Capítulo VIII - As Crônicas de Isabel: Príncipe Callel - Parte 2



MAZDA



Eu saí da escada com uma estranha sensação. Era uma mistura de nostalgia e daquela impressão de que alguém está atrás de você. Eu nunca tinha sentido aquilo antes, mas também nunca tinha entrado e saído de outra dimensão. De qualquer modo, não pude me concentrar muito naquela questão, porque algo era atirado da minha varanda, pegando fogo.



Ele caiu, mas logo em seguida apagou o fogo com umas batidas. Era Constelion. Antes que pudesse fazer qualquer pergunta outro ser com a minha face saía da porta da varanda com as mãos incandescentes.
Era o clone. 
– Então ele não mentiu. – disse ele. – Ele era realmente seu irmão vampiro.
– Tentei amaciá-lo pra você. – disse Constelion.
– Bom trabalho. – respondi.
Deu pra aquecer. – disse o clone se fundindo ao ar e voltando ao normal alguns degraus abaixo.
– Ainda tem um pouco para mim? – perguntou minha voz no topo da escada. Eu me virei.
Era Danilo.
– Não é possível.
– Achou que ia se livrar de mim, Mazda?
– Como fugiu do anel? – perguntei analisando o pedaço de ferro em volta do meu dedo.
– Você é tão errado que nem sua namorada é leal a você.

– Eu te avisei Mazda. – disse Constelion. – Só você partilha seus próprios pensamentos deturpados.
    Eu analisei aquela situação, então comecei a ri.

– Quer dizer então que meu irmão bastardo, meu clone e meu encosto vieram até aqui só para me destruir? – perguntei rindo ainda mais daquela situação ridícula. – Não terão a menor chance.

– Era o que eu esperava ouvir. – disse Danilo lançando uma bola de fogo que explodiu nas minhas costas sem o menor efeito.

– Sua vez. – falei para o clone, mas que me atacou foi Constelion desaparecendo e reaparecendo na minha frente com uma sequência de golpes tão lentos que eu poderia defender com uma mão.



Enquanto isso, o clone levantou uma cortina de poeira que me envolveu até me prender como uma mão de pedra tentando me esmagar, porém antes de esquentar sua mão pedregosa, eu explodi em uma bola de luz que queimou, não só a mão do clone, mas também o corpo todo de Constelion que caiu e rolou escada abaixo.
Em seguida mirei minha mão para o clone e controlei a água do seu corpo antes que ele se transformasse em qualquer outra coisa e fui separando suas moléculas até que ele se desfizesse em vapor.
Quando me virei soltei com a outra mão um raio de luz que saiu de uma das Canetas, contudo Danilo revidou com o mesmo raio.
– Sete. – disse ele sem que eu entendesse.
– O que está havendo aqui? – perguntou Vanessa do alto da escada.
– Ele é um clone meu, destrua-o. – disse Danilo.
– Como eu vou saber que você está falando a verdade?
– Quem te deu esse quimono foi o mesmo mestre que não quis dá-lo a mim, por me considerar fraco. Mestre Guga.
“Que história é essa?” pensei antes de receber um soco no estômago a distância. Eu recuei e me desequilibrei recebendo assim todo o poder disparado por Danilo.
Eu fiz uma cratera ao lado de Constelion que estava desacordado.
– Braço, temos que salvar minha irmã! – ouvi Vanessa dizer de lá de cima.
– O que houve com Pé.
– Um demônio e um anjo traidor a raptaram.
– Como é?
– Eu deveria ter previsto isso, quando Dente (Diego) a aconselhou a trazer todos os mortos da Terra.
– Pé fez o que?!
Percebi que o silencio de Vanessa era símbolo da dúvida de que Danilo era verdadeiro, mas não dei muita importância a isso, afinal, o poder de Danilo conseguiu quebrar a Caneta que criava vida. Sua tinta dourada pingou no buraco de onde, entre um pedaço de paralelepípedo e outro começou a nascer uma árvore frondosa que partia os fios com seus galhos extensos que iam até sabe-se lá onde.
“Que legal. Criei o Pé de Feijão.”


– Nessa! O último Braço que tem estado com vocês desde sei lá quanto tempo é uma fraude. – escutei Danilo dizer como se aquela árvore fosse uma nuvem passageira que com o vento se vai. – Ele me aprisionou em um anel, mas por sorte sua namorada me libertou. Agora eu estou aqui tentando extirpá-lo da face da Terra.
– Isso é mesmo verdade? – perguntou para mim.
– Sim. – disse surpreendendo o boboca do Danilo que imaginava que eu fosse negar como eu fiz com Diego. – Mas seja sincera. Prefere a mim ou a ele? Eu tenho o poder necessário para buscar sua irmã do mais profundo inferno.
– Ela não está no Inferno. – disse Danilo aparentemente normal. – Um anjo não poderia entrar lá. Mas com certeza ela vai estar em um lugar de difícil acesso. Nada que eu já não tenha enfrentado antes.
– Qual é, Vanessa? Eu tenho em minhas mãos uma caneta que pode fazer o que eu quiser. É só escrever.
– E que não foi o suficiente para me deter, não é verdade? – debochou.
– Nada que eu não possa fazer em segundos.
Comecei a escrever que um raio caia e partia Danilo ao meio, porém ele lançou o meu poder contra mim. Desviei e fui para trás da arvore que supus que ele não derrubaria, pois sua queda seria catastrófica. Contudo me esqueci da super-velocidade de Vanessa que chutou a caneta da minha mão com um golpe e socou fortemente minha barriga com um soco, dessa vez de perto.
Doeu. E muito.
Não obstante, amarrei seu braço num cipó e dei uma ajoelhada em seu rim.
Ao me virar para a caneta no chão, Constelion já estava nela. Criei uma espada de gelo e quando ia cravar no meu irmão traidor, Danilo soltou uma bola de fogo derretendo-a. Me virei jogando uma onda nele, mas ele zarpou para os céus escapando da primeira onda, mas não iria da cachoeira de água que ergui aos céus em sua direção se não fosse Vanessa cortando minhas costas com um chute, mesmo presa.
Quer dizer, ela já não estava mais presa.
– É uma pena ter que te destruir. – disse fazendo com suas moléculas o mesmo que eu fiz com as do clone, contudo, Constelion cravou seus dentes em meu pescoço.
Eu me liquefiz e o envolvi o afogando em uma bola de água. Ou tentando, pois não fazia efeito.
“Desgraçado.”
Recuperada do meu poder, Vanessa preparou um soco mais potente para me dar, porém, creio que Danilo percebeu que eu colocaria Constelion na frente e entrou no globo de água explodindo em chamas em seguida, jogando o vampiro contra Vanessa.
Os dois caíram no chão e eu bati no pequeno muro do minúsculo jardim de Zinha (dona da casa de baixo da minha). Para minha surpresa, quando eu voltei ao normal, parte da minha roupa e do meu corpo estavam queimados.
“Droga!”
– A vida não é fácil, não é? – falou Danilo enquanto a água que eu joguei nele caia em pingos quentes.
– Principalmente se você não tiver isto. – disse Constelion se levantando e ajudando Vanessa a se levantar.
Eu tentei puxar a caneta mentalmente das mãos do vampiro, mas ele era forte o suficiente para segurá-la.
– Sem seu brinquedinho, você não é muita coisa não é? – perguntou Danilo alimentando uma bola de fogo na mão e mirando contra mim.
– Eu sou um mago da água, Danilo. Acha mesmo que não posso deter seu fogo? – preparei uma bola de água em resposta.



