Capítulo VII - A Caneta
Estávamos
em frente à porta de seu Carlinhos. Todos os que venceram a guerra contra o
Jegue e a Princesa. Todos que voltaram, é claro. Eu, Papel (Rômulo), Nany (Giuvânia),
Bibi (Tamiles), Barbie-Com-Defeito-De-Fábrica
(Elaine),
Leo (Leonardo), Pé (Larissa), Nessa (Vanessa) e Poteta (Jean) que estava calado
como sempre.
Falávamos
sobre a paixonite de Barbie-Com-Defeito-De-Fábrica por um dos bruxos que
usamos na guerra.
– Você tem
que me apresentar, Pé. – dizia ela.
– Eu não
posso Barbie. Eu não sei se trazendo ele aqui será da vontade dele querer te
conhecer ou não. Eu posso tá forçando ele a ficar com você em vez de
simplesmente apresentá-lo.
– Por que
você não vai até a ele, Barbie? – pergunta Papel.
– Ta maluco?!
– exclamou com sua voz ruidosa e aguda. – Ele mora do outro lado do mundo!
– E? –
perguntou Leo.
– Eu não
vou largar escola, família e amigas por causa de um bruxo.
– Ah… diga
isso: você não quer largar suas amigas e não a escola. – inferi.
– A escola
também.
– É que lá
tem outros gatinhos. – explicou Nessa fazendo a gente ri.
– Também. –
disse ela com um sorriso no rosto.
– Assim não
dá Barbie. – falou Nany. – Você tem que escolher o gato que você quer.
– Você só
tem duas opções e ainda não sabe. – respondeu silenciando o grupo e deixando papel
e Nany constrangidos.
Os dois
haviam ficado, porém, tudo indicava que foi uma tentativa por parte de Nany de
esquecer o irmão de Bibi.
– Braço! –
chamou Carol (Carolina) do outro lado da rua. Ela estava dentro da varanda de sua casa.
– Depois
dessa eu vou até me retirar. – disse indo até a mulher, porém no meio do
caminho três coisas inesperadas aconteceram: meu pai me ligou, um som metálico
e um brilho vieram da escada escura sem que ninguém mais percebesse e Claudinha
(Cláudia) veio descendo essa mesma escada com um vestido curto deixando suas
pernas morenas a vista. – Rapidinho, Carol. – eu atendi ao telefone: – Alô!
– Dan?
– Oi meu
pai. – me dirigi à escada. – Tudo bom?
– Tudo e
você?
– Tô bem.
– Graças a
Deus. Cadê Júnior (Murilo Júnior)?
– Na
faculdade. Deve ter desligado o celular. – expliquei a possível falta de comunicação
entre eles dois, no momento em que cheguei até o objeto e Claudinha chegou até
mim.
Era uma
caneta. Eu a peguei e analisei sob a luz do poste do topo da escada. Nesse
ínterim, Claudinha acariciou meu rosto tornando sua mão quente e meu rosto
frio. Era uma coisa que acontecia entre nós sem muita explicação. O fato era
que se nos tocássemos por muito tempo ela ficaria literalmente febril e eu
hipotérmico.
– Mas o que
o senhor quer com ele? – perguntei olhando pros olhos verdes da moça à minha
frente.
– Queria
lhes apresentar alguém. Você pode vir até aqui no hospital onde sua tia trabalha?
– Posso
sim. Houve algum problema?
– Não, não.
Só quero te mostra uma coisa.
– Tudo bem,
já estou indo.
– Tchau.
– Tchau. –
desliguei o telefone e me virei para Claudinha. – Isso é seu? – perguntei
mostrando a caneta.
– Não. –
respondeu um pouco hesitante a ter que retirar sua mão do meu rosto.
– Parece
que alguém deixou cair. Se você souber de alguma coisa…
– Eu aviso.
Eu fui
subindo as escadas, mas parei ainda próximo dela.
– A
propósito, você está linda.
– Obrigada.
– respondeu sorrindo.
– E diga a
Carol, por favor, que eu tive um compromisso e depois eu falo com ela.
– Pode
deixar.
Alguns
minutos depois eu tava no hospital onde minha tia Silvana trabalhava. Estava
vazio e silencioso. E isso era bom.
No chão
havia um rastro de energia verde que, pelo traçado, só poderia ter deixado por
meu pai.
– Olá! –
disse entrando na sala. Lá estavam meu pai, minha tia e minha prima Liloca.
Abracei
cada um e só depois eu vi que havia mais uma pessoa ali.
– Dan,
eu quero te apresentar uma pessoa. – disse meu pai.
Então
a pessoa saiu do canto da sala de onde estava imóvel e mostrou-se sob a luz da
lâmpada. Ele era branco feito cera. Tinha a minha altura, era magro, possuía
olhos castanhos, cabelos negros… era bem parecido comigo. Aliás… parecido até
demais. Ele era a minha cara… literalmente!
– Mas… como?
– disse entre os lábios me posicionado para o ataque discretamente.
Mas não.
Ele era branco de mais para ser o clone. E havia outras coisas nele que não
eram tão semelhantes a mim assim. Ele tinha caninos… bem finos e proeminentes.
Apesar de estar de boca fechada, dava para perceber com um pouco mais de
atenção. Então ele era um vampiro. E por que se parecia tanto assim comigo? Alguma
mágica vampírica que eu nunca ouvi falar?
– Esse é
Constelion. Seu irmão. – disse meu pai.
– O que?
Mas… como?
– É. Eu sei.
É estranho. Você nunca soube que eu tive outro filho antes, mas é a verdade. Eu
tive casos com outras mulheres e espero que Constelion seja o único fruto desses
adultérios.
– E como
explica ele ser a minha cara. Até os gêmeos não se parecem se forem bivitelinos.
E ele veio de outro útero!
– Eu sei,
mas…
– Tudo bem meu pai. – interrompeu Constelion. – Tudo isso é culpa de minha mãe.
Recentemente ela foi assassinada por um assassino. Infelizmente a única coisa
que pude fazer foi arrumar suas coisas para queimar com seu corpo, então eu
encontrei um diário que falava de nosso pai. Na verdade falava sobre vários
homens que minha mãe teve caso. Porém uma passagem chamou minha atenção. Ela
falava de um feitiço lançado por uma mulher chamada Cassandra. Segundo o diário,
ela havia advertido minha mãe sobre os romances que ela mantinha com homens
casados e diz que se ela engravidasse de algum esse filho teria o rosto do
filho da mulher traída.
– Isso
explica porque você tem a minha cara.
– Eu estava
sugerindo a ele uma cirurgia plástica, mas ele recusou. – disse minha prima.
– Não acho
que vá resolver. O feitiço não deve ser biológico e sim ilusório. Eu tenho que
encontrar essa tal Cassandra e pedir para ela desfazer o feitiço. Eu não tenho
culpa dos casos amorosos de minha mãe.
– Falando
desse jeito, parece até que eu sou feio. – disse em brincadeira, porém ele não
riu. – E você sabe onde encontrar “essa–tal–Cassandra”?
– Eu a
segui até aqui, porém perdi seu rastro. Foi ai que eu encontrei Liloca.
– Pensei
que fosse você, mas estava branco demais. E tinha um olhar diferente, não tão
ingênuo.
Eu só olhei
para minha prima, contudo não disse nada.
– Então ela
o trouxe até mim e chamou seu pai para fazer o exame de DNA. Bateu certinho. –
falou minha tia
– Achei que
vampiros não se reproduziam.
– Eu fui o primeiro.
– Cool.
– Eu posso
descobrir onde essa Cassandra está.
Todos nós
olhamos para meu pai, surpresos.
– Todo
encantamento é uma parte de uma energia maior, uma fonte que está em quem a
lançou. Se eu conseguir uma pequena porção da magia posso usá-la como uma
bússola.
– Que bom! –
comentou Constelion sorrindo e mostrando seus caninos afiados.
“Eu nunca
estive frente a frente com um vampiro em minha vida, muito menos um que era a
minha cara.” Pensei enquanto meu pai fazia seu truque. “Parecia meio surreal.
Ele era uma versão mais animalesca minha que não conseguiria imaginar sozinho e
meu pai o tratava como um filho que sempre esteve ao seu lado. Um filho querido
que era merecedor de todos os mimos que só os melhores filhos recebiam. Isso
chegava a ser… espere! O que eu estou pensando? Aquela viagem até Isabel, não
me fez bem. To sofrendo abstinência do anel dourado, tenho pensamentos
ambiciosos e até mesmo coléricos. A última vez que estive assim tão irritado
por nada foi quando eu fui buscar o dinheiro na casa alugada… e depois fui na
lotérica, onde quase fui dominado por um assaltante se Mazda não tivesse
interferido e tomado conta do meu corpo.
Isso não é
bom. Me parece um aviso. Eu tenho que ficar…”
–
Cuidado! – com um reflexo quase inumano, eu pulei em cima de meu pai que retirava
um pouco do feitiço lançado em meu irmão, derrubando-o enquanto Constelion
desaparecia em um vapor negro, segundos antes de uma bala acertar a parede à
suas costas.
Liloca se
jogou atrás de uma mesa e minha tia fez o mesmo depois de destruir a porta com
um poder cilíndrico transparente. O homem também se escondeu atrás de uma mesa
e Constelion apareceu em outra ao nosso lado.
– Tome
Dan. – sussurrou meu pai antes de me dá um anel com uma fenda entalhada
nele. – Use esse anel para encontrar Cassandra. Leve seu irmão junto com você.
Pedirei que Liloca os siga depois para protegê-los.
– Você não
pode enfrentá-lo. Ele tá armado.
– Eu sei.
Por isso mesmo que eu quero que você saia daqui.
– Eu posso
ajud…
– Danilo! –
exclamou um pouco mais alto que um sussurro. – Eu estou mandando.
Eu o fitei
por uns segundos, mas depois confirmei relutante. Meu pai olhou para Constelion
e transmitiu a ordem no mesmo sussurro, que, ao contrário do que eu pensei
chegou aos ouvidos do vampiro. Então ele sumiu de novo e reapareceu ao meu
lado, porém o pequeno barulho alertou o assassino que começou a atirar em nossa
mesa. Minha tia então lançou seu cilindro no teto que desabou onde o homem
estava segundos antes.
