente pra ele: eu lhe apontei a arma cinza, o ranger uma arma branca que parecia uma metralhadora a laser e o ninja puxou duas adagas.
– Corram! – disse ele pulando para a parede vermelha e subindo para a grade marrom.
– O que foi isso? – perguntei.
Mal abaixamos as nossas armas e uma lagartixa preta (parecia um jacaré pra mim) entrou pela mesma grade e porta aberta. Apontamos as armas pra ela de novo e ela parou até que um “pequeno” pássaro entrou do mesmo jeito. A lagartixa entrou debaixo do sofá enquanto o pássaro não parecia estar mais preocupado com o animal e sim comigo. Eu ia dar um tiro nele, porém o desgraçado deu um pio que nos arremessou longe.
Minha arma caiu e antes que eu percebesse, o pássaro já estava com as garras em cima de mim. Virei em um ato reflexo escapando de suas presas, mas não de seu bico que bateu com força na minha camisa com linhas de aço.
– Ai! – mais uma bicada daquela a roupa não ia resistir.
Quando ele tentou me bicar de novo um miado soou na grade. O pássaro viu um gato branco que eu temia muito que fosse o que eu estava pensando.
O periquito deu um pinote e voou quase sendo alcançado por Mateus, o gato mais feroz da rua. O gato de Lorena.


Seguindo o exemplo do lagarto eu fui para debaixo do sofá. Os outros dois correram: o Power foi para frente do sofá e o ninja para frente do muro ao lado do portão principal da casa que dava as escadas que dava na porta de saída.
Eu observava o gato escalar a parede quando a lagartixa abocanhou minha perna protegida pela calça ultra forte. Eu mirei minha arma de bala elétrica pra ela, mas o bichano deu uma caudada na minha mão jogando a arma longe, então eu soltei um poder de propulsão na cara do réptil que largou minha perna e deslizou pra trás. Em seguida eu engatinhei até minha arma, no entanto tudo aconteceu muito rápido:
Eu acho que o gafanhoto pulou do ventilador de teto para o rack do telefone e o passarinho fez o mesmo, no entanto o gato também pulou e pegou o curió no meio do caminho, porém caiu bem em cima do rack que tombou pra trás e depois pra frente caindo bem onde minhas duas armas estavam e o Power Ranger também. Eu voltei pra debaixo do sofá tentando me proteger dos estilhaços do rack e do que tinha em cima que entraram pela fresta do móvel.
Mal os pedaços pararam de voar e o lagarto veio de novo, mas dessa vez eu puxei a espada e cortei a cabeça dele eficientemente. O verdinho também entrou debaixo do sofá tentando se esconder do gato que tentava furiosamente pegar o passarinho.
– E então, pra onde vamos? – perguntou.
– Temos que tentar passar por trás do que sobrou do rack e seguir por detrás do sofá até a porta do nosso quarto.
– Certo, mas quanto ao Verdoengo? Como vamos tirá-lo de lá?
– Sinto muito, mas não podemos fazer nada por ele. – eu não ia arriscar minha vida tentando salvar um boneco.
“Toda vida é importante, Mazda.”
“Ele é um boneco, Danilo!”
“Uma vida. Lembra?”
“Isso já faz muito tempo…”
“Eu nunca vou me esquecer. E você também não!”
Droga.
“Tá bom.”
– Vá por onde eu lhe falei e deixe que eu vou buscar Verdoengo.
– O.k.
O Ranger foi pro caminho que eu lhe falei enquanto eu me arrastei pra fora do sofá. Por sorte Mateus já estava comendo o periquito, mas sua cauda balançava freneticamente pelo pequeno espaço que me sobrou. Eu tinha que contar com a sorte de não me bater naquele grande prolongamento branco. Mas sorte é só uma palavra.
Assim que o felino se virou pra ver o que havia tocado nele eu corri pra onde o Verdoengo estaria, como não o vi corri para detrás de um retângulo de madeira que sustentava uma caixa de som. Eu estava a menos da metade do caminho e a uma patada de Mateus quando eu resolvi pular me virando e lançando uma propulsão contra o gato que desviou felinamente. Por sorte eu caí deslizando sobre o piso branco e polido até eu bater na caixa e ficar a menos de dez centímetros dos dentes afiados daquele gato alvo e feroz como tigre.
Puxei o sabre de luz verde e refreei o ímpeto do gato de me comer. Em seguida cravei a espada no quadrado do bicho que rachou no meio fazendo-o recuar um pouco, então eu lembrei que tinha uma segunda arma de bala elétrica. Disparei contra o felino que após muitos miados deu uma patada em um dos pedaços do piso que eu quebrei jogando-o contra mim. O pedregulho que não devia ter mais de dois centímetros me imprensou contra a parede de madeira fazendo com que eu largasse a espada e a arma e deitasse no chão antes de receber uma unhada no meio das fuças.
– Aah!
Ainda no chão fui até a arma e atirei contra o animal que novamente desviou permitindo que eu pegasse o sabre e passasse por uma fresta entre o bloco de madeira e o rack do som. Lá o felino não pôde me pegar.
Eu fui até o final do estreito beco olhando os danos causados por aquelas unhas que rasgaram a jaqueta e a camisa fazendo três rasgos grandes e largos que sangravam.
Eu saí no fundo do retângulo de madeira em um beco maior que passava pelo rack e pela outra caixa de madeira. O caminho era cheio de fios e de teias de aranha, mas nenhum sinal do Verdoengo.
“Onde esse cara se meteu?” eu olhei para a escada imaginando que ele não seria tão burro de ir prum lugar tão aberto assim. Comecei a andar por entre os fios até que eu vi uma das adagas do cara, porém, mal pude imaginar o que teria acontecido e fui puxado por uma teia. Automaticamente eu cortei a teia com o sabre, no entanto, antes de eu cair minha perna prendeu em um aglomerado de teias ao mesmo tempo em que um fio se levantou e mirou meu peito ensanguentado. Esperei que ele me atacasse para eu poder corta sua “cabeça” e em seguida as teias, contudo, novamente antes de chegar ao chão mais próximo agora, outro fio me enrolou como uma cobra e me bateu na parede. Eu larguei a espada e fui jogado em uma cela de vidro achatada, redonda e de menos da metade do meu tamanho.
A cela era cheia de ossos e pelo vidro eu vi um enfeite pequeno e gordo de óculos que parecia o Octopus de frente para outro enfeite que servia de tela grande que mostrava dados. Eu tinha que sair dali o mais rápido possível e achar o tal do avoengo verde que eu não via em lugar nenhum.




Apesar de uma galinha "tatuada" com Porto de galinhas em uma das asas acompanhada por galinhas menores não pararem de me olhar eu trabalhei no meu plano de fuga: lancei impulsos contra a parte de cima da cela que se encaixava com a de baixo onde eu estava.
– Isso não vai adiantar de nada. – disse o gorducho rindo.
De fato não adiantou de nada, pois meu poder pereceu ter sido sugado pelo centro circular da tampa da cela.
“Droga! Danilo me paga!”
Quando eu ia soltar uma propulsão mais forte, a energia da minha roupa começou a ser sugada liberando eletricidade por todo cubo. Em segundos minha roupa esta desligada.
– Mas o quê…
– Seu traje é realmente incrível! Mas o mais incrível vai ser a energia que você vai me dar. – disse Oc. – Há muito tempo eu venho procurando por um animal que tivesse uma energia tão vasta que pudesse alimentar toda a torre. E agora… eu encontrei você.
– Onde está o boneco? – perguntei
– Ah! Ele não me serve de nada. Joguei-o na gaveta. Talvez eu use suas peças para criar alguns amiguinhos novos.
Ao dizer isso eu reparei que não havia só uma galinha ali, mas também um boi, um boneco de gelo e uma estátua dele: o único objeto que não me encarava.
– Agora… abasteça-me! – e com um riso sinistro ele bateu em um chaveiro de tamborim que era ligado a minha cela.
No início eu não senti nada, mas depois comecei a ficar fraco, cansado e vi que ele estava sugando minhas forças. Comecei a criar uma massa de ar e joguei-a contra a parte de cima da cela, mas era inútil. Quanto mais forte eu criava a ventania, mais fraco eu ia ficando, até que o tufão foi diminuindo à medida que os ossos iam voltando ao chão.
Antes de desmaiar eu vi uma besta verde que parecia um dragão derrubando o boi lá embaixo, disparando espinhos da cauda contra as três galinhas pequenas, derretendo o boneco com seu sopro de calor e girar fazendo a cauda derrubar a galinha maior e o cientista na rede de teias e fios no outro lado e fazendo a tampa de vidro que me prendia voar até a estátua de Octopus esmagando-a.
Após fazer tudo isso a besta veio até mim e disse:
– Toda vida é importante Mazda. Até a sua. – após ouvir isso eu desmaiei.

