Capítulo XII: Os Anéis Do Poder - O Senhor da Liberdade - Parte 2
Passamos a noite na casa de Natty. A barreira era grande, mas
conseguimos ser bem alocados. Principalmente eu que dormir na cama da mãe dela
que ficou na casa da avó. Contudo, a própria, apesar do namorado também estar
na casa, dividiu a cama comigo. A desculpa foi que ela era a dona e deveria
ficar com a melhor cama e como eu era o líder, também.
Mas ninguém se enganou sobre o que iria acontecer. Natty era meio
súcubo, meio humana e eu era o completo oposto dela. Por mais que pensasse em
Maçã, por mais que quisesse respeitar Trago, a camisola transparente (sem nada
por baixo) dela e seu efeito sedutor próprio de sua meio-raça foram mais do que
suficientes parar tirar minha pureza. Cinco vezes seguidas.
Ao contrário do que acontece com o mortal que tem relações com um súcubo,
com Natty eu poderia perder minhas forças, mantê-las inalteradas ou aumentá-las
e foi exatamente isso que ocorreu comigo. Por isso no dia seguinte eu fui o
primeiro a acordar (não fui o primeiro a levantar, porque Natty estava me dando
um bom dia especial).
– Madrugou? – perguntou Barbie-Com-Defeito-De-Fábrica que estava
disfarçada com seu glamour novamente.
– Acordei disposto.
– Irônico. – fingi não ouvir.
– E você? Por que acordou tão cedo?
– Eu não durmo. Aproveitei pra baixar alguns mapas da internet das
igrejas dos Templários. De acordo com um diagrama que criei utilizando o
Mercado Modelo como uma das bases e, com a ajuda de Dente combinei com as rotas
de ataque deles achando...
– Uma cruz. – interrompi lembrando da explicação de um dos estudantes do
meu antigo colégio que já havia chegado àquela conclusão. – Muriel estava
usando os nerds do meu antigo colégio para tentar localizá-los.
– Pois bem, inicialmente achei que os pontos da cruz seriam onde eles
estariam, mas não batia.
– Até porque, o Mercado Modelo não é uma igreja.
– Mas a igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia é. Inclusive ela é
bem próxima do Mercado e óbvia.
– Mas não existem santos do ar, terra ou fogo.
– Não na cultura evangélica. Mas bem sabemos que a cidade é bem
sincrética. Com isso achei outros três templos, mas de religiões distintas,
inclusive perseguidas pelos próprios Templários, que formavam, junto com a
igreja de Conceição uma cruz.
– Mas se os outros templos são de religiões pagãs, como os Templários
colocariam base lá.
– Fachada?
– Não sei se tô totalmente convencido...
– Eu também não fiquei, então coloquei as duas cruzes no mapa e olhe o
que aconteceu... – ela me mostrou as duas cruzes em um único mapa. Elas se
cruzavam formando uma rosa dos ventos.
– Esse símbolo não é religioso.
– Não, mas sua aplicação sim. – como não entendi, ela explicou – A rosa
dos ventos indica a direção certa a ser tomada. O que mais os Templários querem
além de colocar todo mundo nos eixos. – disse sem se desculpar pelo trocadilho
fundamental para meu entendimento.
– Bom trabalho. – disse orgulhoso, apesar de não conseguir rir.
– Disponha. – disse me dando as plantas dos templos que ela descobrira.
– O do fogo será desnecessário, já que ele já foi derrotado. Temos que
atacar o da terra e ar.
– Qual atacaremos primeiro? – perguntou Papel que veio acompanhado de
Johnny.
– Poderemos atacar os dois ao mesmo tempo. – falou o primo dele.
– Não temos pessoal o suficiente.
– Braço, pelo que eu entendi do poder do anel deTrago, você pode
controlar não só a barreira da liberdade, mas todas as barreiras. Da cidade
inteira. – olhei pra Papel e esbocei o primeiro sorriso da semana.
– Será uma verdadeira guerra. – falou Barbie.
– Pra isso precisamos de um plano descente que nem o último. – falou
Johnny.
– Eu já tenho um em mente. Será bastante arriscado, mas pode funcionar.