Com o
cessar dos tiros, Constelion nos teletransportou para o pátio do hospital.
– Fuja. –
disse ele.
– Meu pai
falou pra… – ele já tinha desaparecido.
Do anel das
sombras eu trouxe a esse mundo um guerreiro das trevas e ordenei que ele entrasse no
prédio e salvasse os quatro lá dentro. Eu nunca tinha feito isso antes, mas a
sensação era igual ao que eu senti quando mandei Mazda achar as pedras para nos
libertar de Esforiöul. Tudo que o guerreiro pensasse, eu saberia e poderia ver
o que ele visse.
Ele se
movia pelas sombras e chegou rapidamente no laboratório. Meu pai havia derrubado
a arma do homem com um poder verde e Constelion apareceu bem à sua frente e
travou uma batalha corpo-a-corpo, porém ele parecia experiente e bem treinado.
Não levou um minuto para poder derrubar meu irmãozinho.
Em
contra-ataque minha tia lançou seu poder novamente, contudo este refletiu na capa
do assassino e voltou contra ela.
– Liloca,
tire Constelion daqui. – mandou meu pai soltando o poder verde contra o homem.
O poder voltou, porém esperando isso meu pai desviou.
Foi tempo o
suficiente para Liloca pegar Constelion pelo braço, soltar um poder na parede
que criou um buraco até o pátio e vim com ele. Na sala meu guerreiro apareceu
atrás do atirador e começou a estrangulá-lo e, apesar dele se jogar contra a
parede as únicas costas que ele bateu foi a sua própria, pois meu súdito era
meio sombra, meio físico.
Meu pai não
entendeu, mas foi inteligente o bastante para pegar minha tia pelo braço e sair
correndo pelo corredor.
Quando
minha prima e meu irmão chegaram até o pátio, o buraco criado por ela se
fechou.
– Dan,
vamos! – chamou.
Nós a
seguimos até um ponto de ônibus onde pegamos o primeiro que passou. Sentamos no
fundo.
– E quanto
a meu pai? – perguntou Constelion.
– O pai e a
tia de vocês vão ficar bem. Não se preocupem. – ela se virou para mim. – Meu tio te deu um anel que nos leva a tal Cassandra não foi?
– Foi. Como
soube? – fiquei com medo de que não só ela, como o assassino pudesse ter ouvido
a conversa.
– Todos nós
temos telepatia, não sabia?
– Como
assim, todos nós?
– Todo
Falcão pode se comunicar telepaticamente com o resto de sua família. Mesmo os
que estão distantes. Você não sabia disso?!
– Não.
Ela olhou
para mim aturdida.
– Deveria?
– Deveria. –
ela se recostou no banco do fundo, depois acompanhou meu olhar para Constelion
que estava engolindo em seco e inflando as narinas que deixavam seus dentes
levemente à mostra. – O que foi Constelion?
– Tem uma
moça nesse ônibus que está menstruada.
– E?
– Eu não
como há dias.
Furtivamente,
criei uma espada das sombras para o caso de ele querer atacar alguém, porem ele
sorriu e disse:
– Não se
preocupem. Eu vou até um posto de doação de sangue e encontro vocês pelo
cheiro.
– Mas…
Ele havia
sumido deixando, dessa vez, Liloca falando sozinha.
– Isso deve
ser uma mania dele. Já é a segunda vez que faz isso.
Por sorte
ou coincidência o ônibus passou por um ponto próximo de onde o anel indicava.
– Então
quer dizer que todos, inclusive Constelion tem uma ligação telepática com toda
sua família, menos eu?
– É o que
parece.
– Mas por
quê?
– Eu não
sei.
– Relaxe, irmão. Você não foi trocado na maternidade. – disse Constelion nos surpreendendo.
– Se
alimentou bem do sangue dos outros?
– O açougue
tava mais atrativo. – respondeu com um sorriso.
Sem dizer
mais nada fomos até a casa.
– “Veja seu
futuro, presente e passado com a Cigana Cassandra. Satisfação ou o dinheiro de
volta”. – leu Constelion. – Tem certeza que é aqui?
– O anel
aponta para essa casa. – respondi. – E veja o nome: cigana Cassandra.
– Imaginei
que estávamos atrás de um bruxo.
– Ciganas
também tem poderes místicos. – falou Liloca.
– É. Elas
enganam misticamente. – não pude deixar de rir com a piada de meu mais novo
irmão.
Entramos na
casa, cuja sala estava cheia de elementos esotéricos e místicos e, no sofá,
lendo uma revista de fofoca, uma mulher que falou despreocupadamente:
– Estamos
fechados.
– Você que
é Cassandra? – perguntou Constelion.
– Você é
surdo? – perguntou calmamente. – Estamos fechados.
– Eu
preciso que retire o feitiço que colocou em minha mãe. E que se apresenta em
mim.
A moça
tirou os olhos da revista e fitou o trio a sua frente.
– Você vai
pagar? – perguntou após um suspiro.
– Eu não
vou pagar nada! Você jogou uma praga em minha mãe. Agora eu quero que tire.
– Em primeiro
lugar, eu não sou Cassandra. Ela está em seus aposentos descansando. Em segundo
lugar, se ela fosse poderosa o suficiente para colocar um feitiço em sua mãe
que refletisse em você, não estaria vendo essa sala vazia.
Os dois
olharam para mim.
– O anel indica
que a fonte vem daqui.
– Você não
mentiria, não é? – perguntou minha prima em tom ameaçador.
– Eu tenho
mais o que fazer. – respondeu de forma despreocupada olhando para a revista
ainda nas mãos. – Mas por curiosidade… que feitiço foi lançado em você? – Voltou
a nos olhar.
– Se não
pode ajudar, não deveria se preocupar. – respondeu se virando.
– Espere. –
pediu uma voz vinda do corredor. – Talvez eu possa te ajudar. Se eu souber o
que aconteceu com você.
– Você é
Cassandra? – perguntei.
–
Sim.
Novamente
meus familiares me olharam. Eu apontei o anel para a ruiva a minha frente,
porém ele não indicou mais energia do que havia na casa.
– Não é
ela.
Nos olhamos
por um breve instante até que Liloca disse:
– O que
estaríamos perdendo?
– Tempo.
– Pra quem
vive mais de mil anos, alguns minutos não é nada. – disse seguindo minha prima
que seguiu a cigana.
A moça nos
levou até uma sala que deveria ser sua sala de trabalho. Havia muito mais que
objetos místicos. Havia coisas estranhas que eu nunca vi antes e que não teria
tempo para observar, já que vínhamos em uma missão de certa urgência.
– E então?
O que houve com você?
– Uma
mulher chamada Cassandra, assim como você, colocou um encantamento em minha
mãe. O filho que ela tivesse com um homem casado nasceria igual ao filho desse
homem com sua esposa. – por fim ele apontou para mim.
– E acha
que sou eu?
– Meu pai
conseguiu extrair um pouco do encantamento que deve ser ilusório e colocou
neste anel. A energia que ele colocou no anel serviria como bússola para
encontrar a fonte. Que deveria ser você.
– E a
energia aponta para cá?
–
Exatamente.
– Posso ver
o anel?
Ao meu lado
eu vi que Constelion e Liloca trocaram um olhar furtivo, mas não dei importância
para eles. Algo me dizia que aquela moça de madeixas vermelhas era confiável.
Tirei o
anel do dedo e passei para ela, contudo quando toquei em sua pele macia eu me
senti tonto, mas meu corpo não cambaleava. Ele permanecia firme como se minha
tontura não o influenciasse. Como se ele fosse influenciado por outra coisa ou…
pessoa…
“Droga! De
novo não.”
Cassandra
analisou o anel entre seus dedos e, após alguns segundos falou:
– É. É verdade.
A energia aponta a fonte para essa casa.
– Mas se
não é você, quem é? – perguntou Constelion sem perceber o que acontecia comigo.
– Talvez…
minha mãe. Acho que ela que amaldiçoou a sua.
– E onde
ela está? – perguntou Liloca.
– Por toda
a casa. Quando ela morreu, eu a cremei e joguei suas cinzas pela casa.
– Essa não!
– Bom… –
disse minha prima numa tentativa de ver uma boa saída para a situação. – Você
ainda tem a opção da cirurgia.
– Espere.
Se sua mãe conseguiu fazer o feitiço, você pode desfazê-lo, não? – perguntou
Mazda.
– Acho
muito difícil. Como vê, eu estou sem cliente porque não consigo ver mais… –
Cassandra parou de falar assim que olhou para mim. – Quem é você?
– Como é? –
perguntou Mazda.
Todos
olharam de mim para ela sem entender. Exceto eu que, esperançosamente achava que
ela podia distinguir entre mim e o Outro.
– Não era
você que estava ai. Era o outro. O que era a cara dele.
– Não sei
do que você está falando.
– Você sabe
muito bem do que eu estou falando. Quem me entregou o anel não foi você. Foi o
outro rapaz.
Pude
perceber que Mazda olhava para ela analiticamente.
– Pelo
visto, agora eu sei por que você perdeu seus clientes. Essa mulher é maluca.
Vamos.
Ele começou
a ir em direção a porta, acompanhado apenas de minha prima. Constelion ficou
parado observando a cena.
– Espere. –
pediu Cassandra fazendo os dois pararem. – Seu anel.
– Não me
serve de mais nada. – respondeu.
– Não vai
devolver o anel de seu pai? – perguntou surpreendendo os três. E a mim também,
confesso.
– Não disse
que não conseguia ver mais nada? – perguntou Liloca indo até a moça.
– Às vezes
me dá uns lampejos. – Cassandra desviou deliberadamente dela e entregou o
anel na mão de Mazda. Quando as mãos dos dois se tocaram, foi como se uma
neblina de repente desaparecesse da minha vista.
Eu estava
de volta.
– Olá de
novo. – disse sorrindo.