– Acredite. Esse vai ser um fogo especial. – ouvi Danilo dizer isso enquanto Constelion escrevia algo no ar.
“Isso não seria muito bom.”
– Pare! – ouvi Cassandra gritar antes que seus cabelos ruivos a precedessem bem no meio de nós. – Dan, não pode fazer isso. – disse.
– Saia da frente Cassandra.
– Não pode matá-lo.
– Eu devo.
– Mazda não mentiu quando disse que ele seria essencial para salvar a sua irmã. – disse a Vanessa.
– Eu posso fazer. Todos nós podemos, não precisamos dele.
– Vai discutir com uma vidente?
– Você não está aqui como vidente e sim como a namorada dele. – como eu imaginei, Danilo não caiu no argumento de Cassandra.
– Acredite, Dan. Como namorada dele eu me colocaria na frente de quem quer que fosse que tentasse feri-lo. Você já viu isso antes. Mas eu falo a verdade.
– Como eu posso confiar em você?
– Alguma vez eu menti pra você?
– Não. Mas não confiou em mim, quando eu disse que não deveria trazer Mazda de volta. Você não me ouviu e eu acabei em um anel.
– Eu salvei você.
– Eu já lhe agradeci. Mesmo sabendo que você não fez nada além de me tirar de um objeto e me colocar em outro.
– Mal-agradecido. Deveria tê-lo deixado no anel. – disse.
– Essa discussão toda não vai nos levar a nada. – interrompeu Vanessa. – eu tenho que salvar minha irmã. Se alguém quiser vir, eu vou para a passagem no Beco do Cajá me encontrar com Papel. Usem a mesma passagem. – e como se fosse um vulto, Vanessa desceu a rua e sumiu de vista.
– Não precisa desperdiçar seus poderes, irmão. – disse Constelion. – Com essa Caneta eu posso destruí-lo sem precisar tocá-lo.
– Constelion, por favor, não faça isso. – implorou Cassandra. Na verdade aquilo era deprimente. Eu queria muito viver, mas não me sentia bem estar sendo protegido por uma mulher que implorava pela minha vida.
– A decisão não é minha. – disse o vampiro.
– Deve ser muito humilhante ser salvo por uma mulher não é? Duas vezes. Deve ser deplorável, pra você. – ele riu vitorioso.  – Não o mate, disse apagando o fogo da mão.
– Tem também que devolver a ele a Caneta.
– Sem chance. Eu não confio nele nem com meus anéis.
– Ele irá devolver seus anéis, mas tem que lhe devolver sua Caneta.
“O que?!”
– Você realmente quer comparar.
– Ele não irá fazer nenhum mal a você, nem a Constelion, porque ele mesmo vai escrever que vocês estarão imunes a qualquer coisa que ele escreva.
– O que?! – dessa vez eu exprimir.
– Temos um acordo, Dan? – perguntou Cassandra erguendo a mão.
– Os anéis e imunidade contra a Caneta… – disse pensativo.
– Ficou doida? – perguntei no ouvido dela.
– Eu sei o quanto vocês se odeiam, e que fariam qualquer coisa para matar o outro, então nada de mais eu salvar sua vida e garantir que não tire a deles.
– É… talvez seja mesmo. – Danilo apertou a mão de Cassandra que, com a outra mão foi tirando anel por anel dos meus dedos e passando para o encosto. – Senti sua falta. – disse Danilo analisando um anel prateado que ele colocava no dedo mindinho e que não lhe conferia poder algum.
Enquanto isso Cassandra pegava a caneta na mão de Constelion.
– Quer que eu escreva ou você vai escrever? – perguntou ela. Certamente previu que eu não ia escrever nada do que ela pediu. Mas não tive escolha.
– O que significa isso? – perguntou Danilo mostrando o anel das sombras com sua pedra negra totalmente transparente.
– Falha de percurso. – respondi sarcasticamente.
Ele arqueou uma sobrancelha e colocou o anel no bolso.
De repente começou a chover, então Danilo falou:
– Essa é a nossa deixa.

