Capítulo VIII - As Crônicas de Isabel: Príncipe Callel - Parte 2
DANILO
Ao passarmos
pelo beco, eu, meu irmão, Papel e suas primas, encontramos Kinha que
misteriosamente − ou não, já que havia um cadáver que parecia ter sido morto em
um ritual – havia recuperado todas as suas amiguinhas e estavam à nossa espera.
− Vocês
podem ter passado, mas a próxima viagem de vocês será pro mundo dos mortos.
− Engraçado
você dizer isso. − falou Constelion. − Talvez tenhamos algumas opiniões
contrárias.
Do beco
estreito começaram a sair mortos-vivos que tomaram nossa frente e passaram a
enfrentar as garotas. Eles eram incansáveis e cada vez saía mais do beco. Eles
não sentiam dor, não paravam e o melhor, não poderiam ser mortos. Aquela breve
luta foi uma prévia do que os Saiajeans iriam enfrentar desde que
conseguíssemos passar todo o exército.
Na base da
escada ao redor da árvore e em frente a minha casa havia uma grama rasa.
− O que houve
aqui? − indagou Pé.
Expliquei
brevemente a minha batalha entre mim e Mazda a qual quebrou uma de suas Canetas
que criaram a árvore.
− Só espero
que nossa rua não vire uma selva. − disse Nessa como um agouro.
Passamos
pela escada e, ao chegar à Isabel, percebemos que Mazda havia feito à parte
dele. De todas as partes havia hordas de mortos que enchiam toda planície
visível.
Mas ao chegar
ao palácio me surpreendi ao ver não só a Princesa, mas também o Jegue.
Soltos!
− O que
você faz aqui? − esbravejou Bolo.
− Como é?
Ah! − disse percebendo a irritação do meu colega. − Então Mazda estava fazendo
besteiras aqui também.
Brevemente
eu expliquei que, enquanto estava na Terra, fui duplicado ao passo que eles me explicaram
que diabos a Princesa – agora Imperatriz − e o Jegue faziam junto de nós.
− E você já
providenciou falar com os Espíritos Nascentes? − questionei a “Imperatriz”.
− Vejo que
não é mais preciso. − disse ela.
− Falar com
Eles nunca foi seu plano não é? − disse. − Qual é o seu plano agora? Se aliar
aos Saiajeans para poder governara a colônia de Isabel?
− Pelo
visto, você não é muito diferente do outro. − acusou Minha Prima.
− Vai ver
que temos a mesma desconfiança que vocês deveriam ter. Ou já se esqueceram do
que…
− Não, Braço.
Não esquecemos. − me cortou Lore. − Mas que coisa! Ela está aqui e
pronto.
− Então que
ela seja útil! Vá falar com os Espíritos.
− Desculpe,
Danilo, mas você não me dá ordens.
Aquela
vadia deveria estar se divertindo por dentro. Olhei para Bolo, Lore, Minha
Prima e Formiguinha e percebi que todos já estavam sob o comando da
Imperatriz. Eu não tinha muita opção, a não ser acatar. Mazda já tinha feito
besteira a ponto de ter sido banido por Bolo, portanto minha face já não estava
agradando. Olhei para Papel e percebi que ele pensou o mesmo que eu.
− Tudo bem.
− disse. − Eu matei seu deus, eu mesmo resolvo isso. − pausa para observar a
expressão da Imperatriz. − Depois da guerra, é claro.
− Como
quiser. − disse ela aparentemente impassível.
Em
uma imensa mesa redonda, todos nós discutimos a melhor maneira de enfrentar os
aliens e como meu irmão deveria posicionar suas tropas. A Imperatriz e o Jegue
nos passaram o terreno de bons lugares para uma trincheira e outros para um
ataque do subterrâneo.Quando terminamos já era tarde da noite. Cada um se dirigiu a seus aposentos, não antes de eu ir falar com Papel.
− Não gosto
disso. − falei baixo em um corredor.
− Nem eu. −
disse ele. − Sinto como se estivesse voando de volta àquela cachoeira…
− Enfrentar
um novo dragão. − completei.
−
Precisamos de um plano B. Você ainda tem três poderes para colocar no anel. Podemos
criar um a nosso favor.
− Na
verdade são oito. Um é o de duplicação de Ph.
− Achei que
esse fosse o primeiro.
− Na
verdade não. Só pensei nisso depois que sair do espelho, o qual eu tenho que retornar.
− Do que
você ta falando? O que houve no espelho?
− Depois eu
te conto. − disse ao ver um criado adentrar o corredor com algumas roupas em
mãos. − É uma história longa e já é tarde. Temos que estar bem disposto para
amanhã.
Deveria
dizer isso pro meu sono. Virava de um lado pro outro e não conseguia dormir.
Fui até a varanda, de onde uma silhueta me aguardava. Criei uma espada de espesso
gelo e atravessei a porta de vidro aparecendo do outro lado para minha surpresa
completa e bestificante.
− Te-Testa (outra Vanessa)? − ela estava pálida, trajava um vestido branco igual ao do seu
enterro, exceto pelo fato de que ele estava sujo de terra e meio rasgado.
− Oi, Braço. − disse ela da mesma forma que dizia quando eu a chamava e ela aparecia
graciosa de sua varanda.
− O… o que
faz aqui?
− Parece
que alguém me trouxe do mundo dos mortos. Ainda bem. Você não sabe o que é crer
fielmente que irá para um bom lugar e aparecer em um dos seus piores pesadelos.
− Você…
estava no Inferno?
− Estava.
Quer me mandar pra lá de novo? − perguntou mirando seus olhos sem vida para
minha espada, estática e branca como eu.
Desfiz o
poder.
− Eu… eu
não imaginei que pudesse te ver.
− Eu fui
uma das últimas a voltar. Me perguntei o que estava acontecendo quando todos os
mortos do inferno começaram a subir. Os demônios estavam enraivecidos. Tentavam
segurar os que subiam e subiam para fazer descer os que já estavam na Terra.
− E o que
fizeram com você?
− Me mandaram entregar uma mensagem.
− Que
mensagem?
Ela olhou
pra mim como se sorrisse.
− A
mensagem não é pra você.
− E por que
está no meu quarto?
Dessa vez
ela riu.
− Eu não
quero voltar pro Inferno. Mas se eu não entregar a mensagem a quem me trouxe de
volta, eles irão me pegar.
− E por que está me contando isso?
− Se você
puder me deter, quem sabe eu não somo isso às minhas boas ações e vou pro céu.
Eu olhei
para ela um tanto intrigado. Não tinha certeza se poderia detê-la, nem por quanto
tempo. O ideal seria um anjo proteger Pé, mas não podemos confiar nem nos
anjos. E se pudéssemos, talvez ele não entendesse como uma boa ação ela ter
avisado.