O plano era até simples e foi posto em prática naquele dia mesmo. Reuni,
junto com Papel que era meu vice-líder, todos os líderes de todos os bairros, o
que incluía o filho de minha ex-professora.
– Trouxe vocês aqui, porque apesar de não parecer, vocês são os mais
autênticos representantes dos habitantes dessa cidade. – falei do alto da Praça
Municipal. – E como tal, moveremos nossos esforços e poderes para deter o maior
inimigo da cidade: os Templários.
– Por que eles são os inimigos da cidade? – me questionou um líder.
Preferi deixá-los com certa autonomia.
– Por que com sua política purificadora, eles têm feito atentados que
considero terroristas contra cidadãos dessa cidade por seus gostos ou práticas
que são de responsabilidade de cada um. – preferi não dizer que uma dessas
pessoas foi uma amiga cuja prática, que fazia por necessidade, era considerada
ofensiva à moral deles.
– E no que isso nos interfere? – questionou outro líder. – Jogo bola com
os amigos do colégio, videogame com os da rua e de noite fico com minha
namorada. Não acho que nada disso seja considerado imoral por outros.
– E se os amigos que você joga bola pela manhã não mais comparecerem ao
colégio por terem sido mortos devido à suas religiões consideradas ofensivas e
os do videogame por frequentarem prostíbulos do bairro e sua namorada por não
ter esperado até o casamento? De uma forma ou de outra, o que eles fazem vão
acabar nos afetando.
– Você fala como se fosse uma nova inquisição. – questionou outro líder
mais ao fundo.
– E é. Seus líderes são poderosos e seus seguidores bem armados. Eles já
explodiram um prostibulo na minha rua, além de vários outros ataques que
pipocam nos jornais.
– Eu não vejo jornal. – ouvi um comentando com o vice-líder. É… aquilo
ia ser difícil...
– E o que faz isso ser obrigação nossa? – perguntou o primeiro líder. –
Podemos proteger nossos amigos e namoradas.
“Não, não podem.” dessa vez quem falou (em telepatia) foi o filho de
minha professora, Mudinho. “Eu enfrentei um cara que usava o artefato de um dos
líderes dos Templários o que custou quase minha barreira toda.”
– Certamente sua barreira não deveria ser muito grande.
“Eu sou o líder da barreira de Brotas.” Todos se espantaram.
– Acreditem, eles são fortes, bem organizados e bem armados. – disse. –
vários bairros de vocês já sofreram o ataque deles e nem se deram conta. Não
podem simplesmente esperar que eles ajam para tentar se defender. Eles já estão
agindo.
– Se eles são tão bem armados e poderosos assim, um ataque direto seria
suicídio. Não somos a polícia, somos apenas... barreiras. – falou um mais
próximo.
– A polícia não vai nos ajudar. Sabemos que elas só interferem em casos
de extrema importância. E se estivermos organizados e agirmos de forma
coordenada, podemos destruí-los.
– Eu acho que estamos cutucando onça com vara curta. – falou um líder
que malmente deveria ter pouco mais que minha idade. – Se os ditos imorais por
eles estão sendo atacados, que eles mesmos se unam e façam alguma coisa. Não
vou procurar briga com um exército por que o brega de sua rua foi atacado e
você perdeu a diversão. – vi que foi bom eu não ter falado de Maçã, até porque
a grande maioria dos líderes concordaram com ele.
– Você não tá sendo muito convincente. – disse Papel ao meu lado.
– Vocês são os líderes da barreira de cada bairro. Juntos, protegemos a
cidade para nós mesmos.
– Honestamente não vi nenhum desses ataques e nenhum conhecido meu
morreu por suas práticas imorais como você falou. – disse um líder todo vestido
com roupas de marcas. – Portanto não vou mobilizar minha barreira nessa luta
suicida e sem o menor propósito. – E se retirou. Inacreditavelmente todos os outros
líderes também se retiraram com exceção de Mudinho e outro líder que conhecia
de vista quando visitava minha avó no Engenho Velho de Brotas.
Eu, Papel e Mudinho olhamos pra ele.
– Tô querendo um pouco de adrenalina.
“Seus motivos nada nobres não são relevantes nesse caso, Teco-Teco.