Descemos a rua toda e subimos outra escada numa viela. Cassandra e Constelion conversavam sobre o tal plano deles de devolver o rosto ao vampiro enquanto eu e Danilo ficávamos calados após lhe contar tudo o que havia acontecido em Isabel. Poucos passos à esquerda e estávamos de frente para uma barreira feminina na frente de onde o beco se estreitava mais.
– Dani! Não imaginava te ver aqui. – disse a que parecia ser a líder do grupo.
– Ainda se lembra de mim, Kinha (Érica)?
– Claro. Quer dizer… – disse olhando para mim e para Constelion. – Dani, você triplicou?
Ele riu.
– Não. É uma longa história que terei o prazer de contar depois, mas agora temos que ir a um lugar. Uma garota de quimono deve ter acabado de passar por aqui. Estamos com ela. Vamos para o mesmo lugar.
– Lamento, mas só garotas podem passar por aqui.
– Como é? – perguntei.
– Se quiserem ir para a outra rua, tudo bem, mas usar esse beco como passagem, só garotas. E elas têm que pagar um pequeno pedágio.
– Que pedágio? – perguntou Cassandra.
– Um beijo. – respondeu a tal Kinha com simplicidade.
– Na boca?
– De língua.
– Ela não vai fazer isso. – falei.
– Tem que haver outro jeito. – disse Constelion.
– Eu tenho namorado. – explicou Cassandra.
– Constelion, tem como nos teletransportar para onde Nessa foi? – perguntou Danilo.
– Lamento, são as regras. – concluiu Kinha.
– Só posso ir onde eu já fui ou vi. – respondeu Constelion.
– E como chegou até aqui? De avião? – questionou Danilo.
– Deve abrir uma exceção. É um caso de vida ou morte. – tentou Cassandra.
– Você vai nos deixar passar por bem ou por mal. – resumi.
– Exatamente. – afirmou o vampiro.
– Eles não irão passar e você irá só se me beijar. – encerrou a líder.
– Não precisa haver derramamento de sangue. – interveio o encosto segurando meu braço e me puxando de volta para onde elas não poderiam nos ver.
Minha namorada e meu cunhado nos seguiram.
– É simples. – começou Danilo. – você nos transforma em mulheres momentaneamente e passamos. Simples.
– Será que ela não vai desconfiar? – perguntou Cassandra.
– Não se não formos todos de vez. Eu vou com Mazda e você vai com Constelion dizendo que é uma ajuda.
– E iremos todos pro mesmo lugar? Seria coincidência de mais. – disse o vampiro.
– O simples seria se eu simplesmente escrevesse que ela nos deixa passar. – disse indo escrever no pequeno muro.
– Não vai adiantar. – disse Cassandra, mas eu já havia escrito e, em vez da frase simplesmente sumir, ela se reagrupou formando outra frase com letras adicionais:
Não se pode interferir no livre arbítrio das pessoas.”
– Que novidade é essa? – perguntei.
– Nunca pediu que alguém fizesse algo da sua vontade? – perguntou Danilo maliciosamente olhando para Cassandra.
– O jeito vai ser lutarmos contra ela. – disse minha namorada enquanto eu fuzilava Danilo com os olhos e controlava minha vontade de lhe arrancar a cabeça com a Caneta, mas não seria escrevendo. – Como Constelion não tem poderes, você vai ter que dá um a ele.
– Ele pode sugar o sangue de uma delas e pegar seu poder. – disse frio.
– Isso é repugnante! – falou o vampiro.
– Por favor, Maz.
Relutantemente eu atendi ao pedido de minha namorada.
– Que poder eu dou a ele?
– Que poder você quer, Constelion? – perguntou ela.
– Ah… eu não sei. Nunca ansiei por poder algum. – respondeu em dúvida. – Mas o poder de meu primo Bob é interessante.
– Não quero que transforme Kinha em estátua de ferro. – falou Danilo. – Que tal o de Ph de duplicar coisas e absorver o a energia resultante.
– Por que quer que Constelion tenha esse poder Dan?
– Você já sabe a resposta.
– E não se dá nem o trabalho de esconder.
– Eu não sou hipócrita. – disse olhando para mim. – Além do que, sentiria meus pensamentos de qualquer forma.
– Ta resolvido. – Disse no meio do silêncio em que Danilo e Cassandra se analisavam após a frase não tão intrigante de dele. – Constelion vai poder absorver o poder de toda mulher que quiser, sem precisar mordê-la, basta tocá-la.
– Eu tenho que tocar?
– Você pode sumir e reaparecer em um piscar de olhos. Você dá conta. – respondi.
– Não queríamos tornar tudo muito fácil pra você, não é? – falou Danilo, dizendo exatamente o que eu ia dizer.
Eu ia escrever na parede, mas ela pegou minha mão e começou a apertar. Eu puxei meu sabre e cortei o braço de tijolo. A parede gemeu e me deu uma pesada na cara. Danilo ia disparar meu raio, porém ela socou-o jogando contra a outra parede que abriu um buraco deixando ele passar e fechando em seguida.



– Saiam daqui! – gritei para Constelion e Cassandra.
Em vez de voltar por onde viemos, o desgraçado correu com ela para a barreira da sapatona, no entanto uma mão de pedra saiu de cada parede esmagando meu irmão vampiro. Cassandra soltou, relutante, sua mão e continuou correndo.
Vários martelos saíram da parede à minha frente tentando me esmagar, mas eu desviei de todas, me levantando no final e cravando minha espada laranja no meio do muro começando a derretê-lo. Segundos depois a parede às minhas costas explodiu e os destroços derrubaram o resto da outra.
Danilo apareceu entre os destroços e a poeira indo em seguida até Constelion:
– Você está bem?
– Eu aguento. – respondeu se levantando.
Vendo que os dois estavam bem fui até onde a barreira esperava minha namorada e o que vi foi surpreendente. Cassandra estava dando o tal beijo em Kinha passando em seguida pelo beco e sumindo logo após, não antes de piscar pra mim.




