Capítulo VII - A Caneta



Estávamos em frente à porta de seu Carlinhos. Todos os que venceram a guerra contra o Jegue e a Princesa. Todos que voltaram, é claro. Eu, Papel (Rômulo), Nany (Giuvânia), Bibi (Tamiles), Barbie-Com-Defeito-De-Fábrica (Elaine), Leo (Leonardo), Pé (Larissa), Nessa (Vanessa) e Poteta (Jean) que estava calado como sempre.
Falávamos sobre a paixonite de Barbie-Com-Defeito-De-Fábrica por um dos bruxos que usamos na guerra.
– Você tem que me apresentar, Pé. – dizia ela.
– Eu não posso Barbie. Eu não sei se trazendo ele aqui será da vontade dele querer te conhecer ou não. Eu posso tá forçando ele a ficar com você em vez de simplesmente apresentá-lo.
– Por que você não vai até a ele, Barbie? – pergunta Papel.
– Ta maluco?! – exclamou com sua voz ruidosa e aguda. – Ele mora do outro lado do mundo!
– E? – perguntou Leo.
– Eu não vou largar escola, família e amigas por causa de um bruxo.
– Ah… diga isso: você não quer largar suas amigas e não a escola. – inferi.
– A escola também.
– É que lá tem outros gatinhos. – explicou Nessa fazendo a gente ri.
– Também. – disse ela com um sorriso no rosto.
– Assim não dá Barbie. – falou Nany. – Você tem que escolher o gato que você quer.
– Você só tem duas opções e ainda não sabe. – respondeu silenciando o grupo e deixando papel e Nany constrangidos.
Os dois haviam ficado, porém, tudo indicava que foi uma tentativa por parte de Nany de esquecer o irmão de Bibi.
– Braço! – chamou Carol (Carolina) do outro lado da rua. Ela estava dentro da varanda de sua casa.
– Depois dessa eu vou até me retirar. – disse indo até a mulher, porém no meio do caminho três coisas inesperadas aconteceram: meu pai me ligou, um som metálico e um brilho vieram da escada escura sem que ninguém mais percebesse e Claudinha (Cláudia) veio descendo essa mesma escada com um vestido curto deixando suas pernas morenas a vista. – Rapidinho, Carol. – eu atendi ao telefone: – Alô!
– Dan?
– Oi meu pai. – me dirigi à escada. – Tudo bom?
– Tudo e você?
– Tô bem.
– Graças a Deus. Cadê Júnior (Murilo Júnior)?
– Na faculdade. Deve ter desligado o celular. – expliquei a possível falta de comunicação entre eles dois, no momento em que cheguei até o objeto e Claudinha chegou até mim.
Era uma caneta. Eu a peguei e analisei sob a luz do poste do topo da escada. Nesse ínterim, Claudinha acariciou meu rosto tornando sua mão quente e meu rosto frio. Era uma coisa que acontecia entre nós sem muita explicação. O fato era que se nos tocássemos por muito tempo ela ficaria literalmente febril e eu hipotérmico.
– Mas o que o senhor quer com ele? – perguntei olhando pros olhos verdes da moça à minha frente.
– Queria lhes apresentar alguém. Você pode vir até aqui no hospital onde sua tia trabalha?
– Posso sim. Houve algum problema?
– Não, não. Só quero te mostra uma coisa.
– Tudo bem, já estou indo.
– Tchau.
– Tchau. – desliguei o telefone e me virei para Claudinha. – Isso é seu? – perguntei mostrando a caneta.
– Não. – respondeu um pouco hesitante a ter que retirar sua mão do meu rosto.
– Parece que alguém deixou cair. Se você souber de alguma coisa…
– Eu aviso.
Eu fui subindo as escadas, mas parei ainda próximo dela.
– A propósito, você está linda.
– Obrigada. – respondeu sorrindo.
– E diga a Carol, por favor, que eu tive um compromisso e depois eu falo com ela.
– Pode deixar.