Obrigado por se aliar.” pesou Mudinho pra o jovem, depois se virou pra mim: “Me
pergunto como conseguiu convencer os líderes da Liberdade a seguirem você.”
− Me pergunto a mesma coisa. – disse um pequeno vendaval que rodopiou
até se transformar num monge de capuz todo branco usado um broche. Era o líder
do Ar.
– Muita audácia sua vir aqui sozinho. – disse enquanto Mudinho e Teco-Teco
puxavam suas armas e Papel colocava a soqueira.
− Muita audácia sua achar que podem me deter. – disse. – Se
pudesse me vencer, não se prestariam a essa cena ridícula.
− Os líderes saberão quem são vocês e voltarão atrás. – disse pouco
convencido disso.
− Eles jamais farão isso, porque eles são os mesmos que enchem nossas igrejas,
que recebem o nosso conforto e apoio nas horas difíceis. O que vocês podem
oferecer?
− O gado realmente demora de perceber que o mesmo que lhe alimenta é o
que lhe ceifa a vida. – comecei − Vocês dão alento sim àqueles que são
necessitados, mas os que não são e não dependem de vocês são dizimados e
excluídos como leprosos. Dizem pregar amor, mas não passam de terroristas.
Radicais que querem submeter todos à sua visão míope da verdade. Há muitos que
compreendem o próximo e entendem suas escolhas. Mas vocês? Tão cheios de si,
achando-se anjos da morte, não passam de baratas que contaminam a cidade com
sua lei de sangue. Eles podem não entender, mas nós sim. E mesmo poucos,
lutaremos e acabaremos com você.
− Só se essa guerra fosse disputada por oratória. Vamos ver a palavra de
quem falará mais alto quando for dita por espadas. – dito isso, desapareceu da
mesma forma que surgira.
O
plano havia dado certo. Eu não precisava convencer os líderes e nem queria. Mas
os Templários não sabiam disso e achavam que eu não tinha contingente para
enfrenta-los. Ficariam assim descuidados com suas bases. Um erro que
aproveitaria muito.
Pedi
a Nessa, Dente e Vaca (um amigo do colégio) que eram faixa preta de caratê,
além de mim para ensinarem às barreiras como lutar. Com Barbie e Papel, estudei
as plantas das duas bases e decidir como faria a segunda parte do plano. Tudo
durou uma semana, mas foi a semana que mais me concentrei em alguma coisa. E a
que mais fiz sexo também.
−
Tudo acertado – disse de madrugada depois de acertar os últimos pontos. –
Depois de amanhã será o grande dia.
−
As tropas estão preparadas? – perguntou Barbie depois se corrigindo. – Digo, as
barreiras.
−
Sim. – quem respondeu foi Papel. – Nessa me informou que eles sabem o bastante
para enfrentarem dois, cada.
−
Não será necessário. – falei. – Os Templários acha que não tenho ninguém e
jamais conseguiria um exército em tão pouco tempo. Os treinos foram bem
sigilosos. Eles não vão saber nem de onde veio o golpe.
A segunda parte do plano eu precisei contar com um pouco de física e mágica. Criei uma imensa nuvem que encobriu a região onde a base do ar ficava, num arranha-céu que pertencia a uma organização religiosa não ligada aos Templários e fiz chover moderadamente ali. Todo o andar que era o centro da base teve as vidraças congeladas pelas gotas que resfriei. Frágeis, não foi difícil os vidros se estilhaçarem deixando a área aberta para meu exército em peso entrar flutuando em bolhas de sabão que Barbie-Com-Defeito-De-Fábrica criou.
A
guerra instantaneamente foi instaurada. Apesar de estarem em um número
extremamente inferior, os guardas conseguiram resistir até que reforços
começassem a chegar fazendo frente ao nosso número. O que tornava tudo mais
complicado era que os homens que íamos derrubando, aos poucos se levantavam
novamente.
−
Temos que dar um jeito nisso. – falou Paulinho derrubando dois Templários numa
giratória e uma chave de braço. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer.
−
Ele tem razão, Braço. – disse Papel congelando outros dois. – Não posso
congelar todos.