– Uau! – disse Danilo.
Olhei pra ele reconsiderando a ideia de lhe arrancar a cabeça.
– Lamento meninos, mas só ela podia passar.
– Pela nossa amizade Kinha. Deixo-nos passar. – disse o encosto.
– Lamento, Dani, mas agora eu sou minha própria líder e eu dito as minhas regras aqui.
– Mazda, escreva e eu a atacarei. – sussurrou Constelion.
– Preciso de uma distração. – disse.
– Pode deixar. – falou Danilo. – Não me obrigue a lutar contra você, Kinha. – falou se adiantando.
– Seria realmente uma lástima.
– Que assim seja. – Danilo lançou uma bola de fogo, mas o poder foi lentamente parar na boceta que a líder segurava na mão. Assim que o poder foi absorvido pela caixa, um anel na mão da garota brilhou. – Mas…
– Artefatos novos. – disse pouco antes de revidar o poder que dessa vez veio em alta velocidade. Danilo não teve tempo nem de se defender com água.
Ele passou entre eu e Constelion e entre nós e a líder lésbica, suas colegas se prostraram.
– Sua vez Constelion. – disse ao terminar de escrever.
O vampiro se teletransportou para trás de Kinha, mas antes que sua mão tocasse o pescoço dela, a garota soltou um impulso nele igual ao que Eku disparava jogando-o através do beco, não obstante, antes de chegar ao outro lado, Constelion sumiu. No mesmo ponto que Cassandra.
“Cassandra deixou a passagem aberta.” Pensei antes de ficar invisível enquanto Danilo se recuperava e levantava.

Antes que me xingasse por pensar que eu havia fugido, Danilo viu um raio atingir a cara de uma; outra sendo empurrada para trás caindo; a terceira sendo jogada contra a parede e a última sendo transpassada por alguma coisa quente o suficiente para cauterizar a ferida antes que ela sangrasse. Aproveitando a deixa Danilo entrou no chão e apareceu bem atrás de Kinha que havia descoberto o que deixou o portal aberto. Eram dados vermelhos colocados bem no meio do portal. A líder (não tão) feminina destruiu cada um com pequenos raios transparentes que saiam de seu dedo indicador fechando o portal em seguida, contudo ele foi reaberto quando Danilo atravessou seu braço pela barriga de Kinha que tinha se virado e deu o comando dizendo:

– Artefatos novos.
Sem perder tempo com a luta dos outros, eu me teletransportei de novo para trás de uma garota que se virou a tempo para defender meu ataque com o braço nu. Pelo que eu percebi, a soqueira que ela usava tornava seu braço forte o suficiente para não queimar nem cortar com o laser do meu sabre.
“Droga!”
Ao meu lado, uma garota parecida com a vice-líder jogou um pó preto em mim revelando minha posição para que outra menina atrás de mim me atacasse com um canivete, contudo este quebrou na minha roupa cinza-escura. Dei uma cotovelada nela, um chute na outra e quando me virei para a pequena do pó preto, ela lançou uma gota de fogo em mim que incandesceu o que pareceu ser carvão. Ao contrário da bola de Danilo, essas chamas me queimavam e, pra piorar, ela assoprava fazendo o fogo aumentar, não de tamanho, mas de temperatura.
Eu não consegui segurar a espada que foi tomada pela vice-líder. Pensei na chuva que caía, porém o beco parecia estreito demais para que caíssem gotas de água o suficiente. Pensei no anel do poder da água, mas então lembrei que estava com o encosto. Este por sua vez recebia um poder de Kinha que o jogava longe.
– Minha experiência com Paulinho foi um bom aprendizado pra seu truque de absorção de poderes funcionar comigo Dani. – dizia Kinha.
– Acredite, eu ainda tenho uma carta na manga. – respondeu.
Eu não poderia ficar à mercê da conversa de reencontro daqueles dois. Apesar de eu estar com medo de que a braço-de-ferro pegasse a minha caneta como pegou minha espada, ela agora era a minha única saída. Isso se Constelion não aparecesse de volta no meio do beco onde ele sumiu. Isso chamou a atenção de Kinha que se virou para ele deixando que Danilo jogasse um rio em mim apagando o fogo. Uma garota que estava mais perto dele derrubou a parede sobre a sombra dele e quando a o rio secou eu já havia me teletransportado para trás da incendiária e disparei meu raio nas costas dela. Enquanto isso Danilo puxou a vice-líder para o chão como Esforiöul fez comigo uma vez. E no momento que Kinha disparou contra Constelion, este foi mais rápido sumindo e reaparecendo na frente da líder lhe dando um chute na cara que a derrubou.

A garota que tentou me dá uma canivetada ficou sem reação e quase levou um raio também se a que eu joguei na parede não tivesse cortado meu pescoço. Eu caí ajoelhado e, enquanto eu me recuperava, vi Danilo surgindo da parede e cortando a cabeça da menina com meu sabre em uma mão e com a outra congelou o sangue da que eu tinha chutado. A guria que controlava as paredes ergueu a que derrubou sobre Danilo transformando-a em um gigante de tijolo de garras de ferro e, com um tubo tentou bater no vampiro, mas ele se teletransportou para trás da menina tentando tocá-la, mas ela desviou e enfiou seu canivete no peito de Constelion, quase no coração onde seria fatal.
Meu irmão cambaleou para trás enquanto eu e Kinha nos levantávamos. A que cortou meu pescoço mirava sua faquinha para Danilo que tinha meu sabre. Deliberadamente eu peguei-o de volta e me coloquei entre Constelion e a garota das paredes.