Eu peguei o
anel de volta e me afastei.
– Tudo bem.
Agora que eu sei que são dois, isso não irá acontecer de novo.
– Alguém
pode me explicar o que está acontecendo? – pediu minha prima.
– Irmão
tem dupla personalidade. – disse Constelion. – Percebi pela maneira que
Cassandra se referiu a ele depois que os dois se tocaram. Observei como ele
falou com ela, como andou. Todo seu trejeito mudou.
– Isso é
verdade, Dan? – perguntou minha prima.
– É.
– E qual o
nome do outro? – perguntou a cigana.
– Ele se autodenomina
Mazda.
– Imagino
que ele deva te chamar de Mainyu.
– Como?
– Deuses
persas… o bem e o mal.
Arqueei uma
sobrancelha.
– Esqueça.
– Desde
quando você tem essa personalidade? – perguntou Liloca.
– Há algum
tempo. Mas como você conseguiu nos distinguir? – perguntei para Cassandra.
– Eu sou
uma cigana, lembra?
– Que
perdeu seus poderes.
– Mas
graças a um de vocês dois meus poderes voltaram.
– Com
apenas um toque? – arguiu minha prima.
– Pois é.
Isso que eu chamo de sintonia cósmica. Com um toque eu mudei sua personalidade
e tive de volta meus poderes.
– Mas
quando você o tocou de volta ele voltou ao normal. – concluiu Constelion. –
Isso não significa que voltou a perder seus poderes também?
Aquilo era
uma coisa bem coerente. E Cassandra percebeu isso.
– Venha cá.
– Ela chamou o vampiro para perto da mesa. – tire uma carta desse baralho.
– O que?
– Por
favor.
Meio
cético, Constelion retirou uma carta.
– É um
cupido?
– Não. –
ele virou a carta para ela. Por um espelho deu para ver que era uma carta
preta. A carta da morte, acho.
– Tem
razão. Eu perdi meus poderes novamente.
O casal na
mesa olhou para mim.
– Acreditem
em mim. Trazer Mazda de volta não vai ser boa coisa.
– É o único
jeito de desfazer esse feitiço.
– Você nem
sabe se ela pode desfazer.
– Você tem
razão, mas eu posso tentar. Tenho mais chance de desfazer esse encantamento se
eu tiver de volta meus poderes.
– Essa é
minha única chance, irmão.
– Da última
vez que Mazda saiu, foi um desastre.
– A última
vez que ele saiu não durou nem cinco minutos. – me corrigiu Cassandra.
– Que seja.
A penúltima vez que ele saiu eu fui parar dentro de uma pedra marciana.
– O que?! –
exclamou minha prima.
– Deixe de
ser egoísta, irmão. Você não sabe como é o fardo de ter a cara de outro e não
a sua própria.
– Tem
razão, Constelion. Mas você também não sabe o que é assistir um garotinho
arrogante e prepotente arriscando a sua vida e a vida de outras pessoas no seu
próprio corpo.
– Ele é
parte de você, Dan. Não devem ser muito diferentes. – disse Cassandra.
– Como água
e vinho.
– Irmão,
por favor. Não me obrigue…
– Não me
obrigue a quê? Você vai tirar Mazda de dentro de mim à força?
– Se você
não colaborar.
– Quem está
sendo egoísta agora?
– Tem
alguma coisa errada com Helena. – disse a cigana de repente.
– Quem é
Helena? – perguntou minha prima.
– Meu
arcano.
– Irmão,
daremos um jeito de trazer você de volta.
– Acredite,
Mazda fará de tudo para não deixar que isso aconteça.
–
Cuidado! – com o grito, Cassandra me alertou no momento exato que o assassino
apontava para eles.
Eu controlei
seu sangue e o joguei contra uma parede derrubando sua arma. No segundo
seguinte Constelion estava na minha frente me socando com força. Eu cuspi sangue.
Quando me virei para revidar ele já estava chutando a barriga do assassino que
tentava levantar e na minha frente estava a ruiva. Ela me puxou e sem que eu
esperasse me deu um beijo.
E dizem que você ouve sinos…
Mazda
afastou a garota no momento em que o assassino levantava dando um chute na cara
de Constelion e virava com a pistola que pegou do chão ao dá a cambalhota e
apontava na nossa direção. Ele chegou a apertar o gatilho, mas o poder de Liloca
havia chegado nele antes, fazendo-o desaparecer.
– O que
você fez? – perguntou Cassandra num misto de medo, surpresa e alivio.
– Meu poder
pode criar passagens em objetos sólidos como parede, mas quando atinge alguém o
deixa preso viajando entre várias dimensões indefinidamente.
– Será que
ele matou meu pai e minha tia? – perguntou Constelion se levantando.
– Não. –
respondeu Mazda. – eu mandei um guerreiro cuidar dele para que eles fugissem,
mas ele falhou. No entanto eles conseguiram fugir.
– Você
salvou minha vida. – disse Cassandra toda derretida para Mazda.
– Uma
pequena e simplória retribuição a quem me devolveu a vida.
Os dois
riram.
Cassandra
havia garantido que iria estudar sobre o feitiço que sua mãe colocou em
Constelion e assim que descobrisse algo nos chamaria.
Liiloca
voltou com o anel para casa e Mazda levou Constelion para a minha. Inicialmente
eu achei uma total ausência de tato por parte de Mazda ao levar o filho de meu
pai com outra para dentro de minha casa, porém, para minha surpresa, minha mãe
o recebeu de boa vontade, contudo o vampiro deveria dormir na laje.
– Espero
que as acomodações estejam boas.
– Não se
preocupe. Eu tenho a noite toda para me acostumar até eu ir dormir. – Constelion
observou Mazda. – Algum problema?
– A última
vez que estive nessa casa foi do tamanho de um boneco. Agora ela me parece
estranhamente…
– Pequena?
–
Diferente.
– É verdade
que você trancou Dan em uma pedra marciana.
– Fomos
aprisionados. Ele bota a culpa em mim, mas duvido que pudesse fazer algo
diferente. – disse colocando as mãos no bolso e retirando, em seguida, com a
caneta que eu achei na escada.
– O que é
isso?
– Não sei.
Estava aqui no bolso. É uma caneta. – Que perspicácia!
Ele
analisou o objeto em sua mão então desenhou um risco na mão que se
auto-corrigiu virando um raio, depois sumiu.
– Estranho.
De repente
faíscas elétricas começaram a surgir na palma de Mazda. Ele apontou para o céu
e um raio saiu de sua mão cortando o ar causando uma trovoada.
– Uau! A
caneta fez isso?
– Parece
que sim.
Ele trocou
a caneta de mão e desenhou algo que pareciam chamas na outra palma. Segundos
depois sua mão começou a pegar fogo, mas não queimava.
– Que
achado, hein! – exclamou Constelion.
– Mas isso
é uma caneta e não um lápis. O que acontece se eu escrevo as palavras?
Instantes
depois os dois estavam no andar inferior de frente para uma folha de papel.
Mazda se inclinou escreveu a palavra fogo.
Nada
aconteceu.
– Talvez
algo aconteça se escrever frases. – aconselhou o vampiro.
Novamente o
rapaz se inclinou no papel e utilizando a palavra já escrita manuscreveu:
“O fogo
consumiu o referido papel.”
Mal o ele
retirou a caneta e o papel começou a queimar.
– Incrível!
Desastroso!
Se com meus anéis e poderes que eu não tinha ele já fazia besteira, agora ele
causaria desgraças. Por que logo eu tinha que encontrar aquela caneta?
Em outra
folha ele escreveu que a folha queimada voltaria ao normal e assim se fez.
– Percebe
Isto, Mazda? Tudo o que você escrever vai acontecer. Você pode retirar meu
feitiço. Agora mesmo!
– Pra que a
pressa, garoto?
“Ele não
vai fazer isso tão cedo, Constelion.” pensei sem reparar no que meu hóspede
escrevia. “Você deveria ter me ouvido”
– Do que
está falando? Você pode fazer isso agora mesmo.
Um anel de
bronze saiu da folha, o que chamou minha atenção. Em cima dele havia algo
alarmante escrito.
– Eu sei.
Mas você já pensou se você não gosta de seu rosto? E você pode dizer que é meu
irmão gêmeo. Isso vai fazê-lo se sentir mais da família. – disse com um sorriso
colocando o anel no dedo.
Esse gesto
causou uma força descomunal que me pegou como se eu fosse um pano e me lançou
para uma estrutura metálica circular.
Ele me
aprisionou no anel.
– Você não
vai fazer tão cedo não é? Pois se fizer não haverá motivo pra você continuar
aqui.
– Com essa
caneta isso nem é algo a se pensar. A verdade é que talvez eu não queira ter
esse rosto pra sempre. Talvez eu queira ter o meu próprio.
– Eu não
serei o substituto de Dan.
– Você será
o que eu quiser.
Constelion
tentou pegar a caneta da mão de Mazda, no entanto este o jogou contra a parede
com uma rajada de ar saindo de uma mão. E com a outra ele invocou dois guerreiros das trevas.
– Senhores.
Tomem conta dele. E cuidado que ele é perigoso.
– Seus
guerreiros não podem me deter Mazda.
Com um
sorriso amarelo ele diz:
– Acredite.
Depois do que eu escrevi no ar, você não pode ir a lugar algum.
E usando a
mesma poeira negra que teletransportava Constelion, Mazda desapareceu.
E
reapareceu na casa de Cassandra.
–
Atrapalho?
– Como
entrou? – perguntou a mulher que lia a revista na sala.
– A porta
estava aberta.
– Não, não
estava. – disse Cassandra.
– Seus
poderes voltaram mesmo, não é? – perguntou andando pela sala de trabalho da
cigana.
– Mais do
que eu imaginava. – respondeu antes de olhar para a outra mulher que se
retirou. – O que quer? Não tem nem duas horas que vocês saíram.
– Fiquei
tempo de mais preso em um corpo que era utilizado de maneira ociosa. Não queria
ficar em casa. Então vim te chamar para sair um pouco. Respirar.