Quando acordei eu ainda estava deitado na metade do cubo. Minha ferida havia sido curada e minha roupa restaurada. Até minha espada estava comigo de novo. Ao levantar eu vi Verdoengo sentado no outro lado do andar.
– Obrigado. – disse saindo da cela e me dirigindo até ele. – Você está bem?
– Prometi ao meu deus que nunca mais deixaria ela sair; que a controlaria. Mas eu fui fraco.
– Você não foi fraco; você me salvou. Se não tivesse feito isso eu estaria morto agora. – eu não acreditava que estava dizendo aquilo, mas era verdade. Uma verdade inegável até mesmo pra mim. – Vamos. Temos um trabalho a fazer.

Observamos se Mateus ainda estava lá e depois descemos o rack e nos dirigimos até o rack maior: o da televisão. Como Mateus já havia saído, passamos pela frente do rack mesmo. Parecia calmo.
– Como deve saber, este é o prédio que controla toda Sala.
– Imaginei.
Quando estávamos nos aproximando da divisão da sala com a cozinha o grande urso de enfeite do lado esquerdo do rack nos abordou:
– Esperem! – ele pulou na nossa frente. – O rei quer falar convosco.
Apesar de eu estar completamente recuperado, lutar contra aquele urso seria um esforço para dois de mim. De qualquer forma Verdoengo respondeu antes que eu tomasse uma decisão.
– Sim, tudo bem. Seria um prazer.
Ele nos levou até um elevador diferente: ficamos embaixo de uma pilha de CDs e passamos por eles como se não tivéssemos matéria até chegarmos num andar onde havia um aquário redondo com um peixe dentro. Ao lado do aquário tinha uma mulher alta e branca, quase translúcida, loira e muito bonita.
Aí estão eles. – ela tinha um sotaque russo muito forte.
– Eu já vi Natasha! Eu não sou cego. – disse o peixe apesar de sua boca não se mexer. – Então foram vocês que destruíram o laboratório do professor Pita?
– Se o senhor se refere ao cientista gorducho, saiba que ele tentou me matar.
– Mas que absurdo! – a água do aquário tremeu fracamente. – o Dr. Pita jamais seria capaz de ferir uma mosca.
– Porque ele não teve oportunidade.
“Vá com calma Mazda.”
– Eu estava preso quando ele disse que há muito tempo ele não tinha um animal que pudesse lhe dar bastante energia.
– Isso é um ultraje! Como pode acusar alguém que não pode nem se defender?
– Não haveria motivos para matarmos o cientista. – disse Verdoengo. – Nós temos uma missão e não haveria por que matar alguém que nem conhecíamos.
Ele tem razão, senhor.
– Hum… e que missão é essa?
– É secreta, senhor. – respondeu o ninja.
– Como posso saber se a missão de vocês não era matar o Dr. Pita?
– Como eu disse, não haveria motivo pra isso.
Isso é o que você diz. – falou Natasha.
– Pra saber a veracidade dessa afirmação temos que saber sobre sua missão.
Por detrás dos óculos escuros eu analisei Verdoengo que parecia buscar uma alternativa, então eu disse:
– Estamos atrás de dois criminosos.
– Que criminosos? O que eles fizeram?
– Só podemos dizer isso senhor. – concluiu o ninja.
Muito vago. – disse Natasha. – Talvez devêssemos passá-los pela máquina da verdade. Perguntamos se eles tinham intenção de matar o Dr. Pita e se a máquina disser que não, deixamos eles irem.
– É uma boa ideia, Natasha.
– Tudo bem, então.
“Sua banana verde, o que está fazendo? Não há garantia nenhuma de que eles se aterão apenas às perguntas sobre Pita.”
Vocês me acompanham? – perguntou Natasha se dirigindo ao elevador. deixando exalar um cheiro alcóolico.
Atrás dela eu comentei:
– Péssima ideia.

No andar inferior ela nos mostrou duas cadeiras brancas feitas de canecas alemãs de enfeite partidas. Atrás dela havia algo estranho que parecia uma torre de ouro, mas não dei muita atenção.
Sentem-se. – pediu.
Na nossa frente havia um cérebro laranja gigante com a metade do nosso tamanho. E ele não parecia de enfeite.


Este é o Cérebro. – disse ela.
– De quem? – perguntei baixo, mas aparentemente a mulher ouviu.
Sentados de frente para Cérebro ela começou o interrogatório:
Vocês tinham intenção de matar o Dr. Pita? – pergunta capciosa.
– Não. – disse Verdoengo.
– Sim. – disse o Cérebro!
Então vocês de fato quiseram matar o cientista?
– Não! – Verdoengo.
– Sim. – Cérebro.
– Só quando ele tentou me matar. – eu.
E por que ele tentaria matá-lo?
– Para sugar minha energia e abastecer o rack dele.
– Sim. – disse o cérebro me deixando mais calmo.
Ele por acaso caçou vocês para poder obter essa energia?
– Não.
– Não. – o cérebro.
Então como chegaram lá?
– Estávamos andando por trás do rack quando aranhas e fios nos capturaram. – completei depressa: – Primeiro ele depois eu.
– Ele não sabe se foi assim com o outro. – Cérebro desgraçado!
– Mas foi assim que aconteceu comigo! – disse logo Verdoengo.
– Sim. – confirmou Cérebro.
E o que faziam atrás do rack?
– Fugíamos de um gato branco. – Verdoengo.
– Sim. – Cérebro.
Gato branco na sala?
– Sim. – foi o cérebro que respondeu.
Deixe eu ver se entendi: vocês estavam fugindo de um gato branco, foram pra trás do rack e foram capturados por aranhas e fios controlados pelo Dr. pita que queria tirar a energia dos dois para abastecer o rack dele?
– Ele não iria usar Verdoengo para tirar energia e sim suas partes.
Ela olhou pro Cérebro e ele confirmou com seu monossílabo:
– Sim.
E o gato tinha alguma coisa a ver com sua missão secreta?
– Ele entrou no nosso caminho. – respondeu Verdoengo sem perceber onde aquela conversa levaria.
A missão de vocês é aqui na sala?
– Não. – respondi.
– Eles não sabem. – Cérebro.
– A missão é tão secreta que nem vocês estão inteirados dela?
– Nós sabemos sim.
– Eles não sabem o lugar.
Se pudesse eu separava os dois hemisférios daquele cérebro!
– O que sabem sobre a missão?
– Agora que você sabe que não viemos matar o Dr. Pita, pode nos soltar. – parece que agora o avoengo verde percebeu o nosso estado.
Ainda não! Responda a pergunta.
Cérebro parecia está forçando os nossos cérebros a responder, mas eu era o único que poderia sentir dor, então eu falei:
– Que dois ursos roubaram uma pedra que preciso para sair dessa dimensão e viemos atrás deles! – falei rápida e dolorosamente.
Olhei furtivamente o rosto de Verdoengo e vi a surpresa disfarçada em sua cara.
– Você pode ir para outra dimensão com essa pedra?
– NÃO!
– Sim.
– E como você sabe disso?
A dor voltou mais violenta e antes que eu respondesse mais alguma merda eu tirei oxigênio do meu cérebro e apaguei.

Acordei novamente com um banho d’água na cara, mas ao abrir os olhos eu vi Verdoengo, o xerife, os dois policiais e o samurai na minha frente atrás de grades. Não… era eu que estava atrás das grades.