– Desista, Danilo. – disse Kinha. – Você nunca vai conseguir passar por esse beco.
– Meu irmão passou. – respondeu.
– Seu irmão está quase morto.
– Estava. – disse Constelion retirando a faca. – Gosta de tirar sangue dos outros? – perguntou para a menina-muro.
– Deixe-nos passar e não matarei mais nenhuma de suas colegas. – ofereceu Danilo.
– Volte e eu não matarei seu irmão. – contraorfetou.
– Acredite, eu sou muito difícil de matar.
Ficamos naquela situação um tanto tensa por um tempo até que um raio do beco atingiu as costas de Érica desacordando-a.
– Não temos tempo para isso. – falou Cassandra. – Se não formos agora, não poderemos ir para onde a garota foi levada.
– Do que você está falando? – perguntei.
– O anjo e o demônio usaram uma passagem que se abre a cada hora, porém já vai dar onze horas e depois dessa abertura, não poderemos ir para um dos destinos que foi aberto hoje.
– Isso é mal. – disse o vampiro.
– Então vamos acabar logo com isso. – disse disparando o raio de luz contra a garota que defendeu como se fosse feita de pedra, resistindo ao poder.
A que me esfaqueou foi pra cima de Danilo com o canivete, porém ele a jogou para fora do beco controlando o sangue de seu corpo. Cassandra disparou um raio de sua bola de cristal contra o gigante de pedra, mas este rebateu com o tubo fazendo ela voltar pelo beco. Pulei pra cima dele, mas fui recebido com garras de ferro que me atravessaram. Constelion se teletransportou para trás da garota, porém antes que ela lhe desse uma giratória ele sumiu de novo e ficou assim até que Kinha disparasse uma bola de energia verde acertando-o em cheio. Danilo disparou meu raio, mas a líder colocou a caixinha de anel na frente. Eu cortei o braço do gigante e, antes que eu caísse, parei o poder a poucos centímetros da caixa.
– Esse é para poucos.
O gigante virou tentando me bater com o tubo, mas ele passou direto. Cassandra voltou e jogou búzios na direção da menina de pedra, contudo as peças flutuaram em volta da garrota formando uma constelação. Em seguida o gigante lançou seu bastão onde Kinha estava segundos antes. Quando se levantou, eu a ataquei com meu sabre, entretanto ela desviou tão rápido quanto Vanessa me dando uma vaga ideia do porquê de ela pedir um beijo. E depois de se esquivar tantas vezes ela segurou meu braço que iria descer com tudo dividindo-a ao meio verticalmente. O gigante de um braço tentou bater nela com o tubo, porém soltando uma mão, ela mirou o indicador para onde ficaria o rim dele e disparou seu poder transparente que atingiu o peito de sua colega “desativando” o pedregulho ambulante. Defendendo com apenas um braço, Kinha não podia resistir ao meu ataque que lhe causou um corte no rosto e em sua blusa deixando-a semiaberta. Cassandra jogou os búzios flutuantes no monstro que acordou e tentou bater na líder de novo que, por sua vez, se dividiu em quatro.
A primeira lançou uma bola de fogo que parou no meu sabre. A segunda lançou pelo tubo que voltava a posição normal, um poder azul que brocou o peito do grandalhão. A terceira foi até Danilo em alta velocidade lhe atingindo com uma sequência de socos supersônicos. A quarta criou duas bolas vermelhas paralelas verticalmente e as lançou contra Cassandra, porém, antes que batessem no manto estrelado da minha namorada as duas esferas se fundiram causando uma grande explosão jogando-a de volta pelo beco.
Eu apontei o sabre para a primeira e disparei um raio mortal que a deixou igual ao gigante de tijolo. Com essa mesma energia eu girei e cortei as costas e a barriga da de Danilo. A Kinha rapidinha foi dividida ao meio. Danilo caiu no chão, mas disse que ficaria bem.
A outra jogou as duas bolas contra mim, mas a diferença era que elas me circulavam e não explodiam.
– Por mais forte que seja, se passar por essas esferas você irá morrer.
Não dei muito crédito a isso, contudo o que me surpreendeu foi que a verdadeira líder estava diante de Constelion fazendo um ritual nele que, depois de alguns segundos, trazia de volta a vida suas companheiras.
“Isso não é nada bom.” Mas quando tudo parecia perdido, Vanessa atravessa o portal e, puxando uma energia do corpo dispara um disco num golpe de caratê que joga Érica contra a parede. Tanto os orbes como a Érica que criou, somem.
– Pegue Braço. – ordenou ela enquanto ia até o Constelion e o levava até o beco.
Perto da passagem eu olhei pelo ombro de Danilo e vi que a líder se levantava para um último esforço, mas não antes que eu escrevesse que eles seriam em vão.







Passamos pela tal passagem no beco e aparecemos num corredor do que parecia ser um ancoradouro. Então eu percebi que estávamos no Canal do Panamá.
– A onda já está vindo. – disse uma escultura de gelo.
– Jogue a moeda. – falou Vanessa.
A escultura que tinha um tanque de nitrogênio líquido nas costas pegou uma moeda, porém antes de jogá-la na grande passagem, ele recebeu um tiro que brocou seu peito e perfurou o tanque que caiu no chão liberando o líquido congelante.
 Eu olhei para o outro lado e, entre milhares de mortos-vivos, um homem em uma moto estava com uma pequena espingarda apontada para onde a estátua estava.
“Droga!”
Cassandra, que já estava quase recuperada, pegou a moeda e antes que também levasse um tiro eu joguei Danilo no chão e disparei meu raio derrubando-o da moto. Minha ruiva jogou a moeda no momento em que uma onda vinha da ponta esquerda. Ela era imensa e ultrapassava a altura da mureta, mas não invadia.
– É agora! – gritou Vanessa pulando com Constelion nos braços.
Eu me virei para Danilo ainda no chão e perto do nitrogênio eu o joguei lá embaixo. Quando a onda já estava nos alcançando eu pulei com Cassandra.
A água nos envolveu e nos empurrou para cima com uma pressão absurda, no entanto isso não demorou muito.