− Eu não sei
se posso lhe deter, Testa. Você está morta. Eu não posso te matar.
− Pode
cortar minha cabeça.
Ela falava
aquilo com uma simplicidade incrível.
− Não
agora, mas quando eu for atacá-la.
− Eu não
posso te matar, Testa! Simplesmente não posso.
− Eu já
estou morta de qualquer forma.
− Mesmo
assim. Eu não…
Ela se
aproximou de mim e falou baixo no meu ouvido:
− Eu sei o
que você queria me dizer, antes de eu morrer. Sabia antes mesmo de partir. −
disse. − Você sempre deixou isso muito claro.
− Muita
coisa aconteceu depois que você morreu. Por minha causa, mais dois amigos meus
morreram… praticamente em minhas mãos. Ganhei isso em troca. − mostrei anel de
pedra azul e o anel negro, agora com uma pedra transparente.
− Se não
fizer isso, Pé morrerá. Não quero deixar Hubertinho (Humberto) triste.
− Nem eu
quero que ela morra. Mas matar você está fora de cogitação.
− Então
terá que arranjar um meio termo. − disse se afastando e subindo no parapeito da
varanda. − Lembre-se: eu não serei a única com uma mensagem a dar.
Ela
se jogou. Por uma fração de segundos eu tencionei segura-la, mas então lembrei
que ela não poderia se machucar naquela queda.
De manhã
cedo, fomos acordados com intensas explosões ao norte. Do pátio era possível
ver a imensa chuva de meteoros que caía em um vale ali próximo. Nos céus, mesclados
às nuvens estavam centenas de naves pairando sobre nossas cabeças.
− Começou. −
disse o Jegue.
Eu, Bolo e
Papel pegamos os animais mais rápidos e fomos até onde os meteoritos haviam
caído. Eu montei em um grifo, Bolo em um hipogrifo e Papel em um cavalo alado.
Os cometas,
na verdade eram pequenas naves circulares que pousaram com violência no solo de
um vale próximo, mas todas estavam alinhadas. De repente, a esfera maior
começou a abrir revelando em seu interior seu comandante… digo, sua
comandante.
− Uma
mulher? − se surpreendeu Papel.
− De saia
jeans! − comentou Bolo.
− Por essa
eu não esperava. − disse.
− Olá,
jovens. − disse a mulher em uma curta saia jeans e uma blusa curta branca. Nada
diria que ela era uma soldada se não fossem as ombreiras azuis e um estranho óculo
de um lado meio “Soldado Universal”. Atrás dela, outras mulheres saiam das
esferas, com a diferença que elas usavam a mesma saia jeans, porém, ou até o
joelho ou até a canela. − Eu sou a capitã Jean Green. − parece uma campainha. −
Vim dar-lhes duas escolhas: primeira, vocês se entregam se tornando uma colônia
de povoamento para a Aliança Saiajeans fornecendo insumos e mão-de-obra barata.
− Isso me
parece colônia de exploração. − disse Papel.
− A segunda
opção − disse ignorando o comentário. − é vocês tentarem lutar contra nós. Se
fizerem isso, vocês terão outras duas opções: primeira, vocês nos enfrentam e
perdem tornando todo homem que habita nesse planeta um escravo e cada mulher será
treinada e transformada em uma Saiajeans. Segunda, vocês nos enfrentam, nos
irrita, e matamos todos os homens e tornamos as mulheres em Saiajeans.
− E aí? −
perguntei. − O quê que vocês acham? Sem escravos tipo “300”, capturamos as
virgens e matamos as não virgens ou damos uma surra nela e enviamos de volta
paras as naves?
− Gostei da
ideia de capturar as virgens. − disse Bolo.
Sorrimos e,
surpreendentemente ela também sorriu.
− Acho que
fico com a opção B2.
Criei minha
espada de gelo e Papel fez o mesmo. Bolo retirou sua espada forjada com seu
próprio fogo. Ela fechou os olhos e começou a emanar uma aura dourada que
circundava seu esbelto corpo. Sua aura começou a nos atingir e derreter nossas
espadas de gelo. Já Bolo parecia estranhamente irritado.
− Ela está
tentando nos controlar. − disse ele.
− Como
sabe? − perguntei.
− É o mesmo
que eu faço.
− Vadia! −
Papel disparou um poder branco de gelo que passou ao lado dela e eu lancei uma
bola de fogo, contudo a Saiajeans desviou novamente.
De repente
nossos animais alados nos derrubaram. Bolo se levantou e partiu pra cima da
capitã que desviava facilmente da lâmina afiada do rei. Do chão, eu disparei para
o céu um raio de luz avisando a Constelion, abrigado do sol no palácio, que era
hora de ordenar o ataque.
Os
mortos vivos saíram desbandeirados ao encontro das Saiajeans que dispararam
seus poderes destruindo o corpo de muitos, parando um ou outro, mas não
derrotando nenhum.
Papel
também entrou no combate mostrando que seu apelido era só isso mesmo, um
apelido. Bolo continuava a enfrentar a mulher que criou dois discos de energia
usando um como escudo e outro como arma. Me juntei a Papel por um tempo ajudando
a obliterar o exército feminino.
Pelo que
pude perceber, o tamanho das saias eram inversamente proporcional ao poder das
donas, sobrando, assim, mas guerreiras de saia até o joelho do que até a
canela. Percebi também que Bolo estava começando a fraquejar contra a Saiajeans. Usei
também, o até agora inédito poder de duplicação de Ph que rachou, não só a
alma da mulher, mas também sua ombreira de lado a lado, sua blusa e sua calcinha
que caiu por entre suas pernas. Só não dividiu a saia.
Com a
derrota de sua líder, as guerreiras de saia de evangélica, entraram em seus orbes
e voaram de volta para as naves lá em cima.
Outras
chuvas de meteoros caíram ao longo do país, mas estávamos prontos pra elas.
Todos participaram da batalha, exceto a Imperatriz e o Jegue. No calabouço,
onde eles deveriam estar, a comandante Jean Green dormia tranquilamente, como
se não tivesse iniciado uma cadeia de derrotas em massa.
− Tim-Tim! −
gritaram todos comemorando nosso primeiro dia de vitória.
− Parece
que seu exercito é bem eficiente. − disse o Jegue para Pé.
− Na
verdade o exercito agora é de Constelion. − disse ela levantando a taça em homenagem
ao meu meio-irmão.
− Obrigado,
mas se vocês não tivessem sido meus olhos e bocas, não teríamos um sucesso tão
grande.