– Por que eu estou preso?
– Por que mentiu pra nós. – disse o xerife.
– Eu não lhes disse nada, lembra? Eu nem sabia onde estava.
– Mas quando soube não nos contou que queria a pedra para poder sair daqui. – disse o Samurai.
– A ideia não foi minha. Foi de seu “deus”. Ele pediu que eu encontrasse a pedra para poder sair dessa dimensão.
– Por que não nos contou quando soube? – dessa vez foi Verdoengo.
– Por acaso Ele lhes disse?
Os bonecos ficaram em silêncio por um tempo até que formaram um círculo entre eles e começaram a debater o que fazer.
 Depois de alguns minutos eles voltaram a suas posições:
– Você fica aqui até segunda ordem. – disse o xerife.
– Eu não vou ficar aqui. Tenho que achar a pedra.
– Você está sob custódia.
– E o que o faz pensar que essas grades vão me segurar.
– Pra isso eu tenho meus dois guardas.
Eu ri.
– Fala sério.
– Você pode cuidar dele? – perguntou o Samurai.
– Posso. – respondeu o xerife.
– Eu vou até lá em cima. Você vem comigo? – perguntou a Verdoengo.
– Não. Eu vou ver se encontro os outros e dou a notícia.
Quando todos saíram, eu tentei minha fuga, mas Danilo me parou.
“Não faça nada!”
“E eu vou ficar aqui?”
“Vai. Eu vou resolver a besteira que você fez.”
“Como se você pudesse fazer diferente.”
“Eu não estou dizendo que a culpa foi sua. Mas tem que concordar que foi uma baita besteira, não acha?”
Após isso eu fiquei na cela esperando. Não demorou muito e o policial que me colocou na sua garupa apareceu em frente à minha cela com uma arma em punho.
– Abaixe essa arma Gordon! – era a voz do xerife, mas eu não podia vê-lo.
– Eu vou lhe provar xerife que ele não é um deus. Que ele pode morrer.
“Que ideia é essa?”
– Você não pode atirar em um prisioneiro Gordon. Isso é contra lei e você defende a lei.
– Isso está acima da lei. É a verdade que está em jogo aqui.
– Mesmo que esteja certo, se matá-lo eu terei que prendê-lo. Isso vale sua vida?
– Sim. Não vou viver mais na mentira!
“Que diabos o xerife ta fazendo que não dá logo um tiro nesse cara?” eu não sabia o que era mais angustiante: se aquele policial apontar aquela arma pra mim ou eu não ver o único que poderia impedir aquele maluco de atirar em mim. Sinceramente eu não sabia se aquilo era um teatro ou se de fato o xerife tava tentando impedir que seu subordinado atirasse em mim. Afinal, se eu não morresse só o policial iria preso e a dúvida seria desfeita de modo bem engenhoso.
– Senhor… Gordon, o que está fazendo? – Era a voz do outro policial, MacLaine.
– Abaixe essa arma Gordon. – agora era o samurai.
Será que era uma peça? Eles saíram para achar um jeito de provar minha divindade já que não podiam provar a de Danilo?
– Essa é a nossa chance! Pensem comigo: se ele é feito da mesma matéria que nosso deus, então ele deve ser tão imortal quanto ele.
– E se de fato ele for imortal? – perguntou o xerife. – Você vai preso e com a vergonha de ter desconfiado de seu deus. Imagine a vergonha que você traria pra si e para essa delegacia!
– E se ele não for?
– Bom, eu posso viver com isso. E você? Você pode viver com a vergonha de ter atirado em um deus? De ter desconfiado de um deus?
– Ele mentiu pra nós!
– Ele é um deus, ele sabia o que estava fazendo. – dessa vez foi o samurai que respondeu.
– Você falou com ele Taurus; o que ele disse?
– Que vai nos livrar do Demônio Verde, mas pra isso ele precisa que Mazda encontre a pedra. Deus ou não ele é a nossa única esperança.
O quanto Danilo arriscaria para poder me manter vivo? Ou ele realmente acha que eu sou o único que pode encontrar a pedra?
– Gordon, por favor, abaixe essa arma. – foi a vez de MacLaine falar. – Não jogue sua vida fora.
E relutantemente ele obedeceu.
“Ufa!”
MacLaine apareceu e acompanhou o amigo. Parecia estar tão abalado quanto eu.
Na frente da minha cela surgiu o xerife e o samurai que foi chamado de Taurus. Nenhum dos dois empunhava uma arma e eu fiquei imaginando como eles iriam parar Gordon se ele tivesse decidido atirar.
– Você vem comigo. – falou Taurus. – E vai no touro.

Quando chegamos à grande porta branca do quarto, nos encontramos com o resto do grupo.
– Então é verdade? – perguntou o Ranger verde. – O nosso deus e ele só querem a pedra pra poderem sair daqui?
– Nunca achei que fossem tão covardes!
– Meça suas palavras Mulher-Gato. – Disse Taurus em tom ríspido. – Eles vão matar o Demônio Verde assim que saírem daqui. Mas antes temos que ajudá-los a encontrar a pedra.
– O rastro dos ursos dá na Geladeira, mas eles negam que roubaram à pedra ou se quer foram até o quarto. – Disse Wolverine.
– Então pensamos em entrar por cima da Pia. – completou o Ranger ainda magoado. – Nossos únicos inimigos são os pegadores, mas atacando juntos e de forma furtiva à noite poderemos passar por eles e chegar até a Geladeira, onde devem guardar a pedra.
– É um plano audacioso. – disse Taurus. – Se falharmos podemos estar criando guerra com um país forte.
– Nós também somos. – Falou Verdoengo.
– Aí é que ta. Se nós formos capturados o Quarto ficará sem proteção. – Alertou Taurus.
– Temos ao nosso deus. – Verdoengo.
Nessa hora todos olharam involuntariamente pra mim:
– Não vamos falhar.

A noite não demorou muito pra cair e na escuridão subimos a janela para a copa. Pensamos em deixar Verdoengo e Taurus na janela vigiando, mas Taurus insistiu em nos acompanhar.
Tínhamos que ser discretos e rápidos, pois os pegadores vigiavam os dois lados da parede e de vez em quando ligavam a luz da copa. Por sorte, quando fizeram isso estávamos próximos à cadeira do computador e nos escondemos. Com as luzes apagadas fomos até a parede e todos nós, exceto Taurus, fomos até o posto de observação dos pegadores.



Quando atacamos, atacamos de vez: eu cortei a cabeça de dois num golpe só com a espada; o verde de ferro cortou um e chutou o outro contra uma pilastra branca que pegou sua arma, mas antes de atirar sua arma foi cortada ao meio e ele em partes pelo machado do Ranger; Wolverine pulou para trás de dois: se virou cortando a cara de um e se abaixou de um tiro enfiando suas garras na barriga de outro; a Mulher-Gato pulou azunhando a cara de um, cravou suas garras na pilastra girando e chutando com os pés juntos o outro lá embaixo.
Havia dois pegadores de plástico em cima do bebedouro; os dois atiraram, porém um errou e o outro tiro bateu na minha espada e voltou. Eu pulei atrás do outro e lhe lancei meu poder de propulsão contra ele que bateu na parede e tomou uma machadada.
Depois de Taurus subir pela corda que lhe jogamos, traçamos um plano no bebedouro para chegar à geladeira e vencer os guerreiros que a protegiam.
– Dessa vez você vai ter que ficar. – disse a ele.
– Não mesmo. Eu vou pelo chão.
Mal o samurai pulou para a pia e recebemos um sinal da lanterna de Verdoengo, mas o perigo não vinha da cozinha e sim da copa: de repente seis baratas passaram pelas colunas e se dirigiram rapidamente à geladeira.
         Elas começaram a atirar contra o prédio branco sem causar efeito algum. O contra-ataque foi rápido: um imã de joaninha saiu com mais vinte vestidas com armaduras de concha para lutarem contra as baratas, mas elas usavam pedaços de fios cuja parte exposta de cobre era incandescente como espadas e não eram só seis: havia duas em cada moto que elas entraram.


Aquilo era bom pelo fato de distraírem as defesas da geladeira, mas também ruim, pois botava a cozinha em alerta.
– Temos que agir. – disse o Ranger. – Mazda e eu vamos tentar entrar pelo fundo. Vocês dois vão por baixo.
Enquanto eu e o Ranger, que usava um foguete nas costas, voamos por cima do fogão até a geladeira, Wolverine e Mulher-Gato desceram pela corda até o tapete azul em frente a pia. Taurus seguiu pela pia e pulou para um armário de chão. Na guerra que rolava, as baratas dobraram de número ficando seis nos veículos e seis voando. Já as joaninhas diminuíram pela metade.
No fundo da geladeira havia uma grade que cobria quase toda a parede deixando um espaço estreito entre o ferro e o fundo do prédio e no meio da parede havia uma entrada.
– Temos que descer com cuidado. – me alertou o Power.
– Eu sei.
Começamos a planar e descer entre o ferro eletrificado e a parede quando um ímã de M&M's vermelho apareceu no topo da geladeira.
– Hei! – quando nos viramos pra ver ela lançou uma bola de... fogo!