−
Seu lema está indo de encontro ao seu plano. – Falou Barbie que era uma das
muito poucas que sabia tudo que havia arquitetado.
O
lema era "toda vida é importante." Eu não queria que houvesse um
massacre, embora muitos do meu exército estavam morrendo nessa batalha. Dava
pra vencê-los sem mata-los, mas seria necessário muito mais treinamento de
combate para apagar prolongadamente nosso adversário e a arma que todos usavam
eram para ferir de algum modo o oponente e manda-los fazer diferente tava
ficando complicado.
−
Pense que você não estará apenas tirando vidas, Braço, mas poupando outras. –
falou Pombinho após também congelar Templários com seu sopro.
−
Ok. – disse por fim. – Mas só se necessário. – disse temendo um massacre, mas a
liberação se tornou profícua. Conseguimos manter vantagem sobre os Templários,
mesmo com reforços.
Na
verdade estávamos vencendo quando uma forte correnteza de ar invadiu o prédio.
Tivemos que nos segurar para não cairmos. Quando ela cessou, só havia as
barreiras.
−
Para onde eles foram? – Indagou Trasgo com seu bastão em punho e o cachimbo na
bocarra.
−
Para um lugar longe e seguro de vocês. – falou uma voz no meio do salão imenso
onde antes havia escritórios. Corri até a origem da voz para ver quem era.
−
Que palavra está ecoando mais forte agora? – perguntei erguendo minha espada de
gelo e minha arma.
−
Eu ainda não terminei de falar. – e de repente dos elevadores saíram novos
Templários, mas ao contrário dos que estávamos enfrentando, eles não usavam
hábito e sim uma pesada e fechada armadura de aço e brandiam espadas afiadas e
longas.
−
Droga.
O
Líder da base fez com que o ar fosse um obstáculo a menos aos novos guerreiros
que entendi terem sido enviados pelo Líder da outra base: a da Terra. As balas
dos líderes das barreiras não surtiam efeito e os canivetes muito menos. As
soqueiras amassavam sem muito efeito e até minha espada de gelo era inútil
naquelas armaduras.
O
plano tava degringolando, mas o líder do Ar estava lá e o exército do líder da
Terra também. Eu precisava agir.
Usei
uma nuvem de fumaça para cobrir a visão dos guerreiros e como ela era feita de
sombras e não ar, o líder não pôde fazer nada. Dessa forma os Templários
viraram alvos fáceis e, aos poucos, começaram a sucumbir também. Irado o líder
se transformou numa corrente de ar e me levou para fora do prédio me deixando
cair, mas me fundir a ele como vapor e travamos uma luta nos céus da cidade.
Entramos
em galpão com vários maquinários de trem. Não fazia ideia de onde estávamos,
exceto que estávamos feridos.
−
Você é habilidoso Braço, − disse se levantando − mas não é bem treinado como
eu. Você é apenas o terceiro melhor lutador da cidade. O quarto do estado. É…
eu andei pesquisando sobre você.
−
Você também não é grande coisa, Duarte. Você é melhor em combate no xadrez e
mesmo assim não é grande coisa. – falei mostrando que também estudei sobre ele.
−
Isso é o que veremos. – Duarte então virou uma corrente de ar em minha direção.
Revidei virando uma massa de fumaça negra, mas ele foi mais forte e me jogou
contra uma pilha de rodas de trem em um canto.
Ele
começou a me socar, então virei um globo de água e o encobri, mas ele novamente
foi mais forte desfazendo a bolha me jogando contra outra pilha de peças de
metal. Nova sequência de socos e chutes. Eu estava perdendo. Me garanti contra
ele e falhei.
Não,
eu não poderia falhar. Não por Maçã. Não antes de derrotar todos eles.
O
envolvi novamente, mas dessa vez não foi um globo de água e sim de sombras,
terror, desespero, escuridão. Um globo que seu ar não poderia repeli. Contudo
acabei me tornando parte daquele terror. Me tornei aquilo que eu mesmo sentia:
medo, confusão, raiva. Naquele momento era só instinto. Mas eu precisava pensar.
Precisava saber qual era a hora de parar e, por pouco não parei tarde demais.
Quando
me solidifiquei novamente, Duarte estava ajoelhado chorando e rezando.