Logo estávamos numa praia pequena. O lugar era insólito. À nossa frente havia uma torre imensa e sem porta com uma única janela, sendo que na frente dela uma ventania incrível passava rodeando a torre e indo para outra em outra ilha onde havia uma torre idêntica. O céu era azul no alto mar, ficava cinza em cima da ilha e no outro lado era negro.
Era literalmente o fim do mundo, onde o vento faz a curva.
– Estão todos bem? – perguntou Vanessa.
– Apesar de eu ter sido jogado de qualquer maneira, estou bem sim. – disse o encosto tão recuperado quanto Cassandra.
Só Constelion que parecia fraco.
– Não sei se foi uma boa ideia trazê-lo. – disse.
– Com o poder que você deu a ele, Constelion será necessário. – disse Cassandra.
– Minha irmã deve estar nessa torre. – falou Vanessa subindo a duna de areia que levava a parte mais alta da praia.
A duna não tinha nem dez metros. Quando Vanessa chegou à metade, Danilo perguntou:
– Onde está Papel?
– Ele veio na fren… cuidado! – ela havia se virado e visto o homem na moto apontando para Danilo.
Usando sua velocidade, Vanessa derrubou Danilo antes dele receber o tiro. Cassandra mirou sua bola de cristal nele, mas os raios não surtiram efeito. Ele foi atirar nela quando eu lancei meu raio de novo, contudo ele rebateu com uma corrente. Vanessa novamente saiu em alta velocidade e tirou Cassandra do alvo do tiro dando a deixa para Danilo trazer uma enorme onda que o engoliu, contudo o motoqueiro criou fogo o suficiente para evaporar a água que o prendia.
– O que?!
– Deixem ele comigo! – gritei. – Vão!
Cassandra jogou seu manto sobre Constelion e subiu junto com Vanessa e Danilo. O homem atirou em mim, mas eu rebati com minha espada todas as balas e por último lancei meu raio de luz. Ele rolou para o lado e jogou sua corrente em mim. Coloquei o braço em frente ao meu rosto protegendo-o. A corrente prendeu em meu braço, então ele me puxou para me dar um soco no estômago, contudo não foi um simples soco. Sua luva estava cheia de espinho de ferro que passaram pela minha roupa e me feriram.
“Isso já ta virando moda.”
Com a outra mão, enrolada na corrente, ele me deu um murro na cara me tirando algumas gotas sangue. Eu me afastei alguns passos, mas ele me puxou de volta me dando uma joelhada na barriga dessa vez. Logo em seguida ele enrolou a corrente no meu pescoço e começou a me enforcar. Tentei me teletransportar, mas a corrente não deixava.
“Droga.” minha opção foi usar o sabre para cortar a corrente. Me virei e lancei meu poder pelo sabre, igual como eu fiz com um dos clones de Érica. A energia atravessou a barriga do infeliz, mas para minha surpresa, em vez de sangue saiu labaredas de fogo.
– O que é você?
    – Um demônio. – disse criando fogo pelas mãos e se preparando para lançar em mim.





Eu uni a Caneta ao sabre transformando sua cor laranja em um azul divino e assim defendi a onda de fogo dele abrindo-a em duas partes deixando o meio livre para eu mirar nele e mandá-lo a cem milhas náuticas de distância.
Desuni os dois objetos e os guardei. Fui até meu irmão e escrevi que ele melhorava.
– Onde estamos? – disse após recuperar a consciência e observar a pequena ilha que estava.
– Eu diria que estamos no fim do mundo. – respondi subindo a duna até a torre onde não vi ninguém.
– O que aconteceu exatamente?
Enquanto eu voava até a janela levando Constelion, eu contei-lhe o que havia acontecido depois que foi atingido pela líder do Beco da Cajá.
Entramos na torre pela janela e vimos Cassandra, Danilo e Vanessa observarem um vulto de capuz dando uma foiçada em uma corrente flamejante sem sucesso.
– Por que não funcionou? – perguntou Vanessa.
– Acho que só funciona com coisas vivas. – respondeu Cassandra apontando uma carta para o ser que foi absorvido pelo objeto segurado por minha namorada.
– Eu… só pré… só preciso de minhas forças de volta. – disse Rômulo num sussurro.
Danilo se virou para poder me chamar, mas eu já estava ali escrevendo que Rômulo estaria no zênite de seu poder. À priori, nada aconteceu, mas após um suspiro frio ele se ergueu e congelou, não só as correntes, mas também o fogo que nunca apagava. E com um pouco de força, quebrou os elos que lhe mantinha refém.
– Papel, você está bem? – perguntou minha ruiva.
– Bem, eu estava quando acordei hoje de manhã. Eu estou ótimo.
– Onde está Larissa? – perguntei.
– Na outra torre. Vigiada por um anjo no lado de fora e um soldado do Inferno no de dentro. De vez em quando um dos dois que querem o anel vem e a torturam. Dá pra ouvir seus gritos daqui.
– Larissa é forte, ela não vai entregar o anel.
– Você nem a conhece! – me disse o encosto.
– Espere! Vocês são três? – perguntou Rômulo no momento que se ouviu o grito de Larissa da outra torre.
– Não temos tempo para isso. – disse Vanessa pegando distância em direção a janela que dava para a outra, algumas dezenas de metros à frente.
– É um dos dois? – perguntou Constelion.
– Não. – respondeu Rômulo quando Vanessa disparou pela janela para a outra torre.
Danilo a seguiu voando levando Constelion. Rômulo construiu uma ponte de gelo e caminhou sobre ela até a prisão da prima e quando Cassandra ia fazer o mesmo eu segurei seu braço.
– Você fica.
– O que?
– Eu não quero que se machuque.
– Eu posso ajudar…
– Já tem gente de mais lá. Você fica aqui. Se ouvir alguma coisa, grite.
– Mas Maz…
– Cassandra! Eu não vou repetir.
Eu voei pela janela e destruí a ponte de gelo. No meio do caminho eu vi um homem com uma grande capa sair voando após ter quebrado a parede com o poder que Danilo. Dentro da torre Vanessa tinha acabado de soltar a irmã.
– Você está bem? – perguntou Danilo depois que Rômulo perguntou depois que Vanessa perguntou. Só faltava…
– Onde está Constelion? – minha pergunta foi pontuada com um poder divino vindo literalmente do céu que desabou o teto sobre nossas cabeças.
Eu fui o primeiro a levantar e ver um anjo pegando Larissa pelo braço e dizendo:
     – São seus amigos? Se não me der o anel, acabarei com eles agora mesmo.