– A casa é
bem arejada, Sr. Mazda. – disse rindo.
– Eu não sou
adivinho, mas aposto que ficou semanas aqui trancada tentando reaver seus
poderes. E agora que os tem vai continuar aqui trancada?
– Eu tenho
um trabalho para fazer para seu irmão.
– Qual é? –
disse se aproximando. – Ele passou anos com aquele rosto e vai passar tantos
milênios sem ele que nem vai se lembra como era. Se tinha sobrancelha grossa ou
fina… – mais perto. – nariz grande ou pequeno… – mais perto ainda. – cabelos
pretos ou ruivos. – frente a frente. – Seus cabelos são lindos sabia?
– É o primeiro
a achar. – disse ficando vermelha.
– As
pessoas não acham ruivos bonitos. Eles não sabem o que estão perdendo.
– Se se
aproximar mais um passo, meu toque pode trazer Dan de volta e eu perderei
meus poderes.
– Gosto do
perigo. – respondeu tirando o anel do dedo.
No
chão eu não poderia ver absolutamente nada.
Fiquei
assim por um tempo indeterminado até que senti os dedos de alguém. Era uma mulher.
Tentei lhe dizer alguma coisa, mas ela só ouviria, como percebi depois, se colocasse
o anel. E ela não o fez.
Mais algum
tempo, que eu não sei exatamente quanto foi, fui passado para outro, contudo
novamente essa nova pessoa não colocou o anel.
Não de
primeira.
“Constelion?”
– Irmão? O
que faz num anel?
“Mazda me
aprisionou aqui. Tem que me libertar.”
– Acho
difícil. Ele está com uma caneta poderosa que pode tornar realidade tudo o que
ele quiser.
“Eu sei,
mas ele não pode ficar com meu corpo.”
– Me
desculpe, irmão por não ter te ouvido. Mas eu não sei o que fazer para te ajudar.
Ele tirou meu poder de teletransporte e colocou dois seguranças me vigiando:
– Senhores. Tomem conta dele. E cuidado que ele é
perigoso.
– Seus guerreiros não podem me deter Mazda.
Sorrindo sarcasticamente, Mazda disse:
– Acredite. Depois do que eu escrevi no ar, você não
pode ir a lugar algum.
Apos dizer estas palavras, ele desapareceu da mesma
forma que eu fazia, transportando suas moléculas para o local desejado por uma fenda no espaço.
“Droga!” observei seus escravos e arrisquei uma fuga,
contudo, foi um fracasso:
Eu voei na direção de um dos guerreiros contra a
parede, mas ele se transformou em sombra e eu colidi contra o concreto. O outro
me pegou pelas costas enquanto o primeiro saía da parede para me socar algumas
vezes. Em seguida eles me levaram para o quarto na laje e me trancaram lá.
Eu fiquei pensando em um modo de deter os guerreiros,
porém tive que parar ao ouvir uma pequena explosão e um clarão do lado de fora.
Então, de repente a porta foi arrombada e lá estava o assassino apontando uma
arma para mim. Sem
pensar muito eu voei no pescoço dele e, quando o larguei seco no chão, uma
chave caiu. Percebi que era da moto que ele usava e, com ela, fugi até a casa
de Cassandra no intuito de alertá-la.
Chegando lá, fui recepcionado por Helena, a amiga de
Cassandra que vimos na sala.
– Onde está Cassandra?
– Eu não sei. Mazda apareceu
aqui e depois os dois sumiram. Ele deixou cair isso. – então ela me passou esse
anel.
Mal analisei o anel e ouvimos uma batida na porta
– Clientes? – perguntei.
– Acho difícil. – Helena foi abri a porta e recebeu uma coronhada. Era
o assassino de novo.
“Mas que droga!”
Ele começou a atirar em minha direção, mas por sorte
fui mais rápido e entrei na cozinha. Havia
uma porta lá, mas eu tinha que tirar ele da minha cola pois, se havia mais de
um, quanto menos melhor.
Cortei com uma faca o cano do gás e fui para a bancada
de frente para a porta. Ele apareceu e quando o gás já tomava conta de parte da
cozinha eu levantei e sai pela porta. Como eu havia imaginado, ele atirou e
causou uma explosão. Escapei por pouco do fogo. Então eu fugi só parando agora para abastecer.
Preferi não voltar lá
para ver se ele tinha morrido.
“E quanto a
Helena.”
– Creio que
ficou bem. A explosão não destruiu a casa toda. Agora eu estou indo até a casa
de Liiloca para lhe explicar tudo e preveni-la sobre Mazda.
“Não há
tempo para alertas. Temos que arranjar um jeito de deter Mazda e é agora.”
– Irmão! Ele
pode estar indo até a casa de Liloca nesse exato momento.
“Eu sei,
mas minha prima sabe se virar. Além do que, de nada vai adiantar alertá-la se
não temos como detê-lo. E lembre-se, ele está com Cassandra, sua verdadeira
chance de ter seu próprio rosto. Se ela se voltar contra ele, sabe-se lá o que
ele pode fazer.”
–
Cassandra, sim, sabe se virar. E ela não é da nossa família. Liiloca tem que ser
prioridade acima de meu rosto e de uma cigana.
“Acha que
eu não me importo com minha família?”
– Você nem
ao menos tem a nossa telepatia. E para ter isso é necessária empatia familiar.
“Então
avise a ela telepaticamente.”
– Se Mazda
também tiver esse dom, ele também ficará sabendo. Os pensamentos vão viajar em
rede aberta.
“Deixe de
ser obtuso, Constelion! Deter Mazda deve ser prioridade, pois ele representa um
risco a todos.”
– Eu não
vou discutir isso com você.
“Conste…”
antes que eu sequer completasse seu nome ele retirou o anel.
Isso já
estava ficando irritante. Eu tinha que descobrir um modo de não ser tão vulnerável.
“Vamos lá,
Danilo. Você tem o sangue Falcão nas veias. Você também pode se comunicar com
seu pai. Tente. Tente!”
E enquanto
eu estava no vazio, me concentrei o máximo que eu pude em meu pai. Contudo,
quando achei que estava quase conseguindo, perdi a conexão. Tentei de novo,
porém não fui mais além do que tinha ido.
Depois
tentei a mente de Júnior; Liloca; Silvainha, mas o resultado era o mesmo e isso
era frustrante. Tentei então um público maior: me concentrei na mente e nos
pensamentos de cada parente meu por parte de pai e achei o menos provável: meu
primo Bob (Bruno). Eu senti seus pensamentos acerca do anel. Suas dúvidas, sua
curiosidade e foi em cima disso que o convenci a usá-lo.
“Bob!”
– Dan?
Então é verdade? Você foi preso no anel.
“O que
houve? Onde é este lugar?”
– É a casa
de Keka (Kelly). Liloca me trouxe pra cá.
“O que
houve na casa dela? Me conte tudo.”
– Um
vampiro que era a sua cara apareceu lá…
– Liloca? –
chamou o vampiro quando chegou lá.
– Constelion? O que houve? Que cara é
essa?
– Dan estava certo. Mazda é perigoso.
Ele encontrou uma caneta que tudo o que ele escreve acontece e colocou Dan num anel.
Aí foi a vez de você,
quero dizer, o cara que parecia com você, mas não era você, aparecer do nada:
– Constelion? Onde você estava?
– Se afaste Mazda! – disse colocando Liloca atrás dele e na
minha frente.
– Eu descobri. O assassino está atrás
de você e de Cassandra. Quando voltei para casa você não estava lá.
– O que?
– Lembre-se que na casa dela ele ia
atirar nela e não em você. E há muitos dele.
– Onde ela está?
– Na casa de um amigo. Você tem que me
dizer por que ele matou a mãe de vocês e quer matá-los agora.
– A mãe de Cassandra também foi
assassinada? Por quê?
– É o que eu quero saber.
– Como se você realmente se importasse.
Traga Dan de volta e aí conversamos.
– É verdade Mazda? – perguntou Liloca. – Você colocou Dan dentro de um
anel?
– Claro que não! Como eu faria isso?
– Mentiroso! – o vampiro voou pra cima do tal Mazda
e o jogou contra a parede. Deu uns murros nele e falou: – Traga Dan de volta agora!
– Como eu vou fazer isso? Só Cassan… – novamente o vampiro deu uns murros
nele.
– Desgraçado! Você usou a caneta.
Desfaça o que fez.
– Mazda, você realmente seria capaz de
fazer isso? – perguntou Liloca.
– Vai acreditar em um vampirinho que
você acabou de conhecer?
– Eu te conheço menos tempo do que ele.
E tenho a palavra de Dan contra você.
Os dois olharam para
ela até que o próprio Mazda falou:
– Eu não vou ficar aqui ouvindo
acusações absurdas.
Então Mazda criou
raios com uma mão e fogo com outra e pegou nos braços do vampiro que disse:
– Taí. Uma não me afeta e a outra eu
posso aguentar. – por fim deu uma cabeçada no nariz de
Mazda que caiu no chão. – A caneta
deve estar em algum bolso. – disse o
vampiro revistando os bolsos de Mazda, então alguém bateu na porta.
Todos nós olhamos
para ela.
– Será que é o assassino? – perguntou Liloca.
– Ele não bateria na porta. – falou Mazda limpando o sangue do
nariz que estava quebrado, mas que não estava mais.
Os dois levantaram
iguaizinhos.
– Ninguém vai abrir a porta? – perguntei.
– Vá lá. –
disse Mazda.
– Vai mandar seu próprio primo abrir a
porta pra um assassino? – perguntou
o vampiro.
– Não é o assassino, e se fosse não
atiraria nele.
– Como sabe?
– Ele não estará na sua frente.
Então eu fui abrir a
porta. Quando eu olhei era meu tio, só que ele caiu em cima de mim e, um
homem atrás dele, atirou na cabeça do vampiro, só que Mazda desviou a bala de
alguma maneira que ela só passou de raspão. Liloca o pegou antes que ele caísse
e Mazda lançou um raio nele que pegou no relógio que parecia um morfador de tão grande e voltou derrubando ele. Liloca
foi pra trás da mesa com o vampiro e o homem começou a atirar. Do chão eu vi
que o vampiro deu o anel para Liloca e depois voou com mesa, cadeira e tudo para
o homem que bateu na escada de cima do corredor e caiu. O vampiro foi atrás.