Implorando por misericórdia.
−
Onde está seu deus, agora? – perguntei lhe tirando o broche. Como um vapor,
novamente voei pela cidade, dessa vez de volta para o prédio e percebi que fui
parar muito longe.
Me
solidifiquei usando dessa vez uma nuvem para me levar enquanto ligava pra
Nandinho.
−
Cara, onde você tá? – me perguntou ele.
−
Longe. Como estão as coisas aí?
−
Péssimas. Esses caras de armadura são muito fortes. Pombinho derreteu alguns
deles, mas foi atingido e parou em outro prédio e até agora não retornou. O
resto dos poderes não tão resolvendo. A maioria tá fazendo cosquinha neles.
−
Temos que concluir o plano agora. – olhei pra baixo e procurei um lugar para
que Nandinho aparecesse pra me levar de volta para o prédio.
Lá
a situação era mais crítica do que havia imaginado. Poucas barreiras ainda
estavam de pé. O exército do líder da Terra era praticamente inexpugnável e
havia dobrado de número. O que era excelente, pois significava uma coisa: a
sede de lá está desguarnecida.
Com
uma ordem mental, todos se afastaram de seus oponentes para que fossem
envolvidos por uma onda de água que desviava dos inimigos, mas tocava os
aliados. Quando todos estavam envoltos em água, Nandinho nos teletransportou
para a base da terra.
Como
imaginava, ela ficava debaixo da terra sob uma opulenta catedral feita quase
toda de ouro. Mas nem chegamos a ver uma imagem sequer. O bom de se ter sob
controle todas as barreiras da cidade é que você pode aproveitar muitas
habilidades. Entre elas, espionagem, o que nos permitiu saber a localização
exata da antessala do líder.
O
lugar era um grande salão circular com paredes de aço e titânio com uma porta.
Nada poderia atravessar aquelas paredes e ninguém poderia passar, exceto pela
porta.
−
Vinny-Dellas! – chamei enquanto as barreiras que sobraram enfrentavam novos
Templários de armadura que protegiam a porta. Mas consegui abrir passagem.
Ele
se ajoelhou em frente à entrada e, protegido por Humbertinho e sua força que
fazia jus a dos Templários, começou a criar uma chave para abrir aquela porta
como se tentasse decodificar uma senha de uma conta na internet.
Poucos
poderes surtiam efeito nos guerreiros, mas seu baixo contingente foi um aliado
para vencê-los.
− E
aí, nada? – perguntei congelando junto com Papel um Templário que usava duas
espadas e nos atacava simultaneamente.
−
Quase lá. – falou já suando quando paredes surgiram do chão nos separando e
criando um labirinto.
−
Essa não. – falei correndo por entre os corredores que se formaram.
Havia
tantas paredes e entradas sem saída que os Templários do prédio chegariam até
nós antes que chegássemos até Dellas. De repente no meu corredor Leo aparece
criando um buraco na parede. Percebi que atrás dele, havia um corredor feito de
buracos.
−
Nunca tive paciência para labirintos. – atrás dele, dois líderes e um cara de
canivete, boné e lupa apareceram.
Seguimos
Leo até a porta que Vinny tentava abrir. Estava aberta. Entrei na frente e vi o
Templário usando uma armadura de diamante sentado num trono de ouro e prata. Ao
lado o primo de Leo estava preso num bloco de pedras só com o rosto de fora.
−
Liberte-o. – exigi.
−
Em troca do que?
−
Sua vida. – ele riu.
− Você
é audacioso e poderoso Braço. Mas não pode contra mim. Tudo isso aqui é terra.
Posso soterrá-lo a hora que quiser.
−
Então por que ainda estamos vivos? – interpelei.
−
Porque você fez um ótimo trabalho derrotando todos os outros líderes.
−
Como é que é? – indaguei tão surpreso quanto os outros − você gostou do que eu
fiz?
−
Sim. Eles lutavam por um deus que não lhe atendem achando que seus objetos eram
dádivas, mas não fazem nem ideia da origem de suas próprias armas.
− E
você sabe. – inferi.
−
Mas é claro. Eu as dei para eles e fiz acharem que fossem presentes divinos.