Eu tentei defender com o sabre, mas a bola pegou no meu braço que começou a pegar fogo. Com a outra mão eu lancei minha propulsão, mas o ímã desviou e o poder bateu na tampa de um liquidificador marrom que voou e caiu em algo metálico lá em cima derrubando colheres pequenas de alumínio. Pra piorar o vermelhinho incendiou os objetos que caía.
– Desce!
Nós começamos a cair e quando estava perto da entrada o Ranger meteu o machado na parede se prendendo na hora certa entrando automaticamente no buraco. Como eu não tinha nada pra fazer essa engenhosidade eu me segurei na borda do buraco mesmo, o que me custou um ombro deslocado devido a uma colherinha incandescente. Mas consegui pular pra dentro apagando o último vestígio de fogo que minha roupa ainda não tinha apagado.
Eu caí em uma grade branca dentro da geladeira.
– Entramos. – disse o Mestre Yoda ao recolocar meu ombro no lugar.
– Os ursos devem estar lá em cima.
Começamos a subir quando de repente eu recebi uma garrafada de pimenta que me jogou pra fora do buraco bem na grade que descarregou minha roupa devido a sua alta voltagem. Pelo menos ela me protegeu da eletricidade. Eu comecei a cair com a garrafinha que parecia extragrande bem em cima de mim, quando descobri que na parte superior do meu pulso havia uma corda que disparei no buraco me prendendo escapando por pouco da garrafa que se espatifou no chão.
         Voltei para dentro da geladeira onde o Ranger soltava um raio que parou num bastão de catchup congelado de uma salsicha grande com braços e pernas. Provavelmente foi ela que arremessou a garrafa contra mim.

Ele segurou o bastão com uma mão e com a outra lançou uma bola de mostarda congelada. Eu ativei minha espada e rebati derrubando-o. O Ranger, então, aproveitou para puxar magneticamente seu machado que caiu no nível inferior e disparar contra a salsicha que defendeu todos os seus tiros com seu bastão.
– Talvez espada funcione.
Parti pra cima dele com meu sabre verde, mas ele era muito bom e rápido: rapidamente ele me deu uma rasteira com seu cajado e me chutou para o fim da grade superior, contudo consegui me segurar na de baixo.
De lá eu podia ver o início da luta entre o Power Ranger verde e a salsicha vermelha. Aparentando ter grandes habilidades com o machado, o Ranger puxou o bastão de Perdigão, socou-lhe, deu-lhe uma machadada na cara com a parte de trás, chutou o bastão longe e tentou golpes infrutíferos até que a linguiça segurou seu braço e lhe derrubou com poucas sequências de golpes.
Ele foi até seu báculo enquanto eu subi no pote de margarina e de lá pulei pro primeiro nível. Nos posicionamos e então recomeçamos a luta que não durou sessenta segundos, pois ele já havia acertado meu tórax, meu sabre, girado para rebater o raio do Power Ranger e nos derrubado com um chute em mim e uma bola de barbecue congelado nele; tudo em uma sequência inacreditavelmente rápida.
Pra nossa sorte Taurus chegou para nos ajudar.
– Mas o que é isso?
– Algo que espero que você dê conta. – disse indo para minha espada e olhando um lugar pra subir até o congelador.
Taurus e a salsicha gigante começaram a lutar e ao contrário do que esperávamos Taurus também foi desarmado e derrubado facilmente.
– Isso não tá ficando nada bom. – comentou Ranger.
– Temos que atacá-lo juntos. – disse.
– Não! – Taurus foi taxativo. – Você vai atrás da pedra e nós cuidamos dele.
– Ele é muito forte e não vai me deixar subir.
– Distraímos ele, agora vá. – falou a azeitona mecânica se pondo entre ele e eu.
Taurus e Ranger o cercaram enquanto eu ia pra porta e subir por seus andaimes. Enquanto eu ia subindo pelo cadafalso dos ovos os dois lutavam inutilmente contra Perdigão que, mais uma vez mostrando muita habilidade, desarmou o Ranger e com uma mão o jogou no precipício. Taurus teve que pular para pegar seu braço e jogá-lo no andar inferior. Foi o que bastou para ele disparar contra o andar dos ovos que caiu comigo dentro. Taurus partiu pra cima dele de novo no momento que Wolverine e Mulher-Gato chegaram: ele no andar de grade e ela no que eu caí.
– Você está bem? – perguntou o mutante quando ele encontrou o verdinho.
– Ele é muito forte e ágil.
– Estamos aqui pra isso.
– Você está bem? – perguntou Mulher-Gato me estendendo a mão.
– Sim.
– Que deus de nada você é.
– Pode me ajudar a chegar ao congelador ou ficar me criticando. O que vai fazer?
– Tudo bem. – ela jogou seu chicote na porta do compartimento e entramos deixando os outros lutando lá embaixo.



O lugar era mais gelado do que eu imaginava. Meus ossos tremeram assim que eu pisei no gelo que cobria todo o ambiente. Eu liguei meu sabre, mas parecia que ele nem produzia calor.
O lugar estava vazio.
– Você está com o frasco de Méfora?
– Não funciona com baixas temperaturas.
“Isso é uma ilusão feita por uma divindade. Mandarei um poder para desfazer o encantamento.” Disse Danilo.
Eu não havia entendido como ele ia fazer aquilo até um raio cósmico atingir o lugar cinco segundos depois fazendo a geladeira estremecer.
“Como você fez isso? Você não tinha esse poder!”
“Pedi que fizessem uma armadura pra mim, porém energizada. Uma armadura digna de um deus.”
No lugar do deserto surgiram duas cubas de gelo, uma em cada lado, um pequeno aquário com um peixe preto e branco dentro; um ímã de baiana caída (provavelmente era ela que fazia a ilusão), uma boneca de porcelana vestida com um casaco de pele branca e um capoeirista de enfeite. Todos eles estavam em volta do aquário e bem na nossa frente, dois ímãs bidimensionais com lança-chamas.
Os dois dispararam ao mesmo tempo. Enquanto eu me abaixava, a felina pulava pra trás de um deles para lhe cravar as unhas na cabeça, já que eles usavam um botijão nas costas. Quando eu levantei cortei a arma com o sabre, mas o desgraçado puxou magneticamente minha espada e me empurrou da mesma forma contra a grande porta do compartimento. Quando a Mulher-Gato pulou em cima dele, ele virou e cravou o sabre na barriga dela que caiu inerte.
– NÃO! – eu nem acreditei que dei aquele grito.
– Acho muito audacioso, vocês terem entrado aqui e me atacarem, mas saiba que isso não ficará impune. – era o capoeirista que falava, mas eu entendi que era o peixe que controlava sua boca.
– Seus ursos roubaram uma pedra das pelúcias no quarto de lá da frente. Eu vim levá-la de volta.
– Você não parece uma pelúcia nem está vendo urso algum aqui, a menos que eu esteja cego.
“Mazda, eu vou religar sua roupa e no lugar de propulsão uma de suas mãos vai soltar fogo.”
– Eles foram rastreados até aqui. Há rastros por toda a casa que acaba aqui e você não pode desmentir isso.
– Eu não vejo rastro algum. Vocês veem algum rastro?
– Não. – responderam todos, inclusive o capoeirista que havia perguntado.
– Viu?
– Não me importa o que você ou seus subordinados digam. Eu vou encontrar seus ursos e a pedra nem que pra isso eu tenha que passar por todos vocês.
– E como espera fazer isso?
A resposta foi uma pequena descarga que chegou até o ímã que me prendia, controlando meu traje, na grande porta. Ele se desmagnetizou e ao descer eu soltei uma bola de fogo e uma propulsão que o jogou perto do aquário.
– Tire-o daqui! – gritou o capoeirista indo em direção ao ímã incandescente enquanto a boneca vinha em minha direção dando cambalhotas. Quando ela chegou perto demais eu a lancei contra a parede com uma rajada de ar. Ela caiu e quebrou a cabeça.
A baiana fez cubos de gelo irem à minha direção. Eu peguei o sabre de volta e fui cortando um a um até que o botijãozinho nas costas do ímã explodiu matando o capoeirista e derrubando mais uma vez a maga.
Eu me aproximei dela e cortei sua cabeça.
– Você tem uma chance de me dizer onde a pedra está. – falei em frente ao aquário rachado.
– Ela é a nossa única chance de sobrevivência. – disse a cabeça solta da baiana que, como eu entendi, era controlada pelo peixe.
– E o que acha que vai acontecer com você se não me entregar ela.
– Temos que entregá-la ao Escorpião Rei no Banheiro, para que ele nos proteja das baratas.
– Conversa! Elas já estão aqui e não há escorpião algum no banheiro.
– Esta não é sua casa Mazda.
– Como sabe meu nome?
– Você e Danilo são faces diferentes de uma mesma moeda. Eu sei. Eu vi quando ele chegou. Ele era um garotinho perdido que tinha os poderes de forças opostas: dos morcegos da Cama que faz fronteira com o Guarda-Roupa e dos peixes da Cama que faz fronteira com a Janela. Mas ele deixou que a luz central fosse acesa pelos bonecos destruindo as sombras dos morcegos e o mar dos peixes e agora ele é o deus deles.
“E eu antigo líder dos aquáticos, fui ressuscitado pela Ialorixá e o Hellman que está se divertindo muito com seus amigos lá embaixo.”
Ignorei o comentário.
– E aqui estou eu; tentando proteger meu mais novo país de invasores asquerosos que parecem ter descoberto nossos planos. E de você, é claro.  
– Eu soube que vocês têm problemas maiores e verdes pra lidar.
– É. Ele é um problema, mas um problema bem mais esporádico do que as baratas que podem destruir meu reino, se fortalecerem e derrubar os outros reis.
– Se nós destruirmos o Demônio Verde…
– Não fale como se não soubesse seu verdadeiro nome e propósito! Esta não é uma dimensão ilusória, Mazda, e sim uma prisão à moda marciana. Você está preso em sua própria cabeça. E nós somos, como eu poderia chamar, a “mobília”.
– Como sabe de tudo isso?
– Quando se morre se viaja por mundos nunca antes vistos. Mas quando se morre duas vezes você entende que propósito e destino são tão diferentes quanto água e vinho.
E falando em água, a do aquário dele parecia congelar já que o recipiente que mantinha a água na temperatura ambiente estava rachado.
– Propósito é aquilo que te move para um destino. E destino é o que te tira o propósito, então você para e espera que movam você.
– E qual é o seu propósito?
– Inicialmente, ser o maior bruxo que meus antepassados jamais imaginaram ser. Mas você me tirou um propósito duas vezes. Meu destino, Mazda, não é ser morto pelo mesmo homem quantas vezes sua estupidez deixar. Não foi pra isso que eu nasci. E é por isso que estou arriscando minha vida esperando que Hellman lá embaixo acabe com seus companheiros e venha terminar com você, pois eu não posso permitir que você me destrua mais uma vez nem destrua meu reino!
– Não vai me dizer onde está a pedra não é?
– Não mesmo.
– Sabe que isso vai custar sua vida?
– Já to acostumado.
Eu levantei meu sabre no mesmo momento que a porta do congelador foi aberta.
– Dessa vez você teve escolha. – eu desci meu sabre à parede rachada do aquário quando uma mão metálica me parou.
– Não faça isso.
         – Quem é você? – ele parecia ser feito de fibras de aço.