Alguns minutos depois eu tava no hospital onde minha tia Silvana trabalhava. Estava vazio e silencioso. E isso era bom.
No chão havia um rastro de energia verde que, pelo traçado, só poderia ter deixado por meu pai.
– Olá! – disse entrando na sala. Lá estavam meu pai, minha tia e minha prima Liloca.
Abracei cada um e só depois eu vi que havia mais uma pessoa ali.
– Dan, eu quero te apresentar uma pessoa. – disse meu pai.
Então a pessoa saiu do canto da sala de onde estava imóvel e mostrou-se sob a luz da lâmpada. Ele era branco feito cera. Tinha a minha altura, era magro, possuía olhos castanhos, cabelos negros… era bem parecido comigo. Aliás… parecido até demais. Ele era a minha cara… literalmente!






– Mas… como? – disse entre os lábios me posicionado para o ataque discretamente.

Mas não. Ele era branco de mais para ser o clone. E havia outras coisas nele que não eram tão semelhantes a mim assim. Ele tinha caninos… bem finos e proeminentes. Apesar de estar de boca fechada, dava para perceber com um pouco mais de atenção. Então ele era um vampiro. E por que se parecia tanto assim comigo? Alguma mágica vampírica que eu nunca ouvi falar?

– Esse é Constelion. Seu irmão. – disse meu pai.

– O que? Mas… como?

– É. Eu sei. É estranho. Você nunca soube que eu tive outro filho antes, mas é a verdade. Eu tive casos com outras mulheres e espero que Constelion seja o único fruto desses adultérios.

– E como explica ele ser a minha cara. Até os gêmeos não se parecem se forem bivitelinos. E ele veio de outro útero!

– Eu sei, mas…

– Tudo bem meu pai. – interrompeu Constelion. – Tudo isso é culpa de minha mãe. Recentemente ela foi assassinada por um assassino. Infelizmente a única coisa que pude fazer foi arrumar suas coisas para queimar com seu corpo, então eu encontrei um diário que falava de nosso pai. Na verdade falava sobre vários homens que minha mãe teve caso. Porém uma passagem chamou minha atenção. Ela falava de um feitiço lançado por uma mulher chamada Cassandra. Segundo o diário, ela havia advertido minha mãe sobre os romances que ela mantinha com homens casados e diz que se ela engravidasse de algum esse filho teria o rosto do filho da mulher traída.
– Isso explica porque você tem a minha cara.
– Eu estava sugerindo a ele uma cirurgia plástica, mas ele recusou. – disse minha prima.
– Não acho que vá resolver. O feitiço não deve ser biológico e sim ilusório. Eu tenho que encontrar essa tal Cassandra e pedir para ela desfazer o feitiço. Eu não tenho culpa dos casos amorosos de minha mãe.
– Falando desse jeito, parece até que eu sou feio. – disse em brincadeira, porém ele não riu. – E você sabe onde encontrar “essa–tal–Cassandra”?
– Eu a segui até aqui, porém perdi seu rastro. Foi ai que eu encontrei Liloca.
– Pensei que fosse você, mas estava branco demais. E tinha um olhar diferente, não tão ingênuo.
Eu só olhei para minha prima, contudo não disse nada.
– Então ela o trouxe até mim e chamou seu pai para fazer o exame de DNA. Bateu certinho. – falou minha tia
– Achei que vampiros não se reproduziam.
– Eu fui o primeiro.
– Cool.
– Eu posso descobrir onde essa Cassandra está.
Todos nós olhamos para meu pai, surpresos.
– Todo encantamento é uma parte de uma energia maior, uma fonte que está em quem a lançou. Se eu conseguir uma pequena porção da magia posso usá-la como uma bússola.
– Que bom! – comentou Constelion sorrindo e mostrando seus caninos afiados.
“Eu nunca estive frente a frente com um vampiro em minha vida, muito menos um que era a minha cara.” Pensei enquanto meu pai fazia seu truque. “Parecia meio surreal. Ele era uma versão mais animalesca minha que não conseguiria imaginar sozinho e meu pai o tratava como um filho que sempre esteve ao seu lado. Um filho querido que era merecedor de todos os mimos que só os melhores filhos recebiam. Isso chegava a ser… espere! O que eu estou pensando? Aquela viagem até Isabel, não me fez bem. To sofrendo abstinência do anel dourado, tenho pensamentos ambiciosos e até mesmo coléricos. A última vez que estive assim tão irritado por nada foi quando eu fui buscar o dinheiro na casa alugada… e depois fui na lotérica, onde quase fui dominado por um assaltante se Mazda não tivesse interferido e tomado conta do meu corpo.
Isso não é bom. Me parece um aviso. Eu tenho que ficar…”
– Cuidado! – com um reflexo quase inumano, eu pulei em cima de meu pai que retirava um pouco do feitiço lançado em meu irmão, derrubando-o enquanto Constelion desaparecia em um vapor negro, segundos antes de uma bala acertar a parede à suas costas. 