Liloca levantou e
olhou para Mazda que já levantava dizendo que estava bem. Eu tirei meu tio de
cima de mim que parecia drogado. Ele estava dormindo. Liloca me ajudou a botá-lo no sofá.
– Saiam daqui. – mandou Mazda.
Leila soltou um poder
na porta da cozinha e atravessamos ela parando aqui. Aí ela me disse que eu
tinha que proteger esse anel com minha vida.
“O.k.
Bob. Preciso que você me diga o que pode fazer.”
– Como
assim?
“Por exemplo…
Liloca pode soltar um poder na parede, nas portas e elas abrem um portal para
outros lugares. Como você viu, ela soltou na porta da cozinha e depois de
atravessá-la ela parou aqui.”
– Ah…
entendi o que você quer dizer.
“E então? O
que você pode fazer?”
– Eu lanço
um poder e o que toca vira ferro.
“Que
interessante!” disse antes de tomar o controle do corpo de Bob. A ideia não
me agradava, mas eu tinha que arranjar um corpo, tirar Mazda do meu e salvar
Constelion e Cassandra.
Sem meus
anéis, tudo ficaria mais difícil, então tive que pegar um dinheiro na casa de
minha prima e pegar um ônibus até o Pero Vaz.
– Sim.
– Ph (Philipe),
sou eu, D. Este é o corpo de meu primo. Preciso de sua ajuda.
Meio
relutante, Ph me deixou entrar e me levou pro quarto dele.
– Se é
D, mesmo, você pode me dá uma prova?
– Você
dormia com seu irmão e não sozinho. Onde está Th (Thiago)?
Ph riu
antes de responder:
– Eu
dupliquei o quarto.
– Uau! Isso
deve ter resultado em um poder e tanto, hein?
– Me
resultou um grande trabalho, isso sim. Mas me diga, por que você está no corpo
de seu primo, mesmo?
Eu contei
toda a história desde quando eu vi a caneta caindo na escada até o motivo de eu
estar no corpo de meu primo.
– Você quer
dizer que esse Mazda é resultado do que eu fiz com você?
–
Exatamente. E eu quero que você me ajude a destruí-lo.
– D,
ele é parte de você.
– Eu estou
farto de ouvir que ele faz parte de mim! Eu estou completo sem ele!
– Não, não
está. Ele pode ser uma parte sua reprimida por seus medos, seus comedimentos,
sua educação, mas ele é inegavelmente você.
– Como
sabe? Você nem ao menos o viu. Ph. Ele é uma escória! Uma blasfêmia.
Arrogante, intempestivo, covarde. Me aprisionou em um anel e agora, pra
melhorar a situação, ele possui essa caneta mágica que o transforma em um deus!
– Olhe como
você fala. Em um tom invejoso, doido. Por que realmente você o quer morto?
– Porque
ele não deveria nem existir.
Nós nos
olhamos e eu percebi como Ph refletia o assunto.
– Você… nós
começamos isso. Nós vamos terminar. Você me ajuda?
– Se ele é
tão ruim assim, e se é fruto de uma trapaça em uma brincadeira minha… eu
ajudarei.
Apertamos as mãos
em acordo e fomos até a casa de Liloca. Ph duplicou os próprios óculos e,
colocando um deles, viu a imagem da casa dela na minha mente. Depois duplicou
uma chave e girando uma delas no ar abriu uma fenda no espaço pelo qual fomos
sugados e cuspidos em sua sala.
No sofá,
minha prima cuidava de meu pai que já estava acordado.
– Pai! O
senhor está bem?
– Bob! Eu
não mandei ficar na casa de Keka?
– Me
desculpe Liloca, mas tive que tomar o corpo de Bob emprestado.
– Dan?
– Eu fiz
ele usar o anel.
– O que
está acontecendo? – perguntou meu pai meio tonto.
– Depois eu
te conto, meu pai. Agora eu preciso achar Constelion e Mazda.
– Eles
estão lá embaixo.
– Vamos! –
Chamei Ph e descemos as escadas correndo, no entanto os dois já haviam
sumido. Lá só estava a carcaça pálida do assassino. – Tem aparecido mais do que
deveria. – disse um segundo antes dele se sentar.
Eu preparei
para disparar o poder de Bob, mas Ph já estava falando com ele.
– O que
houve aqui?
– Muita
coisa. – disse o moribundo com a voz morta.
– A partir
do momento que o vampiro te jogou na escada. – falei após ver que Ph o estava
controlando.
Então o
corpo do assassino disse:
Eu bati na parte
inferior da escada e caí, porém me segurei no muro de um andar abaixo. O
vampiro veio até mim e perguntou:
– Por que matou a minha mãe, a mãe
da cigana e quer nos matar?
– acha que só porque eu tô nessa
situação eu vou lhe responder?
– Acredite. Consigo imaginar
situações piores. – e dizendo isso ele retirou uma seringa
do bolso com um líquido amarelo nele. –
Última chance. – falou tirando a tampa da seringa.
– Sua droga não vai funcionar
comigo. – falei soltando o muro, contudo ele
me segurou com uma mão e injetou o líquido no meu ombro com a outra. Sentir um
leve calor no corpo, porém algo passageiro.
O próximo passo
dele foi mostrar os dentes e tentar cravá-los na minha jugular, porém acionei
uma arma presa no meu antebraço para sair e atirei em seu peito. O vampiro me
largou e eu abri o guarda-chuva que trazia nas costas e planei até o térreo. Não obstante eu recebi um
chute na barriga assim que pousei. Era o que se parecia com ele.
Minha arma havia caído, então fechei o guarda-chuva e arrisquei transformá-lo
em arma, no entanto ele começou a tomar controle dos meus movimentos
me fazendo largá-lo e me erguendo no ar. Nesse momento o vampiro pousou e pediu:
– Não o mate.
– Ele não tem mais nenhuma
informação útil. O que sabemos é que ele recebeu uma ordem de um papel mágico
dizendo para matar a mãe de vocês e os filhos que elas já tivessem.
– Isso foi o que ele lhe disse. Ele
pode saber mais e eu vou extrair isso dele.
O vampiro se
aproximou de mim e sugou todo meu sangue.
– Foi só
isso.
– Seu amigo
vampiro deve ter dado a ele uma substância utilizada por vampiros feiticeiros
que se agrega ao sangue tornando-o um livro líquido de toda a história da pessoa.
– disse Ph.
– Isso quer
dizer que ele descobriu alguma coisa e foi até lá. Pra onde eles poderiam ter
ido?
– Por
favor! Deixem-me descansar em paz.
–
Retalharei seu corpo todo se não me disser. – falou meu amigo.
Se houvesse
ar nos pulmões do assassino, ele suspiraria. Aliás. Como ele conseguia falar
sem ar para mover suas cordas vocais?
– Eu sou
apenas um clone. O ser original está em uma fazenda fora da cidade. Ele nos
criou lá e mandou que viéssemos encontrar e matar nosso alvo.
– E que
fazenda é essa?
Em um
estalar de dedos, ou melhor, em uma escarrada pra ser mais exato, aparecemos na
tal fazenda. Nenhum sinal do vampiro ou de Mazda.
– A fazenda
é grande. Eles podem estar em qualquer lugar.
– Será que
além de teletransporte e conversação com mortos você não tem nenhum truquezinho
para encontrá-lo?
– Até
tinha, mas o relógio que eu dupliquei parou. Se o objeto não funciona, meu poder
não funciona.
– Pelo amor
de Deus! Pra isso existe relojoeiro.
– Relaxe.
Eu vou duplicar meu celular. O sobressalente fica com você para uma futura
comunicação.
– Obrigado.
Ph tirou o
aparelho do bolso e colocou no muro de madeira da varanda da casa principal
efez sua mágica. Ao completar a duplicação dois jagunços apareceram apontando
espingardas para nós.
– Achei! –
e após dizer isso, girou a chave nos cuspindo nos estábulos.
Novamente
nenhum sinal de Mazda ou de Constelion.
– Tem
certeza que você os achou?
– Absoluta.
Só não queria aparecer em um lugar que eu não saberia o que estava acontecendo.
Ele se
dirigiu até uma cela onde não havia cavalo algum, então afastou o feno do chão
e abriu a porta subterrânea. Descemos as escadas e chegamos à sala. Lá estava o
assassino congelado até o pescoço e preso em uma parede. No meio, Mazda observa
Constelion olhar alguns papeis.
– Chegamos
em boa hora? – perguntei.
Mazda se
virou meio surpreso, mas nada se comparava a sua cara quando viu Ph ao meu
lado. E isso mostrava que ele entendia o que isso representava.
– Philipe?
– Ajuda
extra.
– Achei! –
disse Constelion. – Aqui estão cinco nomes incluindo o de minha mãe e o da mãe
de Cassandra.
– Observe o final
do último nome. – disse o assassino já soltando vapor pela boca.
Depois de alguns
segundos Constelion fala:
– Tem uma barra
piscando. As letras também são estranhas: parece mais uma fonte do Word do que
uma caligrafia.
– E o veredicto,
Sherlock? – perguntou Mazda aparentemente normal.
– É como se o
papel fosse de uma tecnologia desconhecida.
Era
impressionante. Em tão pouco tempo eles já haviam descoberto o paradeiro do
assassino, o derrotado e arrancado respostas dele.
– E agora? –
perguntou Constelion. – Vou ficar sempre fugindo, esperando um novo mercenário
mandado por sei lá quem? Até que ele ou ela consiga me matar. E matar
Cassandra?
– Temos que
pensar de cabeça fria. – falou Mazda depois de terminar de cobrir o rosto do
assassino com gelo. – Os outros nomes são de todos de mulheres?
– São. E
embaixo diz que se elas já tiverem algum filho que é para matá-los também.
– Isso nos
dá uma dica. – disse o usurpador de corpos.