– Eu sou o Homem de Açolan. Eu vi o sinal atingir a geladeira e soube que minha sina havia começado. Meu propósito é seguir você e ajudá-lo a completar o seu destino.
– Que seria?
– Encontrar as três Pedras da Luz.
– Três?
– Sim. Elas representam as três fases do universo: início, meio, fim; e são elas que irão pôr equilíbrio a casa e… – ele fez uma pausa para poder lançar um raio de calor dos olhos na rachadura fechando-a e aquecendo novamente o aquário quase congelado. – destruir o Demônio Verde.
Eu ia dizer que aquilo não adiantaria, mas o peixe me cortou:
– Isso seria uma boa ideia. – a esponja de aço olhou para a cabeça da baiana, um pouco surpreso.
– É o peixe que está falando. – expliquei já com o braço livre. – E por que você acha que vai ser uma boa ideia?
– Aquelas pedras são as únicas coisas que podem destruí-lo.
– E você quer barganhá-la por proteção? Há pouco você ia arriscar sua vida e não me daria a pedra. O que fez você mudar de ideia tão repentinamente?
– Coloque a cabeça perto do seu ouvido. Desculpe-me Açolan, mas é confidencial.
– Tudo bem. – ele se afastou e eu peguei a cabeça da baiana e coloquei próxima a minha.
– O Escorpião Rei tem um oráculo. Ele sabe que um ataque dos sáurios ou dos bonecos em busca da pedra será uma traição minha, mas se você for com ele, ele não fará associações.
– Por que quer me ajudar agora?
– Não é a você que eu quero ajudar, Mazda. É a Danilo que não merece ter um encosto como você no corpo dele.
– Agora entendo. Você era um bruxo e Danilo te usou…
– Não, Mazda! Você me usou. E foi você que deixou Esforiöul me matar destruindo minha vassoura em pleno ar. Sua morte não faria Danilo desistir de sair daqui, mas vejo que ainda há chance pra você se redimir ao encontrar as três pedras.
– Eu só vim atrás de uma.
– E acha que quando sair seus poderes vão funcionar contra ele.
– Usarei minha escuridão.
– E ele usará a pedra dele novamente. Assim como os anéis dos cavaleiros dos Sete Raios tem um cristal no meio que é a fraqueza deles, a pedra vermelha de Esforiöul tem três outras que é sua fraqueza. Deve usá-las contra ele.
– O que é aquela pedra que me aprisionou?
– O que torna ele tão forte a ponto de estar entre os nove melhores caçadores de recompensas do universo.
– Como sabe tanto sobre ele?
– Sabe aquela história de que quando se mata alguém, essa pessoa aparece em seus sonhos?
– Eu não confio em você.
– Eu também não confiaria, afinal eu tentei matá-lo e agora eu estou lhe dizendo como fugir daqui. Então eu me pergunto: qual é o meu destino, e qual é o meu propósito? Sempre morrer por sua causa? Sempre tentar te ajudar? Como você disse: eu tive escolha.

Eu me dirigi para a grande porta do congelador onde o Homem de Açolan estava me esperando. Ele vestia uma capa amarela ridícula.
– Onde estão meus amigos? – eu devia tá mal pra perguntar sobre os bonecos daquela maneira.
– Eu sinto muito. Eles estão mortos.
Quando ele me levou para a grade superior eu vi o estrago que salsichão tinha feito: o Ranger foi jogado na grade no lado de fora da geladeira; Taurus estava no fundo de uma garrafa de vidro e Wolverine estava atravessado pelo bastão da salsicha.
– Onde ele está? O que você fez com ele?
– O coloquei num pote de maionese. Era o ponto fraco dele.
– É verdade. Todos têm um ponto fraco.
– Como?
– Nada. – eu havia falado mais pra mim do que pra ele.

Ao sairmos da geladeira estávamos no chão onde baratas, partes de baratas, joaninhas e partes de joaninhas estavam jogadas.
– Lanux! Que bom ver você! – falou um rato branco.
– Igualmente Mike. A propósito, preciso que você tome conta da Cozinha por uns tempos. Eu tenho que fazer uma viagem e é necessário que fique alguém aqui de vigília.
– Não acho que seja uma boa ideia. – disse uma lagartixa com o rabo cortado que crescia mais rápido que o normal. – Michael tem muitos inimigos da raça dele que poderiam significar uma grande ameaça a esta nação. Uma ameaça maior que os blatídeos que mal podemos debelar.
– Eu estou indo combater um mal muito maior: o Demônio Verde.
– E como espera fazer isso? – perguntou a lagartixa com o rabo já completo.
– Nos anos em que eu vivi na Gaveta eu aprendi sobre ele. Ele nos domina desde os princípios, mas ele tem uma fraqueza: três pedras que juntas podem destruí-lo.
– Isso é lenda, e mesmo que essas pedras existissem quem seria capaz de enfrentá-lo?
– Eu seria. – disse. – Se eu conseguir reunir as três pedras eu posso derrotá-lo.
– E quem é você?
– Eu me chamo Mazda: deus dos bonecos do quarto fronteiriço. Eu sou o único que pode matar o Demônio Verde.
– E eu acredito nele. Vocês não viram o sinal que atingiu a geladeira? – ele devia estar falando do poder que Danilo mandou. – Ele pode nos salvar.
Os outros dois se olharam antes da lagartixa dizer:
– Então espero que você saiba que vocês têm apenas uma semana até a volta da Sombra.
 – Eu sei.
Com isso voamos até a copa.
– Quem é a Sombra? – perguntei.
– Uma entidade negra que desfaz e refaz todas as coisas na Casa gerando o caos. Ela é enviada pelo Demônio Verde a cada ciclo de sete anos.
“Saiba Mazda que sete anos são nossos sete dias e que a semana que vocês têm dura uma hora.”
Ao ouvir Danilo dizer isso eu olhei automaticamente pro grande relógio na sala que marcava sete horas.
“Droga!”
– Pra onde vamos? – perguntou a esponja.
– Pro banheiro.
– Vo-você disse Banheiro?
– Sim, por quê?
– Nós nunca vamos lá. É área restrita. – me respondeu parando.
– Se quer derrotar o Demônio Verde, tem que fazer alguns sacrifícios. Agora vamos.