Entre risos
e bebidas (muitas bebidas) eu chamei Papel em um canto.
− Preciso
te falar uma coisa.
− O que foi
man?
− É sobre
sua prima, Pé. Ela ainda corre perigo.
− O que? −
de repente ele parecia mais sóbrio do que eu.
− Testa veio me falar ontem.
− Testa? Mas é claro...
− É. Devo confessar que mesmo morta ela está linda. Ela disse que os demônios ainda querem a cabeça de Pé.
− Testa? Mas é claro...
− É. Devo confessar que mesmo morta ela está linda. Ela disse que os demônios ainda querem a cabeça de Pé.
− Mas ela
não controla mais o exército.
− Eu sei,
mas foi ela que os trouxe de volta. Testa me disse que foi designada para lhe
dar uma mensagem, mas ela não é a única. Ela me avisou para que, com esse
gesto, ao voltar ela vá para o Céu e não para o Inferno.
− Meu Deus!
Temos então que proteger Lari.
− É. Eu até
colocaria um guerreiro das sombras, mas Mazda fez o favor de destruir o poder
do anel negro.
− Temos que
pensar em outra coisa.
− Nada, nem
ninguém é mais forte que um ser que não pode ser morto. Um lacaio, eu, você, a
Imperatriz… não somos páreos contra alguém que nunca pára, nunca cansa, nunca
morre.
− E qual é
o seu plano?
− Levar
Pé para o outro mundo e trancar as escadas. Afinal, todos os mortos estão
aqui.
− Pessoas
morrem todo dia, Braço.
− Mas os
demônios não podem trazer os mortos de volta, só Constelion.
− Não podem
trazer os mortos, mas eles próprios podem vir à Terra.
− Só se
houver um número de anjos correspondente. − disse Constelion nos pegando de
surpresa. − Desculpe. Mas eu não durmo à noite, mesmo que passe o dia acordado
e tenho ouvidos muitos sensíveis.
− Tudo bem.
Você é da família. − Disse Papel.
− Certo,
mas fomos atacados por dois demônios e… espere. A capa que eu peguei de um
deles leva a uma dimensão alternativa.
− Como o
espelho em que você ficou? − perguntou Papel.
− Uma menor
e menos perigosa. Lá ela estaria segura.
− Exceto
pelo fato que caçariam você. − disse meu preocupado irmão.
− Eu creio
que posso lhe dar com eles melhor do que Pé.
Um breve
silêncio seguido por meneações afirmativas de cabeça.
É. Eu
estava certo.
Papel ficou de falar com Pé e eu, por desencargo de consciência, entrei na minha
própria capa e verifiquei o ambiente. “All Clear” ou como ficou sua famosa abreviação:
O.k.
− A que
devo a honra, alteza. − falou o Jegue.
−
Montgomery. Achei que tivesse sido deposto.
−
Montgomery? − sussurraram as meninas espantadas pelo nome daquele animal.
− Como vê,
precisava proteger meu mundo.
− Hm. −
disse passando por ele e se aproximando da Imperatriz. − Ouço falar de seu nome
desde as fronteiras de Golan. A Imperatriz que tem o indefensável exército que
pode nos proteger dos Saiajeans.
− Parece
que alguém está levando fama em cima do nosso trabalho. − comentei.
− Ainda
aqui? − questionou o Príncipe que era a cara de Pombinho. − Achei que
depois de sua lastimável derrota você seria expulso.
− Ele não é
o mesmo que nos acompanhou até o seu reino. − explicou a Imperatriz.
− São…
trigêmeos?
− Na
verdade aquele era uma personalidade minha que acabou ganhando um novo corpo. −
expliquei. − Ele se chama Mazda. Entre meus amigos, sou conhecido como Braço.
− Vei, ele
é a cara de Mãozinha (Pombinho). − disse Nandinho.
− Mãozinha?
− indagou o príncipe.
− É um
amigo nosso. − informou Nessa. − Você se parece muito com ele.
O príncipe
riu.
− Mas,
então? − perguntou Lore. − Você reconsiderou e veio nos ajudar?
− Não. Vim
lhes dizer que, caso não aceitem minha oferta de dar cinqüenta por cento de
toda Isabel, vocês estarão condenando o planeta de vocês à destruição.
− Do que
você está falando? − interpelou Bolo.
− Depois da
derrota dos Saiajeans, eles pretendem utilizar um poder incomensurável contra o
núcleo de Isabel. Eles já tentaram isso antes em vários planetas.
− Achei que
eles quisessem nos colonizar e não nos destruir. − falou Papel.
− E esse
continua o plano. − disse o nobre. − A energia afetará diretamente a essência
do planeta que se renderá aos domínios dos Saiajeans.
− Fala como
se o planeta fosse vivo. − comentou Minha Prima.
− E é. −
dessa vez quem respondeu foi o próprio Jegue. − Eu, por ser um animal selvagem −
é, ele disse selvagem. − posso sentir mais intensamente o poder de Isabel. Seu
nome próprio não é à toa. Aliás, é bem comum em planetas do nosso sistema
solar.
− No núcleo
do planeta reside sua força ativa e consciente. − continuou Cal. − Assim como
em todo planeta. O plano dos Saiajeans é atingir esse núcleo e convergi-lo à
sua vontade voltando-o contra seus próprios habitantes. No entanto Isabel está
nesse momento em conflito com os Espíritos Nascentes que perderam seu deus
dragão. Se Isabel for atingida, ela pode ficar fraca demais a ponto de morrer.
E se isso acontecer, a proteção dos Espíritos ficará tênue demais para
sustentar o equilíbrio que mantém o planeta em órbita e em perfeito estado.
− Deixe eu
ver se entendi. − comecei depois que todos iniciaram murmurinhos de surpresa e
temor. − Você está barganhando a vida do planeta em que você mesmo vive?
− Talvez
sua outra personalidade não tenha lhe dito, mas eu não sou desse planeta. Sou
filho do deus Jolel que me enviou pra cá depois que nosso planeta foi destruído
pelo titã do sol. Não tenho nenhum laço com esse planeta e posso me mudar
facilmente.
− Então o
filho de um deus se rebaixa a ponto de proteger os habitantes de um planeta
apenas se ele sair lucrando com isso? Que tipo de educação divina você anda recebendo?
− Braço,
cale a boca. − mandou Lore visivelmente irritada. − Sua cara metade já fez
merda antes, você não vai terminar o serviço.
− Por acaso
eu disse alguma mentira? Não é isso o que ele está fazendo? Nos chantageando.
− Estou
lhes dando uma oportunidade de salvar suas vidas.
− Por um
preço muito alto, não acha?