– Não se eu não acabar com você antes. – disse tirando uma grossa placa de concreto sobre minhas pernas.
Disparei o poder que foi repelido pela espada flamejante do anjo. Em seguida ele bateu as asas me jogando para fora da torre. Eu planei e voltei voando com minha espada novamente divina. O impacto de nossas armas causou uma explosão de ar que estremeceu as duas torres. Me inclinei para cima dele e chutei seu peito derrubando-o. Tentei escrever que uma passagem se abria para que todos fossem embora, mas o desgraçado do anjo flechou minha mão. A Caneta ficou entre meus dedos.
– Por que faz tanto esforço para me abandonar? – perguntei para a Caneta, mas me virando para o anjo e disparando meu poder pelo sabre. Ele defendeu com sua espada enquanto Larissa tentava em vão retirar a flecha da minha mão.
O segundo a levantar foi Danilo que atravessou a pedra em cima dele no exato momento que minha caneta escorregava com o sangue pelos meus dedos e o homem de capa voltava ao topo da torre ajudado por tentáculos que saiam dela. Danilo pulou em direção a Caneta que quanto mais caia, mais tirava meu poder fazendo o sabre desaparecer, contudo, um quinto tentáculo saiu da capa do homem de capacete segurando a perna do encosto, mas isso não impediu que ele espalmasse a Caneta para mim. Eu me joguei contra a Caneta me fundindo a ela. Tirei a flecha, criei um arco e lancei contra o anjo que rebateu com sua espada de fogo. Criei outras flechas e continuei a atirar e o infeliz continuou a rebater.
Danilo puxou o homem pelo tentáculo e quando este caiu em cima dele, o encosto disparou o poder da caneta que ele copiou na cara dele. O demônio bateu na parede da torre. Logo após Danilo soltou um kamehameha com meu poder que fez o dito cujo atravessar o prédio de pedra. O encosto deu a volta voando e com telecinese fez a capa do cara enrolar no próprio pescoço.
Enquanto isso eu ia lançando mais flechas, só que em vez de rebater o anjo estava fazendo elas voltarem. Então eu tinha que atirar e desviar. Nesses desvios eu vi Rômulo saindo de alguns escombros com Vanessa desmaiada nos braços. Ele pegou Larissa com o outro e fez uma escada até o chão. Vendo que aquilo poderia ser uma má ideia, eu parei de disparar flechas contra o anjo e fui até ele com meu sabre divino. Começamos a lutar freneticamente criando uma ou outra explosão de ar enquanto Rômulo descia com suas primas e Danilo estrangulava o demônio que sussurrou:
– Se me matar, nunca mais verá o vampiro.
– O que? – Danilo afrouxou o nó.
– Ele está dentro de minha capa. Se me matar ele ficará lá para sempre.
Ao ouvir isso Danilo arrancou a capa do dito cujo e a estendeu a sua frente deixando o cara cair na areia lá embaixo. Ele meteu a mão dentro da capa e segundos depois a retirou segurando algo. Era a mão de Constelion que saiu da capa, ferido, porém com sangue na boca.
– Como?! – ouvir o demônio perguntar de lá de baixo.
– Dizem que quando você morre você descobre a resposta de todas as perguntas… – disse colocando a capa e retirando uma arma dela. – espero que descubra essa.
Como eu tive que dá atenção ao meu oponente que me atacava rápida e quase certeiramente, eu não pude ver, mas ouvir o tiro que Danilo deu.
– Se eu te perguntar, você não vai me matar não, né? – perguntou o vampiro fazendo Danilo rir.
– Eu posso usar o mesmo poder que meu oponente.
– Como?
Isso é segredo.
Após essa mini-resenha, Constelion foi até o trio Pomponet lá embaixo e Danilo veio me ajudar com uma espada vinda de sua nova capa.
Nosso trabalho em equipe foi perfeito. Parecia que ainda estávamos no mesmo corpo, pensando exatamente igual. Apesar disso, o anjo era muito bom e não seria fácil derrotá-lo. Ele estava tão acima de nós a ponto de nos atingir com uma asa, cada e nos fazer colidir nos empurrando em seguida com um golpe de espada que derrubou as nossas. Porém seu erro foi guardar sua arma e tentar nos atingir com uma bola de luz divina, cada.
Eu me teletransportei para o chão onde estava minha espada e rebati o globo que, como eu havia imaginado, me seguiu. Já Danilo, simplesmente deixou que o poder entrasse em sua capa se perdendo nela. Surpreso, o anjo não viu a bola de luz que vinha rapidamente em sua direção ela o atingiu em cheio jogando-o na ventania de onde não conseguiu sair sendo levado para alto-mar.
O encosto pousou onde nós estávamos e disse:
– Bom trabalho.
Eu sorri enquanto com o dedo eu escrevi que uma porta era criada na torre onde Cassandra estava permitindo que ela saísse de lá.
– Mazda! – ela correu até mim e me deu um abraço caloroso. – Você está bem?
– Claro. – respondi.
Fui até Larissa e escrevi que ela se recuperava ficando com cem por cento de sua saúde.
– É melhor irmos. – disse Vanessa olhando para onde a moto do motoqueiro estava.
Porém ele seria uma pequena preocupação comparada ao batalhão de demônios e bestas que subiam um imenso abismo que era onde o horizonte terminava.
– Há como voltar para o Panamá? – perguntou Larissa.
– É uma passagem só de ida. – respondeu Rômulo.
– Não é mais. – escrevendo tão rápido quanto se faz um traço no ar eu nos teletransportei de volta ao Canal.