Liloca se jogou atrás de uma mesa e minha tia fez o mesmo depois de destruir a porta com um poder cilíndrico transparente. O homem também se escondeu atrás de uma mesa e Constelion apareceu em outra ao nosso lado.
– Tome Dan. – sussurrou meu pai antes de me dá um anel com uma fenda entalhada nele. – Use esse anel para encontrar Cassandra. Leve seu irmão junto com você. Pedirei que Liloca os siga depois para protegê-los.
– Você não pode enfrentá-lo. Ele tá armado.
– Eu sei. Por isso mesmo que eu quero que você saia daqui.
– Eu posso ajud…
– Danilo! – exclamou um pouco mais alto que um sussurro. – Eu estou mandando.
Eu o fitei por uns segundos, mas depois confirmei relutante. Meu pai olhou para Constelion e transmitiu a ordem no mesmo sussurro, que, ao contrário do que eu pensei chegou aos ouvidos do vampiro. Então ele sumiu de novo e reapareceu ao meu lado, porém o pequeno barulho alertou o assassino que começou a atirar em nossa mesa. Minha tia então lançou seu cilindro no teto que desabou onde o homem estava segundos antes.
Com o cessar dos tiros, Constelion nos teletransportou para o pátio do hospital.
– Fuja. – disse ele.
– Meu pai falou pra… – ele já tinha desaparecido.
Do anel das sombras eu trouxe a esse mundo um guerreiro das trevas e ordenei que ele entrasse no prédio e salvasse os quatro lá dentro. Eu nunca tinha feito isso antes, mas a sensação era igual ao que eu senti quando mandei Mazda achar as pedras para nos libertar de Esforiöul. Tudo que o guerreiro pensasse, eu saberia e poderia ver o que ele visse.
Ele se movia pelas sombras e chegou rapidamente no laboratório. Meu pai havia derrubado a arma do homem com um poder verde e Constelion apareceu bem à sua frente e travou uma batalha corpo-a-corpo, porém ele parecia experiente e bem treinado. Não levou um minuto para poder derrubar meu irmãozinho.
Em contra-ataque minha tia lançou seu poder novamente, contudo este refletiu na capa do assassino e voltou contra ela.
– Liloca, tire Constelion daqui. – mandou meu pai soltando o poder verde contra o homem. O poder voltou, porém esperando isso meu pai desviou.
Foi tempo o suficiente para Liloca pegar Constelion pelo braço, soltar um poder na parede que criou um buraco até o pátio e vim com ele. Na sala meu guerreiro apareceu atrás do atirador e começou a estrangulá-lo e, apesar dele se jogar contra a parede as únicas costas que ele bateu foi a sua própria, pois meu súdito era meio sombra, meio físico.
Meu pai não entendeu, mas foi inteligente o bastante para pegar minha tia pelo braço e sair correndo pelo corredor.
Quando minha prima e meu irmão chegaram até o pátio, o buraco criado por ela se fechou.
– Dan, vamos! – chamou.
Nós a seguimos até um ponto de ônibus onde pegamos o primeiro que passou. Sentamos no fundo.
– E quanto a meu pai? – perguntou Constelion.
– O pai e a tia de vocês vão ficar bem. Não se preocupem. – ela se virou para mim. – Meu tio te deu um anel que nos leva a tal Cassandra não foi?
– Foi. Como soube? – fiquei com medo de que não só ela, como o assassino pudesse ter ouvido a conversa.
– Todos nós temos telepatia, não sabia?
– Como assim, todos nós?
– Todo Falcão pode se comunicar telepaticamente com o resto de sua família. Mesmo os que estão distantes. Você não sabia disso?!
– Não.
Ela olhou para mim aturdida.
– Deveria?
– Deveria. – ela se recostou no banco do fundo, depois acompanhou meu olhar para Constelion que estava engolindo em seco e inflando as narinas que deixavam seus dentes levemente à mostra. – O que foi Constelion?
– Tem uma moça nesse ônibus que está menstruada.
– E?
– Eu não como há dias.
Furtivamente, criei uma espada das sombras para o caso de ele querer atacar alguém, porem ele sorriu e disse:
– Não se preocupem. Eu vou até um posto de doação de sangue e encontro vocês pelo cheiro.
– Mas…
Ele havia sumido deixando, dessa vez, Liloca falando sozinha.
– Isso deve ser uma mania dele. Já é a segunda vez que faz isso.