− Isabel é
grande. − respondeu com cinismo.
− Braço tem razão. − concordou Papel. − Talvez seja um preço alto demais e já sabemos o
que os Saiajeans planejam.
− Eu não
disse como.
− Você não
entendeu: nossa resposta é não. – disse.
− Essa é a
sua resposta. − disse Minha Prima.
− Vocês não
estão pensando em considerar essa ameaça, estão?
− Mas é
claro! − respondeu ela com simplicidade. − Temos o maior e melhor exército, mas
como vamos mandá-los pro espaço? Você tem algum anel que se transforma em nave?
Ou pode tirar um ônibus espacial de sua bela capa?
− E você
não se importa em dividir cinquenta por cento com cinquenta cabeças?
− Por que cinquenta?
Eu só vejo Lore, Formiguinha, Bolo, o Jegue e a Imperatriz como os reis de
Isabel. Ou você acha que você também é rei.
− E quem
você acha que limpou o trono que você está sentada agora? Quem derrotou a
Princesa que agora vocês resolveram nomeá-la de Imperatriz? De quem era o
exército que varreu desse palácio todos os nossos inimigos?
− E quem
ficou aqui para reorganizar o governo? Prender os dissidentes, restabelecer a
ordem? − interpelou Bolo. − Aqui não é mais sua barreira, “mestre” que você dá
as ordens e depois se sai.
− Se está
questionando meu título, então prove que o merece mais do que eu. − disse
criando minha espada de gelo.
− Acha que
esse seu picolé pode contra minha espada forjada pelo fogo mais poderoso dessa
nação?
− Não faça
isso Bolo. − alertou Papel. − Ele já derrotou um dragão. Um deus!
− Eu sou
mais que isso.
−
Você se superestima demais. − parti pra cima dele em uma luta emocionante. Ele
representava os reis empossados de Isabel (Minha Prima, Lore, Formiguinha, a
Imperatriz e o Jegue) enquanto eu representava os outros (Papel, Pé, sua
irmã Nessa e meu irmão Constelion que estava ao meu lado). Nandinho e Dente
estavam apenas assistindo junto com o príncipe que nos avaliava.
Bolo era
bom de luta e contava com a ajuda de seus tentáculos que chegou a ferir meu
braço, no entanto eu tinha muito mais que isso.
Em uma sequência
rápida e estonteante ele tirou a minha espada com um dos tentáculos, segurou
meus braços com outros dois e cravou sua espada em minha barriga.
− Adeus,
“alteza”. − seu erro, além da arrogância foi ter soltado meus braços.
Eu entrei
na capa junto com sua espada presa em mim trazendo seu braço junto. A capa
criou um buraco negro fechando-se sobre ela mesma. O “rei” gritou de dor sem
entender o que eu fizera.
Logo em
seguida um novo buraco foi aberto cuspindo a capa e eu em seguida segurando seu
braço preso a espada. Com ele dei um corte diagonal em suas costas derrubando-o.
− Adeus. −
respondi.
− Isso não
lhe dá o direito de mandar em nós. − disse Minha Prima amedrontada.
− Não. −
falei tirando a espada da mão inerte e jogando o braço sobre o corpo de Bolo. −
Mas me dá o direito de instituir uma votação. − silencio.
−
Precisamos de um tempo pra pensar. − falou Formiguinha.
− Concordo.
− disse sua xará antes que Minha Prima dissesse mais alguma coisa.
Enquanto os
reis se alojavam dentro da sala de reuniões a portas trancadas, nós nos
contentamos com uma das várias salas do castelo protegido por mortos-vivos. Callel
esperou com sua comitiva. Dente e Nandinho resolveram se unir conosco.
− Vei, isso
não vai dá certo. − disse Nandinho. −
Primeiro ele pede cinquenta por cento. Depois temos outro problema e ele pede
mais vinte. Aí tem outro e ele pede mais quarenta.
− Isso dá
cento e dez por cento Nandinho. − corrigiu Nessa.
− Mas ele
tem razão. Ele já ta pedindo o antebraço. Em breve não vai ter Isabel pra
dividir. −
− Em todo
caso, que filho de deus é esse que sabe que o planeta será destruído e ainda
quer barganhar? − indagou Papel.
− É, mas
ele ta em condições de barganhar. − falou Dente.
− A
impressão que eu tenho é que ele vai acabar ajudando de qualquer forma, só quer
tirar vantagem disso. − falou Constelion num canto escuro.
− É, Braço
tem razão. − falou Pé.
− Braço sou
eu.
− Ô. Foi
mal, Dan.
− Mas ele
ta certo. Pelo que eles me contaram, a Imperatriz, Mazda, Lore e Formiguinha
foram até ele e ele se recusou. Se ele ta aqui de novo, é por que ele quer
tirar vantagem.
− Mas de
uma coisa ele tem razão. − disse Nessa. − Não temos como atacar as naves.
Estamos só na defensiva e eles vão acabar descobrindo um jeito nos vencer.
− Roubamos
as naves de Callel. − aconselhou Nandinho no momento em que um lacaio pedia
para falar conosco.
− Deixe-o
entrar. − ordenou Constelion.
− Pode
falar. − disse.
− Como as
outras altezas estão incomunicáveis, resolvi dar o recado a vocês mesmo. −
falou o pobre homem. − A mulher que os senhores capturaram acabou de acordar.
− A
Saiajeans, Jean Green? − Isso é quase um trava-língua.
− Ela
mesma.
Fomos até a cela onde ela estava alocada.
− Boa
tarde. − disse eu.
− Senhor,
são dez da manhã. − cochichou o lacaio que nos acompanhou.
− Como o
dia passa devagar aqui. − comentei.
− Quem são
vocês? − perguntou Jean.
− Não se
lembra de mim? − indaguei.
− De um
sonho. Ele também. − apontou para Papel. − Mas os outros não.
− Eles são
os reis de Isabel. Planeta em que sua raça tentou nos roubar.
− Por que
nós faríamos isso?
− Poder. −
arriscou Nessa.
− Prazer. −
tentou Constelion.
− Riqueza. −
chutou Papel.
− Expansão
do império Saiajeans. − palpitou Nando.
− Quebrar a
rotina. − todo mundo olhou pra Dente.
− Pelo
visto, motivo não falta. − disse ela.
− Falta
justificativa. − falei. − Não queremos entregar nosso planeta, assim como não
queremos uma guerra sem fim.
Ela olhou
para sua saia incólume, ao contrário de sua blusa aberta.
− Eu posso
falar com minha superior.
− Isso
seria ótimo. Tem nave?