Seguimos pela copa até a porta fechada do banheiro.
– Vamos entrar por cima.
Subimos até umas frestas perto do teto. Não sei como, mas o ar estava um pouco rarefeito ali em cima.
         Dentro do banheiro vimos um ser meio homem meio escorpião cercado por um bolo preto que parecia cabelo vivo e vários sabonetes animados de várias cores. Eram como a salsicha, mas a diferença era que eles eram sabonetes.






De frente para o grupo estavam os dois ursos descritos pelas pelúcias. Entre eles estava uma pedra cilíndrica amarela meio transparente como um cristal.


O escorpião estava falando:

– O general Tony Young irá levar seus homens até a Cozinha e fará a proteção.

– São só eles? – perguntou o micro-urso de sunga e toca vermelha.
– Eles são mais fortes do que imaginam. – assegurou o bolo de cabelo.
– Agora se me derem licença. – disse o rei dispensando-os.
 O bolo, os sabonetes e os ursos desceram literalmente pelo ralo e saíram na base da pia de mármore completamente diferente da que havia na minha casa. Quando o grupo passou pela porta uma barata branca saiu de trás de um pote de creme.
– É uma pedra como essa só que laranja. – disse o rei pegando o objeto.
– Após isso eu estarei livre?
– Você e sua amada artrópode.
A barata voou em direção às frestas nos fazendo se esconder mais acima.
– Vá atrás dele que eu pego a outra pedra. – ordenei.
– Ele é muito forte. Precisamos enfrentá-lo juntos.
– Eu me garanto.
– Não insista. Eu vou com você.
– E quanto a ele?
– Ele terá que voltar não é?
Pra prevenir eu lancei um inseto eletrônico quase microscópico do meu relógio que grudou na pata do bichano rastreando-o. Em seguida entramos e abordamos o Escorpião-Rei. Eu parei na sua frente com o sabre ligado.
– A pedra ou sua vida.
– Quem é você? Um boneco?
– Melhor.
Mais rápido que um piscar de olhos, Açolan foi em direção a mão que segurava a pedra, mas, mais rápido que ele, o escorpião deu uma patada na cara dele com uma de suas pinças jogando-o em cima da lata de lixo no outro lado do cômodo. Com a outra pinça ele segurou meu pescoço quase separando minha cabeça do corpo, contudo eu cortei seu braço fora. Com a pinça inferior ele me deu uma patada me jogando contra o grande espelho rachando uma parte dele e de minhas costelas. O sabre novamente caiu e foi pego por uma garra que nasceu no lugar da que eu tinha cortado.
“Devia imaginar”
Com as duas garras da direita ele me atacou, porém conseguir desviar e lhe soltar um impulso e uma bola de fogo. O impulso o empurrou, mas o fogo nem se fixou. Com a cauda ele fez uma investida. Eu pulei juntei o impulso com fogo e soltei uma bola de plasma que o derrubou lá embaixo deixando o sabre.
Do topo da pia eu pude observar Açolan lançar um raio de fogo dos olhos cortando a pata que segurava a pedra, nessa hora eu pulei para pegá-la enquanto o rei se virava para subir na lata de lixo e enfrentar a lã de aço, no entanto a porta da gaveta embaixo da pia se abriu e sabonetes começaram a disparar impulsos brancos que saiam de cotonetes. Um deles me atingiu jogando-me na parede.
Na hora que o homo-aracnídeo chegou ao topo da lata Açolan voou e foi em direção a pedra, mas também foi derrubado. Eu comecei a revidar com meus impulsos e bolas de fogo, mas não demorei a perceber que nenhum dos dois surtia efeito, pois eles eram fortes e imunes ao fogo, então, a opção que me restou foi juntar os dois poderes e criar explosões de plasma.
Eu mal vi quando Açolan me pegou e levou para trás da latrina. Quando dei por mim uma tampa estava se espatifando na porcelana da privada.
– Matem-os!! – gritou o rei.
– Soltem os dragões! – disse um sabonete lilás.
– Ele disse dragão?
– Açolan, temos que pegar aquela pedra, mas você terá que fazer isso sozinho.
– Ele é muito mais rápido que eu.
– Eles também são mais fortes do que eu, e tenho que distraí-los para você poder fazer isso.
– Tudo bem então. Trabalho em equipe. – seguramos as nossas mãos e então fomos para nossa tarefa.
Açolan voou em alta velocidade, mas não em direção do Escorpião rei e sim ao seu redor criando um redemoinho que começou a levantá-lo do chão.
       Eu mirei nas dobradiças de uma das portas e as destruí fazendo a porta cair em cima de dois lagartos de asas e alguns sabonetes. O dragão que sobrou deu dois passos e cuspiu fogo; eu voei e lancei-lhe plasma, mas o demoniozinho rebateu com a cauda: o poder me jogou contra a parede e eu caí em cima da tampa da privada.


Ao olhar para o lado eu vi Aço pegar a pedra, mas ser pego pelo rabo do rei em pleno ar. Os dois caíram e a pedra foi parar bem embaixo da latrina. Nessa hora eu vi uma bocarra aberta pra mim; desviei bem na hora de puxar a espada e lhe cortar a cabeça. Em seguida pulei para o chão a fim de pegar a pedra, contudo fui pego no ar por um dragão que saiu de debaixo da porta. Ele derrubou minha espada e mordeu meu peito rasgando a roupa de linho de aço:
– Aah!
Soltei um impulso na cabeça dele deixando-o tonto, depois soltei plasma jogando ele contra a pia. Mal o desgraçado caiu e outro veio em minha direção. Eu subi e fui até o lustre que ficava perto do boxe e nele soltei outra bola de plasma que caiu bem em cima do lagarto voador espatifando os dois no chão.
Lá embaixo a luta entre o rei e o herói continuava: o escorpião prendeu a mão de Aço que segurava a pedra, com sua pinça, mas a lã socou-a fazendo com que ela soltasse seu braço então deu com a pedra na cabeça do rei. Em seguida ele pegou a cauda atravessada em seu corpo, retirou-a de lá e girou a alteza jogando-o dentro do armário embaixo da pia.
– Mazda! Peguei.
– Detenham-no! – disse um sabonete branco alertando a esponja.
Açolan deu um assopro neles e voou para as frestas que entramos. Eu fui fazer o mesmo, mas fui puxado por uma teia. Ela me jogou contra o boxe quebrando-o. Eu caí na torneira meio inconsciente.
– Mazda!
Ao olhar para trás eu vi que eram três híbridos de homens e aranhas, porém menores que o monarca. Eu soltei bolas de plasma, porém eles desviavam com facilidade até que um foi atingido por Aço que o esmagou na parede como um inseto.
Ele estava sem capa e sem a pedra.
Um dos aranhas tentou prendê-lo com sua teia, todavia ele a partiu e puxou o cara por ela, o rodou e jogou ele contra seu outro comparsa. Ambos caíram no outro lado.
– Você está bem?
– Deveria ter ido. Onde está a pedra?
– Nos esperando. – ele me estendeu a mão e saímos dali.
Ao chegarmos à outra parte, caças de barbeadores estavam levantando voo. Pensando rápido meu parceiro disparou uma onda de calor pelos olhos e em seguida me pediu:
– Dispare contra o teto.
Atendendo ao pedido eu atirei e parte do teto caiu sobre a pia destruindo-os. Sem mais delongas, saímos do banheiro, aliviados, afinal tínhamos conseguido a primeira pedra e eu tinha o rastro da barata que iria conseguir a segunda.