−
Então você manipulou todo um grupo de fanáticos religiosos… por quê?
−
Por que eu precisava ser deus.
−
Eles nunca apoiariam sua megalomania.
−
Não. Mas depois que acabar com você, os que sobrarem irão.
−
Então foi tudo armado? Até mesmo meu levante?
−
Sim. Uma hora iria acontecer. O triangulo amoroso que Quatro-Olhos se colocou
com você foi o que precisava para meu plano começar a funcionar.
−
Tantas vidas mortas em vão apenas para você se tornar um deus.
−
Não foi em vão. Eles lutaram pelo que acreditavam. Assim como eu.
−
É, mas você ainda não me venceu.
−
Não? – nesse mesmo instante um imenso pedregulho caiu sobre Leo que teve que se
encurvar para poder segurar.
Enquanto
isso, uma areia movediça se formou sugando os outros três caras. Os líderes
atiraram sem sucesso contra a armadura de diamante do líder e o terceiro
tentava se segurar em alguma coisa mais não havia nada.
−
Me entregue seu anel e se renda. – eu estava encurralado sem poder ajuda-los.
Eu sabia que poderia ser atacado de qualquer lado e, ao contrário da última
luta, isso incluía debaixo. Aliás, era o ataque mais provável.
−
Você não tem muita escolha. Seu amigo forte não irá aguentar por muito tempo e
os outros logo sucumbirão. Depois de mata-los lentamente matarei você e tomarei
o anel de Quatro-Olhos sobre seu corpo inerte. – falou se levantando e
estendendo a mão.
−
Então por que não vem pegar? – desafiei colocando a base.
−
Por que não quero correr o risco de destruir o anel. Agora me entregue, por
favor. – disse fazendo o chão rachar sob meus pés e o teto derreter formando um
poço de lava sobre minha cabeça.
Eu
não tinha alternativa. Estava derrotado. Jurei vingar Maçã, mas fracassei vergonhosamente.
Ela morreu em vão e provavelmente eu também. Resignado caminhei até ele e
retirei o anel.
−
Primeiro, liberte-os.
−
Por que acha que está em condição de pedir alguma coisa?
−
Você não precisa mata-los. Você venceu. Poupe-os.
−
OK. – disse depois de me analisar por um longo e tenso momento. Ele parecia
apreciar aquilo.
Então
ele suspendeu o pedregulho e desfez a areia movediça. Com eles libertos,
estendi o braço para o líder, mas quando ele pegou o anel, segurei seu
antebraço puxando-o pra mim e inseri a corrente do líder do Fogo no bracelete
dele derretendo.
−
NÃO! – gritou, mas já era tarde demais. Confesso que não sabia mesmo como
vencê-lo, mas depois do que ele disse sobre acabar destruindo o anel eu me
agradeci por ouvir Barbie e levar o artefato do líder do Fogo comigo.
O
objeto se desfez em ferro derretido levando o pulso do líder junto. Sua
armadura de diamante virou grafite, assim como toda a base que começou a
desmoronar em areia. Os líderes mais o cara de boné correram pra antessala onde
o labirinto também havia ruído.
−
Saiam daqui. – ordenei quando Papel chegou à porta. Leo foi soltar o primo e eu
criei uma corrente de gelo para prender o líder que voltara a se sentar,
derrotado, em sua suntuosa cadeira que também se desfez. – Seus dias de deus,
acabaram.
Quando
me abaixei para prendê-lo o chão sob seus pés racharam mostrando um imenso
abismo. Antes de cair, ele me puxou pela corrente me levando junto. Ninguém
poderia fazer mais nada. Eu caia depressa e o líder ainda conseguiu me enrolar
com minha própria corrente e alterá-la com um toque. Ela mudou de cor e impediu
que me transformasse em nuvem negra e fugisse. Tentei desfazê-la, mas ela já
estava sob outro tipo de encantamento.
−
Seus dias como líder de barreira também. – eu estava preso não tinha como
escapar. Eu iria morrer, mas ao menos Maçã estava vingada e meu serviço estava
feito. Ia morrer em paz.
Caímos
longamente na escuridão profunda.
Caí
longamente no profundo da escuridão.
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