De fato,
aquilo poderia ser o fator que precisávamos para vencer aquela guerra sem
precisar do ambicioso príncipe divino. Quando os reis empossados de Isabel
terminaram sua reuniãozinha particular, o horário do voto foi decidido. Todos
os nobres estavam reunidos numa imensa mesa redonda, incluindo Bolo que, com a
ajuda de uns feitiçozinho da Imperatriz teve seu braço colocado no lugar.
Todos
estavam reunidos, exceto eu que providenciei uma fuga para Jean Green em sua
bola espacial na qual eu fui junto. Usei a capa para me camuflar ficando
invisível, incluindo aos sensores que as Saiajeans usavam que pareciam uns
óculos capenga. Tava começando a gostar daquela capa demoníaca.
O globo
espacial subiu até a nave mãe onde a capitã foi recebida por outras Saiajeans
de saias até o tornozelo.
− Capitã
Green? − disse uma delas. − Soube que a tropa da senhora foi derrotada no
primeiro dia. Graças a Thiamat a senhora está viva.
− Obrigada.
Agora preciso falar com minha superior.
− A general Blue irá recebê-la.
Ela, digo,
nós fomos levados até a ponte onde uma Saiajeans com uma saia (que poderia ser chamada de cinto) jeans na cintura
nos aguardava.
− Capitã
Jean. Vejo que um deus tem sim sentimentalismos.
− Perdão
senhora. Acho que não compreendi.
− Quer
mesmo que eu acredite que você conseguiu escapar de Isabel sem ajuda? É claro
que aquele deusinho lhe deu escapatória. Pois que ele saiba que se os reis descobrirem
sobre seu envolvimento conosco e o colocarem em uma câmara de esmeralda, eu não
vou estar nem aí. Bombardeio esse planeta cheio de homens feios e mulheres
fracas e parto pro próximo. O importante é não deixar a imperatriz Morgana
entediada. − No final das contas, Dente estava certo.
− Pelo
pouco tempo em que passei aqui − disse Jean. − parece que esse planeta não tem
nada de interessante. Nem física nem biologicamente. Aliás, o tempo aqui é uma
bagunça, assim como seu governo. Estamos perdendo recursos aqui.
− Discordo.
Perdemos muito mais naves, mulheres e dinheiro em Belbut do que aqui. Além do
que, você tem um forte e poderoso contato entre os cabeças de Isabel. Nossas
derrotas foram só a calmaria antes da tempestade que eles enfrentarão.
Depois
disso, Jean se retirou e foi para os seus aposentos. Disse a ela que voltaria para
Isabel relatar o que houve e voltaria como planejado, para decepar a cobra que
tentava dar o bote em meu planeta. Sim. Isabel também se tornara meu lar.
Ao chegar à
sala onde o voto era feito, ouvi Bolo dizer triunfante que eles ganharam e
dariam a metade que Callel queria para nos ajudar contra as Saiajeans.
− Callel é
um traidor! − disse.
− Que
história é essa? − interpelou Minha Prima. − Além de não estar aqui para votar,
vem querendo embaralhar o que já foi definido.
− Bilhares
de Dente estava certo. Elas só querem invadir Isabel para distrair sua imperatriz
e contam com a ajuda dele.
− Como ousa
acusar um deus?! − interpelou
− Você não
é um deus. É, no mínimo, um agente duplo. Ele tinha um caso com a prisioneira
Jean Green e prometeu ajudar as tropas alienígenas.
− Em troca
do quê?
− Seu
planeta de volta. − arrisquei. − Pensem bem: ele disse que seu planeta foi destruído
e seu pai o enviou pra cá junto com seus asseclas. Aqui ele vive pacificamente
até que quem ele encontra de novo? O mesmo povo que destruiu sua terra natal.
− E eu me
aliaria com aqueles que mataram minha família?
− Se não
pode com ele, alie-se a eles. Você pode muito bem estar fazendo um acordo para
entregar Isabel e ter seu mundo de volta.
− E você
pode muito bem estar mentindo, a não ser que tenha provas.
− Danilo,
por que você não traz aqui a tal capitã Jean Green para interrogarmos ela? − sugeriu
a Imperatriz.
− Porque eu
a levei de volta para a nave mãe onde ela teve uma conversa muito interessante
com a general Blue. Conhece?
Callel riu
em meio aos suspiros dos outros.
− Vejo que
suas tentativas de desfazer um acordo secular são patéticas.
− Vamos ver
quem é patético. − eu retirei de baixo da camisa na parte de trás do short um
38 com desenhos feéricos[1] e
apontei para o Príncipe.
− Braço,
abaixe essa arma! − pediram as mulheres.
− Você
ainda tem essa arma? − indagou Bolo surpreso.
− Uma vez
líder, sempre líder. Até morrer.
− Pode
parar de plagiar o hino do Mengão. − falou Dente.
− Deixe
ele. − falou o príncipe. − Nenhum metal pode me ferir. Essa é só mais uma
tentativa patética de nos dissuadir, assim como seus argumentos falhos e
infundados.
− Meu Primo,
isso não tem graça. − falou Minha Prima.
− Alteza,
mesmo que o mate, não pode desfazer o acordo. − disse a Imperatriz. − A maioria
venceu, e se o príncipe estiver morto, a metade de Isabel ficará com sua corte.
− Quem
falou em matar? Acha que pode parar bala no peito? Pare essa. − Com essa frase
de efeito, puxei o gatilho e disparei a bala verde que atravessou o espaço
vazio sobre a mesa até chegar a mão sólida de Callel que foi transpassada feito
gelatina e atingir o ombro do mesmo derrubando-o.
− Alteza! −
todos correram para socorrer o príncipe que recuperou sua mão, mas não seu
ombro onde a bala se alojara.
− Braço,
você ficou maluco?! − me interpelou Formiguinha.
− Ele tinha
razão. − disse eu. − Ele era imune a todo tipo de metal, desde os mais fortes,
contudo essa bala não foi feita de metal algum e sim de esmeralda. E pela
surpresa da Imperatriz e do Jegue parece que ela era o único material capaz de
ferir o príncipe. Estou certo?
− Sim. −
confirmou o Jegue.
− Como você
soube disso? − indagou Nessa.
− Pelo o
que vocês me contaram, só o Jegue e a Imperatriz sabiam sobre Callel e certamente
eram os únicos que tinha conhecimento de sua fraqueza. Mas se nem um dos dois
me falou a respeito disso, quem mais diria?
Eles
perceberam que eu estava certo e se afastaram.
− Um
traidor? − indagou um Bolo abatido, ou melhor, solado.
− Braço
tinha razão. − percebeu Lore. − Deveríamos ter te escutado.
− Sem
problemas. A humanidade gosta mais de ver gestos do que ouvir razões[2].