Passamos pelas frestas em cima da porta que separava a casa da escada que levava à laje onde Açolan tinha deixado à amarelinha.
– Onde ele está agora? – perguntou Aço.
– No tonel verde.
– Na torre dos sáurios? Impossível.
– Quem são esses sáurios?
– As lagartixas que usam espadas como a sua. Eles escravizam baratas e são inimigos mortais dos blatídeos, baratas que voam e usam espadas vermelhas.
– Entendo.
– Mas vamos lá ver o quê que tá rolando.
         Nós subimos as escadas voando e chegamos à laje onde definitivamente o ar estava rarefeito. Não bastasse essa dificuldade, umas cinco libélulas estavam estacionadas nas cordas e me olharam esfomeadas no mesmo ínterim que três caça barbeadores surgiram do grande abismo.

– Corre! – gritou Aço disparando na minha frente com a pedra.
Eu tentei acompanhá-lo, mas uma libélula já estava em cima de mim, por sorte um barbeador azul acertou nela o tiro que era para mim. Deu pra respirar um pouco com dificuldade até um barbeador amarelo acertar meu ombro me girando para outro inseto me atingir em cheio. Eu bati na divisória entre a parte coberta e descoberta da laje. Fui arrastado até a parte de dentro caindo da divisória e puxando automaticamente o sabre e lhe cortando a cabeça.
Um míssil destruiu um pedaço da divisória bem ao meu lado. Eu corri para o tonel verde onde Aço já devia ter entrado. A explosão afastou as libélulas, contudo eu ainda corria risco até eu entrar pela porta de vidro do grande prédio e ser recepcionado por pegadores com lascas afiadas de invólucros de canetas transparentes tipo Bic.
Eram três: um preto de plástico de sabre verde, um pequeno branco de plástico de sabre rosa e um de madeira bem novo (ou nova) de sabre amarelo.
– Quem é você? – perguntou a de madeira.
– Eu me chamo Mazda. Vim alertá-los de uma barata branca que entrou nesse prédio.
– Impossível. – disse o preto.
– Eu coloquei um rastreador nela e ele indica que a barata está aqui. Olhem. – mostrei para eles o meu celular com a imagem do GPS, ainda de joelhos, cansado e ferido.
– É verdade. – confirmou o de sabre verde como o meu.
– Avisem aos sáurios e aos dúcteis sobre a possível invasão. – ordenou o pegador branco. – E você vem comigo.
Segui o pegador anão dando uma olhadela pro lado de fora. Eu não via os barbeadores caças.

Eu o segui até um andar onde tinha um quarto de hotel.
– É prática dos sáurios e dos dúcteis hospedar todo aquele viajante, principalmente se ele estiver ferido e/ou nos ajudar em algo e você fez os dois. Tome um banho, descanse e coma alguma coisa. Eu venho te interrogar em uma hora.
“Uma hora!”
– Eu não tenho todo esse tempo. O que eu vim fazer foi…
“A hora que ele está te pedindo não deve levar nem cinco minutos. Faça o que ele diz. Você ainda tem meia hora e precisa descansar.”
Talvez Danilo estivesse certo.
– Pensando bem, acho que você tem razão.
– Ótimo. Venho em uma hora então.
Fiz o que meu anfitrião me sugeriu: tomei um banho, troquei de roupa (aliás, continuei com tudo exceto a camisa que estava um lixo e a jaqueta que não ia me proteger muito mais pegando outras duas no armário que lembravam as de correr de meu irmão, ambas cinzas), dispensei o disfarce, mas fiquei com os óculos que me dava uma visão inteira do prédio como um sonar. Eu não vi nem Aço nem a barata. Bebi bastante água e comi algumas gororobas que estavam na geladeira.

Alguns minutos depois (uma hora para eles) uma lagartixa albina veio me buscar.
– Pra onde você está me levando?
– Pra cúpula.
No topo do tonel verde havia um prédio de vidro circular protegido por um campo de força verde que parecia um balde. Eu fui levado até o centro de uma sala onde haviam sáurios e dúcteis (pegadores) de plástico e madeira de cores e tamanhos diferentes em semicírculo onde eu fiquei no meio.
– Qual é o seu nome? – perguntou um sáurio.
– Eu me chamo Mazda. Eu vim à procura de uma pedra cilíndrica meio transparente e laranja.
         – Está falando daquela pedra? – perguntou outro sáurio apontando para uma coluna de energia.

– Sim.
– E para o quê você a quer? – perguntou um dúctil de madeira velha.
– Junto com outras duas elas podem destruir o Demônio Verde. – fez-se silêncio. – Vocês não conhecem o Demônio Verde?
– Sim, conhecemos. – respondeu a primeira lagartixa. – ele manda sua força negra encobrir a luz do sol fazendo chover às vezes até aqui dentro. Mas a questão é que sem essa pedra, esse prédio não funciona. O ar ficará rarefeito e a temperatura abaixará e aumentará descontroladamente.
– Ela é a nossa fonte de sobrevivência. – falou um pegador verde igual aos dois que foram mortos no bebedouro. – Sem ela todos nós morremos.
– Sem ela eu não posso derrotar o Demônio Verde.
– E o que o faz achar que pode fazer isso? – perguntou um dúctil anão vermelho.
– Eu não sou daqui. Eu venho de outra dimensão e lá eu posso lutar contra o Demônio Verde de igual para igual, mas só com as três pedras eu poderei destruí-lo.
– Está dizendo que veio do mesmo reino dos sonhos que o Demônio Verde? – perguntou o vermelho.
– Sim. Teoricamente sim.
– E como veio parar aqui? – foi uma lagartixa albina que me perguntou.
– Ele conseguiu me aprisionar aqui.
– E vai usar a pedra para poder voltar pro seu mundo e destruir o Demônio? – perguntou a primeira lagartixa.
– O plano é esse.
Fez-se novamente silencio, mas parecia que eles estavam debatendo a questão entre eles telepaticamente. Depois de alguns minutos o primeiro pegador a falar se pronunciou:
– Podemos viver sem ela por três ou quatro dias, mas não mais que isso.
– Eu acabarei com ele antes disso. Pode apostar.
– Se quer as três pedras deve ir até o quarto exterior…
– Eu já tenho essa pedra. – interrompi.
– Para encontra a pedra vermelha – continuou o dúctil anão azul. – você deve achar o Viajante.
– Quem é esse Viajante?
– Um ser que viaja entre mundos como este roubando os artefatos mais poderosos e adquirindo seu poder. Ele passou por aqui anos atrás e levou a pedra vermelha que também estava conosco. – explicou um sáurio que até o momento estava calado.
– E onde ele está agora?
– Não sabemos, mas quando ele fugiu, ele usou uma pequena torre dourada para viajar. – disse a segunda lagartixa.
“Eu já vi esse objeto em algum lugar… e foi…”
– Na sala. No Rack Principal.
– Eu sei onde fica.
Nessa hora a única lagartixa que não tinha se pronunciado se levantou e foi até a coluna pegar a pedra. Automaticamente o campo de força desapareceu.
– Energia principal desabilitada. Energia alternativa sendo redirecionada. – disse uma voz de computador.
– Aqui está. – disse a lagartixa perdendo sua cor.
Apesar de eu estar usando luvas eu não confiei muito em segurar aquilo nas mãos. Não obstante, mal eu peguei a dita cuja e uma ave “pequena” entrou pelo teto de vidro destruindo-o e fazendo todos os dúcteis e sáurios presentes puxarem seus sabres, contudo o pássaro deu um pio e estilhaçou as paredes distraindo os guerreiros e a mim. De cima do periquito a barata branca voou em minha direção pegando a pedra e saindo do prédio, mas eu me segurei a ela ficando suspenso no ar. O inseto então me deu um murro com uma de suas patas do meio. Eu soltei uma mão e com ela soltei um impulso na cara dele que largou a pedra comigo junto.
Enquanto eu caía Aço voava até a barata albina e lhe socava. Tudo parecia bem até as três naves recomeçarem a me caçar. Voei de volta para a torre onde pegadores prepararam armas para detê-los.
As primeiras lagartixas me levaram até uma sala num andar que tinha um túnel vertical no centro.
– Desça por aí e você chegará direto na sala. – disse sob um som de explosão no terraço do tonel.
– Obrigado. – disse e antes de descer pedi:  Protejam aquela esponja de aço. Ele está comigo.
– Pode deixar. – falou a outra lagartixa.