– Que dica?
– De que o
mandante é do futuro. – completei.
– O que?
– Se ele
quer matar mulheres e os filhos dela, só pode ser porque alguém no futuro vai
aborrecer alguém. – continuou.
– O que sugere que
a tecnologia do papel seja desconhecida porque ainda não foi inventada. –
finalizei. Ph olhou pra mim pelo canto do olho e sorriu pelo canto da boca.
– Meu Deus!
– exclamou. – Como vou deter alguém que ainda nem nasceu?
– Eu posso
fazer isso. – disse Mazda.
– Eu não
confio em você.
– Qual é
Constelion? Lembre-se que Cassandra também corre perigo.
– Fala como
se desse a mínima. – disse.
– Se eu não
me importasse, eu não a manteria segura, como eu fiz.
– Você
também o conhece? – perguntou Constelion
– Sou eu!
Dan. – e mostrei o anel. – peguei o corpo do meu primo emprestado.
– E quem é
ele?
– Um amigo
meu.
– Deixe-me
ajudá-lo Constelion.
– Você vai
me fazer um grande favor devolvendo o corpo de Dan.
– Sabe que
eu não posso fazer isso.
Constelion
olhou para mim e para Ph antes de dizer:
– Então me
diga onde Cassandra está. Vou explicar a ela o que aconteceu. Isso você pode
fazer, não é?
Mazda
meneou a cabeça afirmativamente e escreveu o endereço da casa de Pombinho em
outra folha de papel que estava na mesa onde havia as ordens de assassinato.
– Obrigado.
– disse meu irmão antes de sumir. Certamente Mazda devolveu-lhe os poderes também.
– Nem pense
em se teletransportar. – disse apontando a mão que poderia disparar um poder
que poderia torná-lo uma escultura de ferro.
– Eu não
vou fugir feito um covarde, Danilo. Acha que eu tenho medo de Philipe e seus
truques de duplicação?
– Devolva
meu corpo, Mazda. Por bem.
– “Se não…”
– debochou. – Ta na hora de você me mostrar um pouco de respeito.
Mazda
lançou um raio contra mim, mas eu desviei por pouco. Ao meu lado Ph duplicou a
corrente que pendia em sua calça. Não, triplicou. Não… ele criou dezenas de
correntes, todas unidas uma na outra e jogou nele, no entanto ela atingiu o
resto do vapor de seu teletransporte. O outro apareceu atrás de Ph e lançou um
raio nele que caiu ajoelhado. De lado para ele lancei o poder de Bob. Mas uma
vez ele sumiu. Esperando que surgisse atrás de mim, me virei afastando seu
braço e lhe dei um soco.
–
Previsível. – em seguida lhe dei um chute na barriga derrubando-o em cima da mesa.
Ph se
levantou e,
multiplicando o próprio sopro, lançou uma rajada de ar que o jogou com mesa e tudo na parede. Entre
os escombros ele tentou escrever algo, contudo eu lancei o poder de Bob na
caneta, porém o poder só funcionou na mão dele.
– Droga!
Mais uma
vez Ph lançou sua corrente e mais uma vez ele se teletransportou, no
entanto, dessa vez meu amigo acertou. Mazda apareceu atrás de nós dois, porém
um pouco mais distante e amarrado pela corrente que Ph criou.
– Pra onde
você for eu irei também.
Mazda
riu debochadamente, então uma nuvem negra se formou ao seu redor crescendo
exponencialmente, entretanto, a corrente continuou presa, mas para nossa triste
surpresa, não era mais Mazda que Ph prendia e sim o braço de uma besta
feita de fogo e sombras.
–
Desgraçado! Ele nos enganou.
– Acho que
não. – respondi olhando por
debaixo das pernas do monstro o corredor que ele
fugia.
Lancei o poder de
meu primo na lâmpada acesa no teto levando o lugar à escuridão e corri atrás
dele passando por debaixo da criatura contando que ele não se teletransportasse
de novo.
No estábulo
recebi um soco de ferro e cai no meio do feno.
– Muito
esperto de sua parte trazer Philipe aqui. Mas o que ele fez não pode ser desfeito.
– Quem
falou em desfazer?
Mazda se
preparou para soltar seus raios mais uma vez, porém eu lhe dei uma rasteira. Em
seguida transformei em ferro sua outra mão e parti pra cima dele. Dei-lhe
alguns socos pouco antes de Ph abrir a porta subterrânea.
– Vamos,
Ph! Faça!
– Aqui não.
– disse me tirando de cima de Mazda e o pegando pela camisa.
Fomos para
fora do estábulo a grande distância e olhamos o mesmo começar a pegar fogo.
– Achei que
você tinha… – antes que eu terminasse, Mazda tentou me dá um murro, porém sua
mão parou ante ao poder de Ph.
– Que pena!
Eu controlo o ferro. – disse me fazendo
reparar que ele usava dois anéis feitos de ímã.
A mão que
segurava a caneta abriu deixando-a cair no chão e foi direto para seu pescoço,
contudo Mazda esticou uma perna e chutou o rosto de Ph voltando a
controlar seus punhos. Na distração eu tentei pular para pegar a caneta no
chão, mas ele lançou, com o um movimento de braço, uma rajada de ar contra mim
me atirando longe. Ph tirou do bolso
um radinho que logo virou dois e, com cada um em uma mão, ligou-os liberando
ondas sônicas que pararam em suas mãos metálicas no exato momento que o demônio
saia dos destroços e apontava sua mão para nossa direção, se desprendendo em
seguida e se transformando em uma besta menor que correu mirando em Ph.
Eu disparei o
poder de Bob, contudo ele não fez efeito, então Ph mirou um dos radinhos no
bicho que recuou, mas sem receber nem um dano efetivo. Mazda pegou a caneta do
chão com uma mão enquanto se protegia com a outra e tentou escrever algo no ar
com seus dedos estáticos. Em resposta, meu amigo parou de atacar a besta e,
juntando os radinhos em um aparelho só, criou um mini micro-ondas e, com ele,
liquefez as mãos do outro que caiu junto com a caneta e os anéis. Quando a mão
viva do demônio estava perto de Ph, este girou a outra chave criando um buraco negro sugando-o e
sumindo com ele.
– Idiotas!
Agora o demônio não tem quem o comande. – disse Mazda.
Mais agressivo
(principalmente por também estar sendo atacado pelos jagunços), o demônio
esticou-se para o céu deixando-o nublado com uma nuvem negra e socou o chão se
transformando em uma cortina de fogo que destruiu a casa e começou a queimar
tudo ao redor em uma grande explosão. Mazda tocou com o pé as suas mãos de
ferro líquido e desapareceu. Ph criou outra fenda nos sugando milésimos antes
do fogo nos alcançar.
Aparecemos
na casa dele com fumaça saindo dos nossos corpos.
– Meu Deus!
– falou Th entrando no quarto ao ouvir o baque de nossos corpos caindo no
chão. – de onde vocês vieram? – fedíamos a enxofre.
– Nem
queira saber. – disse Ph se levantando junto comigo.
– Temos que
ir atrás de Mazda. – falei quando Th se retirou. – Ele deve ter ido para a casa de Pombinho também.
– Por que
acha isso.
– Provavelmente
ele vai querer que Cassandra devolva suas mãos.
– E ela é
poderosa assim?
– Ela é uma
cigana. Então… sim.
– O.k.
– Outra
coisa. – me aproximei dele. – Não sei como parar Mazda. Talvez você tenha que
ser mais…
– A única
coisa que será indubitavelmente eficiente será duplicá-lo. Como ele já é uma
metade, outra duplicação vai rachar sua alma e destruí-la.
– Então
faça isso. – disse sem hesitação.
– Tem
certeza?
– Apenas
faça.
Ele afirmou
com a cabeça depois girou a chave novamente e paramos na sala da casa de
Pombinho.
De frente
para a porta estava ele com suas três primas: Aluada,
Ciça e Pau-De-Sebo que observavam
preparados, as batidas na porta. No outro lado Constelion observava Cassandra
segurar uma bola de cristal média com uma mão e com a outra fazer as mãos de
Mazda crescerem de novo. Antes que ela concluísse o trabalho lancei o poder de
Bob na bola que caiu rachando o piso. O poder cessou. Os três olharam para
nós e sem hesitação Ph levantou a mão apontando para Mazda lançando seu
poder invisível de duplicação, contudo, Cassandra se colocou na frente dele
estremecendo.
– Pare! –
gritei abaixando a mão do meu amigo.
Cassandra
ia cair no chão, mas Mazda a pegou antes.
–
Cassandra? – falou com a voz baixa. Ele olhou para ela assustado e depois para
nós com raiva.
– O que foi
que eu fiz? – se lamentou Ph.
Não sei
como, mas ele esticou a ponta de seu antebraço até formar uma mão e depois
dedos. Ele tocou novamente na sopa metálica que se encontrava a caneta e os
anéis e sumiu deixando que eu segurasse o ar.
– Droga.
Cinco
segundos depois, tempo que eu levei me levantando lentamente, Mazda apareceu.
Ele estava atrás de mim e chutou minhas costas. Com a mesma perna lançou uma
rajada de ar em Ph que defendeu com os braços que sangraram devido à
lufada. Ele virou-se para mim de novo e dessa vez lançou uma onda que me atirou
pela janela.
“Droga! Além de
morrer, eu vou matar meu primo”. Numa tentativa que julguei erroneamente
infrutífera, disparei o poder de meu primo na água que se transformou em mercúrio.
“Droga duas vezes!” Por sorte, o metal agiu como gelatina e, apesar de todo
molhado, consegui subir.
Da janela eu vi Ph
e Mazda lutando. Este criou uma espada de gelo e acometia ferozmente meu amigo
que se defendia com a corrente entre um soco e outro com ela enrolada no punho.
–
Constelion? – chamei meu irmão que me ajudou a entrar de volta na sala.