− Esse era
seu plano desde o início? − perguntou a Imperatriz. − Nos vender para os
Saiajeans?
− Quem
garante que esse não era o seu plano? − indagou Papel. − Foi você que
deu a ideia de procurá-lo, não foi? Você e o Jegue.
− Eu nunca
venderia meu próprio lar. − responde a Imperatriz em tom ofendido.
− Se Cal se
vendeu aos Saiajeans, é por que ele não tinha mais nada a perder. Nós sim. Seja
por diversão ou não, os Saiajeans irão acabar com esse planeta se não os determos.
− Eu sei. E
é por isso que voltarei até a nave mãe com a ajuda de Jean e matarei Blue e
todo o seu exército.
− Por que
essa Jean iria nos ajudar de repente? − indagou Minha Prima.
−Eu dividi
sua alma. Parte dela é a soldada fiel à aliança Saiajeans. A outra é uma garota
confusa que não quer ser parte de um plano para destruir um planeta inocente.
Ela está do nosso lado.
− Tem
certeza que podemos confiar em uma personalidade de uma soldada, Braço? − perguntou
Papel.
− Sim. −
respondi sem titubear. − O único problema seria se Jean voltasse a ser o que
era. Por isso, eu tenho que ser rápido.
− Eu vou
com você. − falou o calado Nandinho.
− Eu
também. − Dente.
− O.k.
Em seguida,
“se alistaram” Papel e suas primas. Os reis decidiram ficar protegidos em seu
fortificado castelo. Constelion também queria ir, mas por ser o controlador do
nosso exército, ele achou mais prudente ficar em terra firme.
− Quanto a
vocês dois, levem-no para uma cela de esmeralda que eu tomei a liberdade de mandar construir.
Pude
perceber pelo olhar dos reis que eles não gostavam nem um pouco de me ver dando
ordens, mas depois do ocorrido, pensei que eles deveriam me obedecer de bom
grado.
Coloquei
Nandinho e Dente na capa juntamente com os Pomponet. Peguei a nave de Callel e,
com a ajuda de Jean, cheguei até a imensa nave mãe sem ser notado. Ela nos
acompanhou até a ponte onde Blue nos aguardava com mais duas Saiajeans de
minissaias curtas.
− Obrigada,
Capitã Jean Green, por trazer os líderes da resistência isabelina.
− Foi um
prazer, senhora. − respondeu fechando a porta às nossas costas.
− Eu sabia
que não poderíamos confiar nela. − disse Nessa.
− Ah, não.
De fato Joaquina estava ajudando vocês, mas eu sou muito mais forte que ela.
Não foi difícil reaver o controle sobre meu corpo.
−
Aproveite, pois será por pouco tempo. − disse.
− Espero
que seu poder seja maior que sua pretensão. − respondeu lançando uma bola de
energia.
Eu me
protegi com a capa lhe lancei uma bola de fogo que ela desviou. Trocamos
poderes enquanto Papel atacava Blue com seus raios congelantes. Nandinho e
Nessa partiram pra cima de uma generala, enquanto Pé e Dente atacavam outra.
Por não ter nenhuma habilidade em terreno seco, Pé foi derrotada rápido,
deixando Dente sozinho contra a generala que possuía boa esquiva evitando a
metralhadora bucal dele que disparava dezenas de dentes feito balas. Mas
ele tinha uma carta na manga. Ou melhor, uma bola de mouse que usou como bomba
atordoante na Saiajeans. Nandinho, que se teletransportava incessantemente de
um lado pro outro, ajudou a finalizar a mulher. Sua parceira Nessa, que de fato
não precisava de sua ajuda, fez um kata inteiro contra a Generala que
enfrentava e a derrubou em tempo recorde. Na outra ponta da sala a minha luta
contra Jean era equilibrada, mais pelo fato de eu não querer machucar o corpo
que também era de Joaquina do que pelo poder da Saiajeans. Contudo eu tinha que
dá um fim nela, assim como Papel o fez ao se transformar em uma neblina que, ao
ser inalada por Blue, a sufocou.
Só faltava
eu. Só restava ela.
− Acabou. −
disse. − Todas as suas superiores foram derrotadas.
− Você
sozinha não pode contra todos nós. − falou Nandinho, enquanto Nessa olhava sua
irmã desacordada.
− Acha que
só porque elas são mais graduadas do que eu, elas são mais fortes? Estão muito
enganados.
Jean criou
aquela áurea de novo jogando ondas de calor contra nós. Em resposta, Papel
criou outra aura, porém azul que emitia ondas de ar frio. Eu coloquei todos de
volta na capa para que fossem protegidos do choque térmico. Fui, protegido pela
capa, até o painel de controle cheio de botões fálicos e mirei nas naves ao
redor da nave mãe com os canhões dianteiros, laterais e traseiros. Antes de
disparar, recebi uma mensagem de uma das naves adjacentes:
− Senhora Natalie, recebemos um alerta de que
os canhões da Lacan estão apontados para as outras naves. Isso confere?
Com
simplicidade eu apertei um botão que lembrava a alavanca do joystick do Atari e disse:
− Não há
engano. Eu estou atirando. − em seguida disparei todos os canhões atacando
todas as naves que pairavam sobre Isabel. Logo depois coloquei um pendrive com
um vírus criado por Lacerda alguns anos atrás que me passava todos os controles
e códigos do computador infectado. Com isso consegui a senha para ativar o
sistema de autodestruição das outras naves que explodiriam antes de chegar até
nós.
Enquanto
fazia isso, surpreendentemente, percebi que as outras naves também revidavam,
mas suas forças bélicas eram inferiores aos escudos da Lacan. Atrás de mim,
Jean disparou uma bola de energia das mãos jutas como uma flor. E Papel fez
algo parecido, mas com a mão fechava como se desse um murro.
Para ajudá-lo,
deixei o ambiente úmido o que facilitava a propagação do ar frio, entretanto,
para ajudar a Saiajeans, a ponte foi atingida por um dos tiros sofrendo um incêndio
que se alastrou por toda cabine.
− Papel,
respire fundo. − terminei de destruir a parede da cabine que, aberta para o
vácuo, sugou não só o oxigênio, como também o fogo e a áurea incandescente de
Jean.
Papel criou
uma camada de gelo que o prendia no chão e Jean começou a flutuar enquanto sua
energia se esvaia. Preparei uma lança feita de água e lancei contra a Saiajeans
assim que não havia mais oxigênio. A lança líquida congelou ao encontrar o “ar”
abaixo de zero do universo e atravessou o ombro da mulher. Seu grito de dor
liberou o único ar preso em seus pulmões. Ela sufocou e perdeu a consciência.