Os mortos-vivos continuavam lá impassíveis esperando pela sua mestra. Tanto eu, como todos os outros já estávamos empunhando nossas armas esperando por mais algum ser extraplanar, mas não havia nenhum.
− Parece que acabou. − disse Cassandra lendo meus pensamentos.
− Braço, o que houve? − perguntou Larissa. − Por que você voltou? Aliás, qual de vocês é Braço?
Cassandra se adiantou e contou toda a história da maldição e da divisão.
− E respondendo sua pergunta: soube que você estava sendo atacada por seres alados tanto os de tridente, quanto os de espada de fogo. − disse. − precisava proteger você.
− Que comovente. − falou Danilo.
− Como Arquiteto, era meu dever resolver todo tipo de problema cósmico mesmo o que não foi iniciado por mim. − disse olhando para Danilo.
− O que? A culpa é minha?
− Você que deu o anel a ela, não foi?
− A ideia de convocar os mortos foi sua. − falou Rômulo.
− Não é hora de culpar ninguém. − disse Cassandra encerrando o assunto. − Mazda, a Imperatriz está certa. Os Espíritos Nascentes vão fechar a escada em cinco dias.
− Cinco dias não dará para passar todo o exército. − falou Larissa.
− Isso não será problema. − disse brandindo a caneta que me restava. − Temos primeiro que resolver com quem ficará o exército para que você não corra mais perigo.
− Já está de olho no anel, “Maz”? − perguntou Danilo com ironia. − Mas tire seu terninho da chuva, pois o anel não pode voltar nem pra mim, nem pra você.
− Eu já previra isso. − falei tirando seu sorrisinho do rosto. − Sugiro que Constelion fique com o anel
− Eu?
− Pode pegar o poder de todos nós se tornando forte o suficiente para resistir a um ataque divino ou demoníaco.
− Concordo. − disse Danilo, me surpreendendo. Achei que ele discordaria só pra ficar contra mim.
− Também. − disseram Rômulo e Vanessa querendo tirar o de Larissa da reta.
− Também concordo. − falou Cassandra.
Todos olharam para Larissa que não disse se aceitava a sugestão ou não.
− Eu não gosto da ideia de arriscar a vida de ninguém no lugar da minha.
− Com o poder que eu terei isso não será problema. − assegurou Constelion.
A garota ainda ficou meio relutante, mas depois de um “dá logo, Pé” de sua irmã, a loirinha aceitou o plano. Então, após receber o anel, o vampirinho tocou na loira, em seguida em Vanessa, passando por Rômulo, Cassandra, E por mim.
− Não esqueceu alguém? − questionei.
− Você, melhor do que ninguém deveria saber que não tenho poderes, Mazda. − falou o encosto.
− Depois que você saiu, não sei como, do meu anel disparando bolas de fogo, voando, copiando poderes, controlando armas, atravessando paredes e se curando, confesso que não sei mais se você é realmente oco.
− Você esqueceu um. − falou Constelion.
− Esqueci?
− Quando ele copiou seu poder, ele disse “sete” e não “seis”.
− Tem razão. − disse me lembrando da cena na escada. − E não creio que deixei passar nada.
Ele riu meio constrangido, mas era só charme (como se ele tivesse um).
− Na verdade, sua ruiva me deu um anel divido em dez seções nas quais eu posso escolher um poder aleatório e colocar nessas seções. Já escolhi sete.
− E qual é o outro. − perguntou Larissa.
− Segredo.
Eu sabia bem que poder seria esse, mas se fosse verdade, por que ele não o usou contra mim em vez de uma bola de fogo tunada? Será que ele está blefando? Mas se ele está, por que não o adquire agora? Estaria ele me testando? Apenas me botando medo? Apesar dessas indagações, me limitei a fazer uma única pergunta:
− Por que o ajudou a sair do anel? − na verdade eram duas: − E como?
Cassandra olhou para o traste e depois para mim:
− Por que ele ter parado no seu anel, também foi culpa minha. Eu te trouxe de volta e por causa disso, ele foi parar em um anel. O que fiz, foi transferi-lo para uma carta minha e depois para um espelho onde ele estaria em uma realidade alternativa. Eu procuraria uma forma de dar-lhe um novo corpo, não o seu é claro, mas algum igual a você. Pensei em fazer um clone seu usando o cabelo que você me deu, mas ele não quis esperar. E nem poderia. Naquela realidade havia criaturas sedentas, asquerosas e famintas de seres vulneráveis, por isso lhe dei o anel.
Eu olhei para Danilo que olhava para os rasgos na minha roupa e arqueou uma sobrancelha. Em seguida ele olhou nos meus olhos e então entendi o que ele lembrara. O cabelo que eu dei a Cassandra era o que ela usou para fazer um boneco meu que fecharia meu corpo. Se eu fui ferido, significava que o poder do boneco não estava funcionando.
− Onde está sua arcana Helena?
− Em casa, por… ela não faria isso.
− A não ser que você tenha feito um clone meu, é a única resposta visível. − falou o espertinho do Danilo.
− Eu voltarei para verificar. − disse ela.
− Não deve ir sozinha.
− Vá com ela, Mazda. − disse Danilo. − Essa luta não é sua.
− Sem mim, vocês estariam em apuros.
− Faça uma nova passagem e cuide de você e sua namorada. Já cuidamos muito bem de Isabel antes, não será diferente hoje.
Com sua frase impregnada de esperança e ilusões ele se voltou para o beco acompanhado de sua trupe. Me limitei a criar centenas de passagens pro toda Terra que desembocariam em Isabel além da escada. Porém estas seriam passageiras. Eu me virei para Cassandra e desaparecemos em direção a sua casa.






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