Sem entender o que
estava se passando, a família Oliveira virou-se para ver a luta e, como eu
havia imaginado, Pombinho ajudou Mazda. Ph tinha esquivado de um ataque ficando
atrás de nosso algoz e o enforcou com a corrente, então Pombinho se meteu lançando
seus raios de fogo pelos olhos derrubando meu amigo. No chão, Ph desviou por
pouco do golpe de Mazda que quebrou sua espada em várias pedras de gelo e
lançou nele suas ondas sônicas através de um novo par de radinhos que o jogou
no corredor. Pombinho lançou novamente seus raios flamejantes que foram
defendidos pela corrente de Ph, porém o poder refletiu no metal e atingiu a
porta destruindo-a.
Então eu entendi o
motivo daquela barricada. Era uma legião de assassinos que estava batendo na
porta. O primeiro foi recebido pelo poder de Ciça que lhe atingiu em todos os
pontos do corpo como uma metralhadora de pirilampos. O segundo voou porta afora
com um dos discos de Pau-De-Sebo. E o terceiro recebeu uma sequência de golpes
dos pés de Aluada que o derrubou em segundos. O quarto virou uma estátua de
ferro bloqueando a passagem apenas pelo momento que Mazda voltou à sala,
Pombinho se virou para a entrada de sua casa e Ph se levantou.
Mazda
lançou sua onda em Ph prendendo-o com uma camada de gelo. Em seguida
disparou o poder do anel negro contra mim. Eu desviei por pouco me jogando no
chão e atirando a bola de ferro de Cassandra contra ele. A esfera fez ele
atravessar a parede e entrara na cozinha batendo na geladeira. Me levantei no
momento em que Constelion voava para fora levando um assassino junto com ele. O
sexto foi congelado pelo sopro de Pombinho bloqueando novamente a passagem por
tempo o suficiente para eu transformar a camada de gelo em ferro permitindo que
Ph se libertasse.
– Obrigado.
– disse pouco antes de Mazda jogar uma geladeira contra mim. Ph nos
teletransportou para o lado nos salvando por pouco.
– Se isso
virar um hábito eu vou ficar sem osso. – disse.
– O que
queria que eu fizesse?
– Geladeira
é feita de ferro, lembra?
Como mais
nenhum assassino tentava entrar na casa, todos se viraram para mim e para meu
parceiro.
– Espere Pombinho! Não é o que você está pensando.
– Vocês
invadem a minha casa e atacam meu amigo. O que eu estou pensando errado? –
disse com os olhos flamejando preparados para lançar mais raios.
– Eu sou Braço. Esse no meu corpo se chama Mazda. Ele é uma duplicação minha. Uma
segunda personalidade.
– Ele está
mentindo. – disse Mazda voltando da cozinha. – Acabe com ele Diego.
– O que ele
fala é verdade Pombinho. – disse Ph apontando para mim. – Esse é o seu verdadeiro amigo que foi preso por ele nesse anel de bronze. – mostrou na minha mão.
– Não
acredite neles Diego. Tudo isso é uma armação.
– Não, não
é. E eu posso provar. – disse. – Sou eu. Seu amigo de muitos anos. Você me
ensinou xadrez. Jogamos bola juntos na rua. Eu estive aqui no seu aniversário
de dezoito anos. Comi o bolo que sua mãe fez na casa de sua avó. Como eu
saberia isso se não fosse Braço.
– Do mesmo
modo que ele deve saber que te salvei de Esforiöul em frente à casa de Jean. –
rebateu Mazda.
“Desgraçado”
– É melhor
você convencer logo seu amigo, senão serão cinco contra dois. – sussurrou
Ph para mim.
Era visível
a confusão nos olhos de Pombinho. Como saber quem estava falando a verdade?
Eu saberia
como provar.
–
Informações todo mundo tem. Mas se usar esse anel, você saberá quem está falando
a verdade.
– Não dê
ouvidos a ele, Diego. Isso é uma armadilha.
– Ele sabe
que não é. – falei. – Só o verdadeiro Braço sabe como derrotá-lo e nunca faria
isso.
– Ele tem
razão. – concordou Pombinho.
Então eu
retirei o anel do dedo e joguei para ele. No ar, eu pude perceber que Mazda
lançava um poder do anel das sombras em direção ao anel, mas Pombinho foi mais
rápido e pegou o anel deixando que o poder batesse em seu peito e voltasse para
Mazda que voou o corredor todo. Pombinho colocou o anel e então eu pude falar com
ele.
“Pombinho, sou
eu.”
– Então é
verdade?
“Sim. Mas
eu não tenho tempo de te explicar isso agora. Temos que dá um jeito de tirá-lo
do meu corpo.”
Pombinho foi
até Mazda no chão, mas de repente começou a fraquejar. De uma corrente que eu
sempre mantive no pescoço, havia um anel com uma pedra verde nele e o outro
estava usando-o contra Pombinho.
– Então era
isso? Estava debaixo do meu nariz e eu nem percebi. – disse se levantando com a
caneta em uma mão e o anel em outra.
– Me dê o
anel.
– Nun… ca. – num esforço sobre-humano, Pombinho lançou o
anel para Ph que estava no início do corredor, porém Mazda esticou o braço
e o pegou antes de meu amigo.
– Se não
quiser que eu destrua Danilo agora mesmo, não venha atrás de mim. – após dizer
isso, Mazda colocou o anel bronze na corrente onde estava o outro anel e se teletransportou
para a nossa laje onde três assassinos atiravam na porta de aço sem sucesso.
Mazda
escreveu no ar que os três deveriam se matar, então os do canto miraram na
cabeça do que estava no meio que deu uma cambalhota para trás derrubando as
armas dos dois em seguida dando-lhes um tiro no peito de cada um. Logo depois
ele mirou em Mazda que criou uma parede de gelo à sua frente e escrevia nela
que teria uma espada a laser laranja. Quando as balas estavam começando a
atravessar a parede, ele se teletransportou para trás do assassino e cortou sua
cabeça com a espada.
Após vencer
seus inimigos e me ter de volta em sua posse, Mazda guardou a espada e abriu a
porta que guardava Cassandra desacordada na cama. Ele tirou sua bola de cristal
do bolso e colocou na cabeceira. Escreveu no lençol que a pedra voltaria ao normal,
em seguida que a alma recém divida de Cassandra seria novamente uma.
– Dan? –
perguntou ela.
– Mazda. –
respondeu ele.
– Me
desculpe. – disse se sentando na cama. – Vocês são tão parecidos.
– Você está
bem? – perguntou ignorando o comentário.
– Sim. –
respondeu calma, depois admirada ao olhar para a porta do quarto.
Mazda
já levantou com o sabre em punho virando-se para o homem de paletó cinza.
–
Fascinante o que um humano pode fazer em menos de vinte e quatro horas com uma
caneta tão poderosa quanto essa. – disse o homem.
– Quem é
você?
– Eu sou
Maia. Um Arquiteto do Universo. Com essa Caneta que você está usando eu posso
criar planetas, galáxias… e com essa – ele mostrou outra caneta semelhante. –
eu posso criar vida. – ao dizer isso um homem apareceu no quarto terminando de
tirar o capuz da capa que deveria deixá-lo invisível.
– Se essa
caneta é sua, o que ela fazia jogada em uma escada?
Ele riu
constrangido.
– É
lamentável, mas eu a perdi. Acho que ela caiu no seu planeta.
– Então
você o mandou vim atrás de mim, pegar a caneta de volta?
– Buld é
uma criação minha. Na verdade criei toda sua raça e seu planeta também. É um
sacerdote e tem a permissão de me ver assim como você que está usando minha caneta.
Aliás. Se não se importa…
– Achado
não é roubado. – disse ainda com a espada em punho.
– Essa Caneta não lhe pertence. Só os Arquitetos do Universo podem usá-la.
– Então
como eu consegui fazer essas proezas? Acho que ela é bem democrática, não acha.
– Acho que
você deveria me devolver ela.
– “Se não…”.
Sabe? Eu tô cansado de ouvir essas ameaças, então porque você não faz logo o
que quer fazer?
– Eu não
posso interferi nas criações dos outros Arquitetos. No entanto Buld não é
Arquiteto.
O homem de
capuz tirou de sua capa uma espada igual à de Mazda, porém amarela.
– Você não
vai querer fazer isso. – disse o Outro.
– Ah, quero
sim.
Quando Buld
partiu pra cima de Mazda, este se teletransportou para atrás dele e o atacou,
porém o reflexo da criação de Maia era muito bom e se defendeu por pouco. Mazda
o atacou de várias maneiras encostando-o na parede até que este a atravessou.
– Pra onde
ele foi?
De repente
o homem de Maia saiu da parede dando dois chutes em Mazda que recuou. A luta
continuou intensa dentro do quarto até Buld chutar a barriga de seu oponente
contra o umbral e depois tentar corta-lhe a cabeça. Então Mazda foi para fora
do quarto onde a luta reiniciou. Os dois estavam usando suas habilidades: Buld
atravessando paredes e Mazda se teletransportando e voando, não obstante, o
ladrão de corpos e de canetas alheias criou um guerreiro das sombras e começou
a atacar Buld juntos. Por sorte, até mesmo o chão é um aliado do alienígena.
Quando ele tropeçou em uma divisão da parte coberta da não-coberta, o guerreiro
foi atacá-lo no chão, porém ele entrou e saiu do concreto dividindo o guerreiro
e voltando a atacar Mazda que se teletransportou para mais longe.
– Estou
impressionado. – disse Mazda ofegante.
– Suas
trapaças não poderão me deter.
Ao
contrário de Buld, o Outro já suava. Percebendo isso Cassandra apontou sua bola
de cristal para seu namorado.
– Se
interferir no seu amado eu terei que interferir na minha criatura. – disse Maia
apontando brevemente o dedo para Buld.
– Está
cansado? – perguntou o ET
– Eu ainda
dou conta.
– Que bom. –
após dizer isso, ele colocou o capuz e novamente ficou invisível.
– Isso não
é bom.
Mazda
esperou pelo ataque silencioso de Buld e quando este fez, ele estava preparado.
O alienígena ia cortar as mãos dele, porém, Mazda tirou o braço na hora certa
girando e enfiando seu sabre nas costas de Buld. Após dá o golpe, o Outro
abaixou o capuz do oponente mostrando sua cara de surpresa.