Voei para
trás de Papel que se desprendeu e caiu direto na minha capa junto com Jean
devido à gravidade ausente. Tirei dela uma máscara que me dava oxigênio
ilimitado e voei para a atmosfera de Isabel. Enquanto isso as naves menores
terminavam de serem despedaçadas pela Lacan e as que vinham do horizonte
explodiam antes mesmo de fazer o primeiro ataque exceto uma que lançou um
míssil maior que o normal direto para a cabine indefesa.
Voei o mais
rápido que pude para o planeta esverdeado, mas a mega-explosão me alcançou quando
eu já sentia a lufada rarefeita da estratosfera de Isabel. Também foi a última
coisa que eu senti antes de desmaiar.
…
…
…
Acordei em
meio, não a uma lufada, mas uma verdadeira ventania que chegava a deformar a
pele do meu rosto em ondas, incluindo minha bochecha. Quando acordei vi que
caia direto em uma vala branca que parecia congelada. Tentei planar e parar,
mas vinha a uma velocidade tão grande que não pude evitar bater nas paredes do
corredor de pedra e cair em uma planície branca e lisa.
Nessa
brincadeira eu quebrei umas duas costelas e desloquei o ombro, mas, como já era
de se esperar, me recuperei rápido. Olhei pro corredor imaginando onde eu
estava e depois para a cachoeira congelada a minha frente. Comecei a achar
aquilo familiar, quando uma luz azul saiu do chão branco que na verdade era um
lago. A luz foi ficando mais forte e fui me afastando, mas não a tempo de ser
derrubado pela ascensão de um magnífico dragão branco.
Eu deslizei
até a borda, mas ainda sim estava no alcance daquela fera que se parecia muito
com o que eu… espere! Era o mesmo dragão.
− Essa não.
− Com medo
que eu queira me vingar do que você havia feito comigo? − disse o animal.
− Eu, como você ficou sabendo, sou um deus. O único que essas terras já viram.
E, como tal, não posso ser morto, muito menos por um jovem qualquer. A
propósito, isso não lhe pertence mais. − o dragão falante mirou seu indicador
para mim com o efeito de levantar meu braço em sua direção. Não, não era o
braço. Era o dedo em que repousava o anel prateado de pedra azul. Quando o
objeto saiu do meu dedo e foi para o dele (cabendo facilmente apesar do tamanho
desproporcional), meu braço caiu novamente.
− Mas por
quê?
− Você não
é um mago e foi como se fosse um que tentou me matar. Agora que sou um dragão
branco e não vermelho[1] o anel
deve ficar comigo até que eu nomeie o primeiro mago das águas nessa era.
Em seu silêncio,
perguntei:
– Não vai tentar
me matar?
– Não. – respondeu
sem titubear e sem emoção.
− Bem… se você é
um deus… me conceda algum poder.
− Conceder
um poder a você? − repetiu como se aquilo fosse um ultraje mais que absurdo.
− S-sim.
Sei que pareço poderoso, mas tudo isso se deve aos meus anéis.
− O
problema não é esse. Você nasceu sem poderes, pois foi destinado ser um mal
poderoso demais a ponto de ser inexpugnável. Se eu te der poderes, posso estar
selando o fim do mundo.
− Um mal?
Do que você está falando? O único mal que eu conheço tem sim a minha cara, mas
ele tem muito mais poderes do que eu. Principalmente agora que ele tem uma
caneta que torna realidade tudo o que ele escreve.
− Mazda não
é o mal. Você é. − tava começando a achar que aquele lagarto alado passou tempo
demais no gelo. − Se ele hoje é um Arquiteto Humano do Universo, é por que ele
de fato é bom e foi destinado a ser um semideus. Mas se você, ao invés disso
tem uma marca negra no braço e uma capa demoníaca, então você é o mal. − como
ele sabia da marca? − Está escrito no Livro dos Dias. − esse livro de novo?
− Eu não
acredito em destino. O fato de eu ter sido ferido, ou usar essa capa não diz o
que eu sou por dentro.
− A marca
não é apenas uma ferida mal cicatrizada. É um sinal indicador. Você é o mal,
Danilo e não há nada que você possa fazer contra isso a não ser que se suicide
ou deixe que eu te mate piedosamente.
− Espero
que você tenha muitas peles, pois você irá morrer tentando.
O dragão
riu. Sabe aquelas horas que você quer provar que não é uma coisa e acaba
corroborando as suspeitas alheias. Pois é. O dragão sorriu como se eu tivesse
acabado de fazer isso.
− Olha
aqui. Eu salvei uma amiga minha hoje e evitei a destruição e/ou colonização de
todo um planeta. Como pode achar que eu sou mal?
− O
príncipe que você acabara de prender, Callel, era considerado o ser mais justo
em seu planeta, até que seu lar foi destruído e ele, numa tentativa de
preservar o que havia de bom em Gabriela, foi enviado para cá, onde se aliou às
tropas inimigas e foi preso recentemente por você mesmo acusado de traição. −
para um deus, ele tava onisciente demais. − As coisas mudam.
− Eu
decido meu destino. Eu faço minhas próprias escolhas, assim como Callel fez as
dele ao se aliar aos Saiajeans.
− Tem
certeza que é apenas questão de escolha?
− Você pode
ser um deus, mas não escreve meu destino.
− Não. Mas
eu sei ler. − ele pareceu arquear uma das sobrancelhas ao dizer a última frase
pouco antes de alçar vôo a um céu cheio de pedaços incandescentes que caiam das
naves destruídas.
Eu pensei
por um momento no que ele havia e dito, então me lembrei dos meus amigos
guardados na minha capa. Tirei todos, exceto Pé.
− Estão
todos bem?
− Acho que
sim. − respondeu Dente.
− Aí estão
vocês. − falou uma voz lúgubre. Era um morto-vivo acompanhado por mais cinco no
meio do corredor e mais dois arqueiros em cima das falésias. − Nosso mestre
ficou preocupado ao ver as naves explodirem e vocês não voltarem.
− Estamos
bem. − falou Papel percebendo algo que ainda não havia captado, pois a recente
conversa com o deus dragão ainda rondava minha cabeça. Não era a primeira vez
que me acusavam de algum defeito que eu definitivamente não tinha. O pior era
ouvir que Mazda, aquele sociopata era bom e eu mau.
− Estão
todos aí? Sinto falta daquela menina loira.
Agora sim
eu tinha entendido a preocupação de Papel.
− Tem
razão. − disse Nessa. − Eu não vi Pé sair de sua capa.
Então eu vi Testa.
− Está em
um lugar seguro. − disse eu.