Por sorte ou coincidência o ônibus passou por um ponto próximo de onde o anel indicava.
– Então quer dizer que todos, inclusive Constelion tem uma ligação telepática com toda sua família, menos eu?
– É o que parece.
– Mas por quê?
– Eu não sei.
– Relaxe, irmão. Você não foi trocado na maternidade. – disse Constelion nos surpreendendo.
– Se alimentou bem do sangue dos outros?
– O açougue tava mais atrativo. – respondeu com um sorriso.
Sem dizer mais nada fomos até a casa.

– “Veja seu futuro, presente e passado com a Cigana Cassandra. Satisfação ou o dinheiro de volta”. – leu Constelion. – Tem certeza que é aqui?
– O anel aponta para essa casa. – respondi. – E veja o nome: cigana Cassandra.
– Imaginei que estávamos atrás de um bruxo.
– Ciganas também tem poderes místicos. – falou Liloca.
– É. Elas enganam misticamente. – não pude deixar de rir com a piada de meu mais novo irmão.
Entramos na casa, cuja sala estava cheia de elementos esotéricos e místicos e, no sofá, lendo uma revista de fofoca, uma mulher que falou despreocupadamente:
– Estamos fechados.
– Você que é Cassandra? – perguntou Constelion.
– Você é surdo? – perguntou calmamente. – Estamos fechados.
– Eu preciso que retire o feitiço que colocou em minha mãe. E que se apresenta em mim.
A moça tirou os olhos da revista e fitou o trio a sua frente.
– Você vai pagar? – perguntou após um suspiro.
– Eu não vou pagar nada! Você jogou uma praga em minha mãe. Agora eu quero que tire.
– Em primeiro lugar, eu não sou Cassandra. Ela está em seus aposentos descansando. Em segundo lugar, se ela fosse poderosa o suficiente para colocar um feitiço em sua mãe que refletisse em você, não estaria vendo essa sala vazia.
Os dois olharam para mim.
– O anel indica que a fonte vem daqui.
– Você não mentiria, não é? – perguntou minha prima em tom ameaçador.
– Eu tenho mais o que fazer. – respondeu de forma despreocupada olhando para a revista ainda nas mãos. – Mas por curiosidade… que feitiço foi lançado em você? – Voltou a nos olhar.
– Se não pode ajudar, não deveria se preocupar. – respondeu se virando.
– Espere. – pediu uma voz vinda do corredor. – Talvez eu possa te ajudar. Se eu souber o que aconteceu com você.
– Você é Cassandra? – perguntei.
     – Sim.