– Como? –
perguntou Maia.
– Ele tem
um cheiro horrível. Percebi que ele vinha pela direita então, imaginei que ele
cortaria meu braço. – respondeu retirando a espada e deixando o corpo cair.
– Não
precisava matá-lo.
– Ele matou
meu guerreiro. E agora? Quem será o próximo?
Maia estava
em um dilema: tinha que pegar sua caneta de volta, mas não podia atacar uma
criação que não era sua. Provavelmente ele não esperava que Mazda pudesse vencer
Buld. Nem eu, devo confessar. Cada vez mais Mazda me surpreendia. Primeiro ele
esticava membros, depois controlava o ar e agora pode sentir o cheiro das
pessoas ao seu redor. Como ele conseguia tanto poder? De onde ele tirava essas
habilidades que eu não tinha?
Era uma
incógnita.
Então de
repente Maia começou a falar, aparentemente, sozinho:
– Sua
criatura roubou uma caneta minha… Na verdade ele não roubou. Eu a perdi. –
disse embaraçado. – Eu tentei, mas ele matou minha melhor criatura. E eu não
posso atacá-lo… Acha que eu já não tentei? Só você pode resolver isso… Você
deve abrir uma exceção para ele. Não posso ficar sem minha Caneta… Eu posso
perder meu cargo! É arriscado… Tudo bem, Javé. Você tem razão. Farei isso agora
mesmo. – então olhando para Mazda ele disse: – Eu voltarei, humano. – então ele
sumiu.
– O que foi
isso? – perguntou Cassandra.
– Eu não
sei. Mas por precaução, eu quero que você faça uma coisa por mim.
– O que eu
posso fazer por você que essa tal caneta criadora não possa.
– Se os
poderes dela forem anulados, nada do que eu escrever vai valer. Por isso eu
quero que você feche meu corpo.
– Como é?
– Sentir o
cheiro desse cara foi um poder que veio na hora certa. Um golpe de sorte eu
diria, mas nem sempre pode ser assim. Por isso eu quero que você feche meu
corpo. Eu sei que pode fazer isso.
– Sim, eu
posso, mas para isso eu teria total controle do seu corpo.
– Como
assim?
– Para
fechar seu corpo eu tenho que criar um boneco seu…
– Tipo
Voodoo?
– Isso. Só
ferindo o boneco poderão te ferir. No entanto se eu cravar uma agulha no peito
do boneco, você morre.
– Eu confio
em você.
– Não
deveria. Ninguém deveria ter o controle da vida de outra pessoa.
– Escute
Cassandra. Eu estive nesse mundo por pouco tempo, mas foi tempo o suficiente
para descobrir que eu te amo. Se minha vida tiver que ficar nas mãos de alguém
que seja você.
– Mazda…
– Eu salvei
sua vida várias vezes. Está na hora de você retribuir.
Cassandra
ficou um tempo pensativa, mas por fim concordou.
– Tá. Mas
eu preciso de um fio de cabelo seu.
O Outro
cedeu seu fio e observou sua namorada fazer o boneco. Nesse momento Constelion
apareceu.
– Irm…
Mazda. – disse ao olhar para o dito cujo.
– Como sabe
que ainda sou eu?
– Se não
fosse pelo anel no seu dedo, eu diria por seu ar de deus.
O casal
nada disse.
– O que é
isso?
Mazda
fechou a porta à suas costas e saiu do quarto com Constelion.
– Nada.
Acho que acabou os clones de assassinos.
– A
primeira leva, você quer dizer. Ela está bem? Nem uma alternância de humor repentina?
– Eu a
curei com a caneta.
– E quando
vai me curar.
– De novo
essa discussão?
– Não é
justo o que você está fazendo Mazda. Mas é uma opção sua e, apesar da cigana
ser sua namorada não vai poder impedi-la de mudar meu rosto.
– Não, não vou.
Mas ela não vai querer.
– Como pode
estar tão certo?
– Eu sou
seu namorado e ela vai fazer o que me agradar.
Constelion
riu.
– Sua
concepção de namorada está tão equivocada que eu realmente me pergunto se é o
velho Mazda, escorregadio e poderoso que nem seis pessoas podem deter.
Dessa vez
foi Mazda que riu.
– Aposto
que nesse exato momento eles estão tramando um modo de me retirar daqui.
– Na
verdade, não. – Constelion sorriu. – Eles estão apostando em quanto tempo Dan conseguiria arrancar sua cabeça fora se tivesse o corpo dele.
– Danilo
não tem mais corpo, Constelion. – disse seco.
– Claro.
Cassandra
abriu a porta, contudo, antes que ela dissesse alguma coisa desapareceu como um
quebra-cabeça desfeito. Não só ela como Constelion. Não só os dois como o
quarto, a laje e todo o resto ao redor do Outro.
No lugar,
um imenso vazio, e vozes suaves, porém fortes o bastante para fazer reis se
ajoelharem.
– O que
está havendo?
– Você está
em um Julgamento. – disse a voz de Maia.
– Do que?
– Do
possível roubo da Caneta do Arquiteto Maia. – disse outra voz.
– Eu não a
roubei.
– E como
você a achou? – perguntou uma voz feminina dessa vez.
– Estava na
escada.
– Por que
as lembranças não são suas?
– Por que…
não são bem minhas.
– E de quem
são? – continuou a voz feminina.
– De… outra
pessoa. Éramos um, contudo fomos divididos. Ele estava no controle do corpo
naquele momento.
– Então foi
ele que achou a Caneta. – inferiu outra voz feminina.
– Sim, mas
a posse do corpo agora está comigo. E a Caneta também.
– Por que
não quer devolver a Caneta a seu verdadeiro dono, agora que sabe quem ele é?
– Por que
eu gostei dessa Caneta e não acho justo ele tirá-la de mim, já que ele a perdeu.
– Como pode
dizer o que é ou não justo, se aprisiona parte de sua própria alma em um anel? –
questionou Maia.
– Se é
parte de mim, eu faço dela o que eu quiser. Pelo menos não a perco por ai.
Não pude
deixar de rir com a resposta de Mazda. Mesmo falando de mim como seu não fosse
o dono do corpo, ele colocou bem seu ponto de vista.
– Tratar
sua própria alma como um objeto não é digno de alguém que se quer, possa olhar
para essa Caneta. – rebateu Maia parecendo que adivinhava o que eu pensava.
– Tem razão
Maia, mas isso não tira seu erro. – disse outra voz, masculina dessa vez. – Se
você é capaz de perder a Caneta, você também não merece
possuí-la.
– Nem ele.
– Então
concorda que não seria injusto se tirássemos de você essa Caneta, correto?
– Não. –
ele falou rápido, porque talvez fosse um ser divino, mas um simples ser mortal
titubearia com essa pergunta capciosa.
– Então
rebaixaremos você a apenas criador de coisas e não de seres. – disse outra voz.
– Afinal se falha na manutenção e guarda de sua Caneta pode falhar na criação
de um ser novo.
– Certo. –
Maia assentiu triste.
– E quanto
a ele? – perguntou uma voz feminina.
– Fazendo
um levantamento: – disse outra voz. – Adquiriu dois poderes com desenhos nas
mãos que foram utilizados contra assassinos, contra parte de sua alma no corpo
de seu primo e contra o próprio amigo.
“Dois a um”
pensei feliz.
– Colocou
parte de sua alma em um anel; tirou os poderes do irmão e colocou em si; tornou
seu corpo e da namorada com o dom da regeneração a ferimentos; fez assassinos
se matarem e criou uma espada para sua proteção.
– Empate. –
disse outra voz antes que eu terminasse minhas contas.
“Então o
que pesa mais?” pensei já não tão feliz.
– As únicas
mortes causadas pelo poder da caneta foram para salvar vidas.
– Exceto
pelo meu sacerdote. – disse Maia.
– Seu
sacerdote também tirou uma vida.
– Era do
mundo das sombras.
– E há
diferenças agora? Só por que não fomos nós que as criou é válido sacrificar
tais almas?
– Não. –
respondeu rápido de novo.
– Devido ao
empate de ações – começou a primeira voz. – a Caneta será concedida ao humano
de calasse C, tipo Homidi, de nome Mazda, desde que ele corrija todas as falhas
causadas por ele até o final de um ano em seu tempo.
– Ele será
um Arquiteto agora? – perguntou Maia.
– Sim. Um
Arquiteto Humano.
– Não será
justo colocar um humano com poderes acima de um Arquiteto. – disse a primeira
voz feminina.
–Não.
Portanto, para que haja o equilíbrio, Maia será restituído de suas canetas e deverá
observar e, quando necessário, guiar Mazda para a correção de seus deveres alertando-o
de seus devidos erros.
– Que erros
exatamente? – perguntou Mazda.
– Todos.
Para se tornar um arquiteto e ter a Caneta que tanto quer, terá que se redimir
de seus pecados. Terá o poder das Canetas Construtoras do Universo, mas seguirá
parâmetros, tais quais, não poderá criar nada além daquilo que seja para uso
pessoal, nem animal racional. E se criar algum animal irracional terá que haver
um motivo, uma lógica para que aquele animal passe a existir. Ele terá que ter
uma história. Porque ele foi criado, de onde vem sua espécie, onde vive, quando
surgiu o primeiro, como se dá sua reprodução, quais suas características que
lhe difere dos outros animais, de quem é caça e de quem é predador, terá que
dizer seus ciclos reprodutivos, digestivos e, além de outros, seu ciclo de
vida. Isso, além de outras considerações. Todos estão de acordo?
– Sim. –
disseram em um harmônico uníssono.
– Está de
acordo, humano?
– Sim. –
respondeu Mazda com um sorriso incabível em sua cara.
Então tudo
voltou ao seu lugar exatamente como era antes. Mas ele não era mais o mesmo.
Ele agora tinha uma Caneta em cada mão e podia fazer, definitivamente, o que
quisesse. Agora ele era um Arquiteto Humano do Universo.
Agora
ele era um deus.
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