Eu pulei e desci por um tempo até bater em uma base de plástico. Saía luz por debaixo dela e quando eu olhei estava em cima do ventilador de teto da sala.
“Perfeito!”
Eu planei até a entrada do rack da televisão que parecia estar vazio. Entrei sem muita cerimônia e fui até a sala onde fui interrogado por Natasha e pelo Cérebro que ainda estava lá, aparentemente desacordado.
– Olá Cérebro! Pode guardar isso pra mim? – eu coloquei a pedra em um canto escondido e escuro depois me virei para a pequena torre que parecia ser a base de uma estatueta.
“Cuidado!” a voz não era estranhamente familiar como a de Danilo, mas era arrepiante como a do… Cérebro.
     Eu me abaixei rápido escapando de uma fiosada, mas não escapei de outra, porém essa me pegou de lado como uma chicotada. Eu fui arremessado contra a parede e tive que esquivar novamente do ataque de um cabo macho que fez um buraco na parede de madeira.
          – Ora, ora – disse meu amigo Octopus com quatro cabos presos às suas costas, dois machos e dois fêmeas. – se não nos encontramos de novo.

 
     
– O que faz aqui?
– Bem, você não se contentou em destruir meu laboratório, mas como também me dedurou para o peixe lá em cima. Eu tive que mexer meus… cabinhos. Não poderia ser preso nem pegar pena de morte.
– Não fui eu que destruí seu laboratório. Mas se tentar me enfrentar vai sentir o mesmo que suas criaturas.
– Ui! Que medo!
Pela gaiatice dele eu puxei meu sabre rapidamente e cortei o cabo preso na parede e larguei um poder de propulsão nele que o afastou.
“Cérebro, eu preciso que ligue a torre e me mande para o mesmo mundo que o viajante.” Pedi ao laranja.
“Não posso encontrá-lo, pois esse projeto não foi aprovado por falhas, inclusive o viajante…”
Pita lançou a cadeira branca contra mim e eu a cortei ao meio soltando em seguida outra propulsão que entrou pelo cabo fêmea e saiu pelo macho em cima me derrubando. Pra variar, o sabre caiu junto.
“Mas que droga!”
Juntei as duas mãos para lançar o plasma, mas minha perna foi puxada pela fêmea embaixo do cabo cortado me deixando de cabeça pra baixo.
– Adeus, humano.
Pita puxou o único cabo macho (de ponta) que tinha e mirou meu peito desprotegido. Era o fim.
O doutor enfiou seu cabo com toda força no meu peito fazendo-o quebrar em vários pedaços. Estarrecido, eu não pude imaginar como aquilo aconteceu até eu lembrar o que aconteceu quando o Escorpião Rei cravou sua cauda no peito de Aço: ele não teve nada. E por quê? Porque ele entrou em contato com a pedra amarela, assim como eu entrei em contato com a laranja tornando assim meu peito de aço como o dele.
– Não é possível!
– É sim. – eu juntei as mãos e lancei o plasma no enfeite que quebrou.
Antes mesmo de eu cair no chão eu recebi um poder amarelo que me jogou no vidro do outro lado da parte da sala onde estava a torre dourada.
         – Quem é você? – perguntou o boneco dourado e careca. Provavelmente o Viajante.
– Você é o Viajante, não é? Eu preciso de uma coisa que você roubou.
– E por que acha que eu daria a um estranho? – perguntou flutuando no ar.
Instintivamente eu olhei pra trás para o relógio que marcava dez pras oito.
– Porque com ela eu posso salvar esse mundo. – ele riu.
– Me chamou aqui para salvar o seu mundo? Ha Ha Ha Ha. Deveria matá-lo só por sua ousadia.
– Eu posso trocar a pedra que você tem pela que eu tenho. – não era eu que falava. Minhas cordas vocais e minha boca trabalharam em conjunto sem minha prévia autorização.
“Danilo?”
“Não fui eu, foi o cérebro.”
Ele havia penetrado na minha mente de maneira tão furtiva que eu nem percebi.
– Você tem outra pedra?
– Sim, mas ela não serve para meu propósito. Só a sua.
– Onde ela está?
– Aqui. – fui até o esconderijo da pedra por vontade própria e mostrei a ele. – Agora me mostre a sua.
De seu estomago, uma pedra vermelha saiu.
– Vamos trocá-las ao mesmo tempo. – disse minha boca.
         – Certo. – disse ele cada vez mais interessado pelo novo poder. A velha ambição cega.






Com nossas mãos direitas fomos passando as pedras para a esquerda do outro, mas quando elas estavam paralelas minha mão destra juntou a laranja com a vermelha, criei o plasma e disparei passando por elas com uma potência nunca vista. O menino dourado foi parar no fundo da sala destruindo tudo por onde passou inclusive a torre.
– Agora você tem duas delas e a terceira está a caminho. Agora vá.
– Por que me ajudou?
– Quando você desoxigenou seu cérebro eu vi o quanto você era fiel a um segredo, e ao saber dele eu soube quem você realmente é. Ao contrário do que você mesmo possa pensar, você não é mau.
– As pessoa são muito mais que definições de boas ou ruins.
– Mas algumas seguem o caminho errado. Não faça isso você também.
– Obrigado pelo conselho. – deixei o sermão desnecessário pra trás com o deboche e fui até o quarto me encontrando com Açolan no meio do caminho.

– Conseguimos! Aqui estão as três! – disse a esponja exultante.
– Juntem as pedras. Deixem que eu cuido dele. – disse Danilo olhando para a porta do quarto que era atravessada por um raio dourado.
As pedras agiam entre si como ímãs, então tínhamos que achar o lado que não repelia a outra pedra. Nesse ínterim Danilo criou um punho d’água e o jogou contra o Viajante, mas esse evaporou a água e lançou uma força invisível forte o suficiente para arremessar Danilo e parte do guarda-roupa contra a parede brocando-a.
– Eu te dou cobertura. – Aço partiu pra cima dele e o impacto dos dois causou uma explosão que estremeceu o prédio.
Entre socos violentos e um tic-tac que marcava oito horas Danilo pousou ao meu lado e fez as pedras girarem.
– Se se repelem como ímãs devem se atrair como tal.
Eu olhei furtivamente pro lado e vi a estatueta dando um chute em Aço que o fez atravessar o armário da frente até o fundo e pela porta aberta eu podia ver uma poderosa tormenta sacudir os móveis da sala.
– Bora Danilo!
– Me desculpe, mas esse corpo é meu. – e foi a última coisa que eu lembrei estando no controle de um corpo.
Eu desmaiei ouvindo um fraco “obrigado”, em seguida da mesma maneira que eu vi Danilo indo cobrar o aluguel na casa que sua mãe comprara um tempo atrás eu o vi aparecendo atrás de Esforiöul observando Diego que tentava se erguer.
– Ei! – ele se virou. – Esse é o máximo que você pode fazer?
O caçador puxou mentalmente sua espada e desferiu um golpe que passou pela poça de água que Danilo havia se formado.
– Agora é a minha vez. – ele empalou o marciano com uma espada de gelo amarela, vermelha e laranja que o feriu apesar da tentativa de ficar intangível.
Danilo retirou a pedra vermelha que nos aprisionou do marciano, depois retirou a espada deixando-o desabar aos seus pés.
– A partir de hoje você não vai matar mais ninguém.
Depois ele foi ver como Diego estava.
– Cara, você tá legal?
– Acho que sim. – respondeu meio cambaleante. – quando ele te sugou com aquela pedra eu achei que nunca mais o veria.
– Eu também.
– Pelo menos você aprendeu a lição não foi.
– Nunca fugi dela. – murmurou Danilo.
– Como conseguiu vencê-lo tão rápido?
– Tive uma ajuda bem especial. – falou mostrando o anel de três cores. – depois eu te conto. Agora temos que arrumar essa bagunça antes que Nêm nos mate.
– Ela já deve tá acostumada com sua casa sendo destruída toda hora. – disse fazendo os dois rirem.

Danilo fez o sangue do meu cérebro descer me apagando e depois arranjou um jeito de devolver as pedras. Aliás, ele sempre acha um jeito pra tudo. Deu um jeito de chegar lá antes de mim, deu um jeito de me fazer trabalhar pra ele e deu um jeito de tomar de volta a posse do nosso corpo, coisa que, creio, mais cedo ou mais tarde ele conseguiria. Pelo visto, da próxima vez terei que me livrar dele por completo. Só assim poderei usar todos os poderes que ele não sabe usar e me tornar superpoderoso como meu destino reserva.
– E então, o que vai fazer nesse fim de semana? – perguntou.
– Esse fim de semana eu vou ficar em casa e você?
 – Acho que eu vou pra casa de minha tia Seomara. To precisando dar um tempo fora de casa.










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