− Seguro de
quê? − questionou ela. − As Saiajeans foram destruídas.
− Tem
razão. − me ajudou Papel. − Não precisamos de escolta. Voltamos sozinho.
− O mestre
insiste. − insistiu o primeiro.
− E qual é
o nome de seu Mestre? − o morto-vivo não respondeu a pergunta de Dente.
− Como eu
imaginei. − Falou Nandinho.
− O que
quer dizer? − indagou Nessa.
− Ele não
está sobre o controle do dono do anel, no caso Constelion. − informou Dente.
− Como você
sabe? − perguntei.
− Ah! Braço.
− Foi uma
resenha aí. − disse Nandinho. − Depois eu te conto.
− O que
eles querem, afinal? − interpelou Nessa.
− Lari. − respondeu Papel.
− Por quê?
− Meu
mestre quer ela.
− Então dê
esse recado a ele. − lancei uma bola de fogo na cara do morto-vivo, mas ela
explodiu queimando mais dois atrás dele.
Os
arqueiros apontaram para nós, mas Papel fez a neve das paredes engolirem os atiradores.
Dente disparou sua rajada de dentes contra um dos zumbis sem muito efeito,
enquanto Nessa dava seus golpes de longe, mas de efeito significativo. Do
fundo, Van lançou uma lança que atingiu minha capa me levando para o buraco
em que o dragão havia saído. A lança só parou no fundo do lago onde a capa
“coincidentemente” não queria sair. Tirei Jean e Pé dela e, com a espada de
Bolo, cortei a parte que me segurava. Tentei nadar até a superfície que, sem o
anel do mago das águas parecia mais distante. Perto da superfície, pedaços de
gelo começaram a afundar junto com os escombros das naves que finalmente
chegaram ao solo.
Eu emergir
em meio a uma chuva de ferro e fogo onde meus amigos tentavam se proteger
entrando pela abertura feita na cachoeira que dava a uma caverna.
− NANDO! −
gritei. Ele se teletransportou e disse:
− Só posso
levar um. − Leve Pé.
Ele
aquiesceu e desapareceu junto com a garota loira. Eu subi no bloco de gelo com
Jean que ainda estava desacordada e percebi que, dos mortos-vivos só os que
foram queimados não estavam mais nos caçando. Em compensação, todos os outros
estavam próximos demais de mim e da Saiajeans que, graças a deus, acordou.
− Joaquina?
− Jean.
Só se for
graças ao deus dragão. Olhamo-nos por um tempo até que ela desviou o olhar
para o céu que caía e para o exército que havia derrotado ela. De repente ela
desviou de uma flecha rolando pro lado e criou sua aura novamente, então concentrou nas mãos e lançou sobre a placa de gelo em que os mortos-vivos
caminhavam. Quase todos mergulharam no lago gelado. Quase todos, pois Van conseguiu se segurar na borda. No início eu vi só a mão pálida e esquelética,
então saquei a espada de Bolo. Ao me aproximar vi a jovem que esperava por meu
golpe conformadamente.
− Espero
que tenha valido de alguma coisa. − disse ela entre os lábios submersos.
Eu me
abaixei e puxei-a para a superfície.
− O que
está fazendo? − indagou Jean.
− Não posso
matá-la.
− Não foi
isso o que ela tentou fazer com você?
− Se
quisesse teria acertado meu peito e não minha capa.
Com
as duas mulheres, corri para dentro da caverna que Papel fechou em seguida.
− Não
podemos ficar aqui para sempre. − falou Dente enquanto Nandinho observava Nessa
e Papel cuidarem de Pé.
− Talvez os
destroços derrubem eles para nós. − respondi.
− Aí eu
crio uma camada de gelo por cima e… o que ela faz aqui?
− Estou
lutando contra um inimigo em comum.
− E o que
isso significa a longo prazo? − perguntou Nessa. − O inimigo de meu inimigo é
meu amigo?
− A curto
prazo sim. − respondi.
− E quanto
a Testa? Ela estava nos atacando.
− Foi ela
quem nos alertou dos mortos-vivos. − informou Papel.
− Antes de
voltar a vida, um demônio mandou que eu desse uma mensagem a ela.
− Que
mensagem? − interpelou Nessa.
− Só posso
dar a ela.
− E você a
trouxe conosco?!
− Não posso
mandá-la de volta pro inferno.
− Eu posso.
− Vanessa,
não. − segurei seu braço que se preparava para atravessar o corpo moribundo de
sua xará. − Ela merece uma segunda chance. Uma chance de se redimir e, quem
sabe, ir pro céu.
− Ela disse
que um demônio quer que ela entregue uma mensagem a minha irmã. Acha que ela
vai pro céu assim?
− Que tipo de mensagem? − perguntou Nandinho.
− Uma
carta.
− O quê? −
tanto eu, como Papel nos viramos para a mulher. − Você não disse isso. − falei.
− Você não
perguntou.
− Eu quero
ler. − pediu Pé que acabara de acordar.
Todos
olharam de uma para outra enquanto Testa tirava do vestido encharcado e
maltrapilho uma carta negra, mas não pela tinta e sim pela fumaça do fogo do
mundo dos condenados. Enquanto Pé pegava a carta, todos nós nos olhamos
então percebi que havia uma pessoa a menos para olhar.
Fui direto
pro fundo da caverna criando uma bola de luz que iluminava o local transportando
a minha curiosidade sobre o que havia escrito na folha de caderno tirada do
envelope para o que a Saiajeans estava fazendo. Encontrei-a de frente para uma estalagmite.
− O que
está fazendo?
− Lendo.
Eu não
entendi o código, então percebi o que ela e o dragão quiseram dizer quando o
último disse: “Mas eu sei ler”. Ele se referia ao meu destino.
− Preciso
de luz aqui. − disse ela pedindo que eu me aproximasse.
Sobre a
estalagmite um pesado livro se sustentava aberto.
− O que
está lendo? − indagou ela.
− O que?
− Eu só vi
coisas sobre mim, como o dia em que eu havia me tornado uma Saiajeans nível 3 e
minha saia foi encurtada.
Certamente
ela deu uma olhada nas páginas anteriores, mas folheei as subsequentes.
Parei
Prendi a
respiração.
Li e deixei
a luz cair e se desfazer no chão de pedra molhada.
“E Danilo se tornará Mazda e Mazda, Danilo e
o segundo matará o primeiro, pois este será mal”.[3] Friedrich Nietzsche em “O Anticristo”
[4] Há várias cores de dragões e cada uma representa um poder disparado pelo mesmo. O dragão vermelho, por exemplo “espirra” fogo enquanto o branco “espirra” uma rajada de gelo.
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