Novamente meus familiares me olharam. Eu apontei o anel para a ruiva a minha frente, porém ele não indicou mais energia do que havia na casa.
– Não é ela.
Nos olhamos por um breve instante até que Liloca disse:
– O que estaríamos perdendo?
– Tempo.
– Pra quem vive mais de mil anos, alguns minutos não é nada. – disse seguindo minha prima que seguiu a cigana.

A moça nos levou até uma sala que deveria ser sua sala de trabalho. Havia muito mais que objetos místicos. Havia coisas estranhas que eu nunca vi antes e que não teria tempo para observar, já que vínhamos em uma missão de certa urgência.
– E então? O que houve com você?
– Uma mulher chamada Cassandra, assim como você, colocou um encantamento em minha mãe. O filho que ela tivesse com um homem casado nasceria igual ao filho desse homem com sua esposa. – por fim ele apontou para mim.
– E acha que sou eu?
– Meu pai conseguiu extrair um pouco do encantamento que deve ser ilusório e colocou neste anel. A energia que ele colocou no anel serviria como bússola para encontrar a fonte. Que deveria ser você.
– E a energia aponta para cá?
– Exatamente.
– Posso ver o anel?
Ao meu lado eu vi que Constelion e Liloca trocaram um olhar furtivo, mas não dei importância para eles. Algo me dizia que aquela moça de madeixas vermelhas era confiável.
Tirei o anel do dedo e passei para ela, contudo quando toquei em sua pele macia eu me senti tonto, mas meu corpo não cambaleava. Ele permanecia firme como se minha tontura não o influenciasse. Como se ele fosse influenciado por outra coisa ou… pessoa…
“Droga! De novo não.”
Cassandra analisou o anel entre seus dedos e, após alguns segundos falou:
– É. É verdade. A energia aponta a fonte para essa casa.
– Mas se não é você, quem é? – perguntou Constelion sem perceber o que acontecia comigo.
– Talvez… minha mãe. Acho que ela que amaldiçoou a sua.
– E onde ela está? – perguntou Liloca.
– Por toda a casa. Quando ela morreu, eu a cremei e joguei suas cinzas pela casa.
– Essa não!
– Bom… – disse minha prima numa tentativa de ver uma boa saída para a situação. – Você ainda tem a opção da cirurgia.
– Espere. Se sua mãe conseguiu fazer o feitiço, você pode desfazê-lo, não? – perguntou Mazda.
– Acho muito difícil. Como vê, eu estou sem cliente porque não consigo ver mais… – Cassandra parou de falar assim que olhou para mim. – Quem é você?
– Como é? – perguntou Mazda.
Todos olharam de mim para ela sem entender. Exceto eu que, esperançosamente achava que ela podia distinguir entre mim e o Outro.
– Não era você que estava ai. Era o outro. O que era a cara dele.
– Não sei do que você está falando.
– Você sabe muito bem do que eu estou falando. Quem me entregou o anel não foi você. Foi o outro rapaz.
Pude perceber que Mazda olhava para ela analiticamente.
– Pelo visto, agora eu sei por que você perdeu seus clientes. Essa mulher é maluca. Vamos.
Ele começou a ir em direção a porta, acompanhado apenas de minha prima. Constelion ficou parado observando a cena.
– Espere. – pediu Cassandra fazendo os dois pararem. – Seu anel.
– Não me serve de mais nada. – respondeu.
– Não vai devolver o anel de seu pai? – perguntou surpreendendo os três. E a mim também, confesso.
– Não disse que não conseguia ver mais nada? – perguntou Liloca indo até a moça.
– Às vezes me dá uns lampejos. – Cassandra desviou deliberadamente dela e entregou o anel na mão de Mazda. Quando as mãos dos dois se tocaram, foi como se uma neblina de repente desaparecesse da minha vista.
Eu estava de volta.
– Olá de novo. – disse sorrindo.
Eu peguei o anel de volta e me afastei.
– Tudo bem. Agora que eu sei que são dois, isso não irá acontecer de novo.
– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – pediu minha prima.
– Irmão tem dupla personalidade. – disse Constelion. – Percebi pela maneira que Cassandra se referiu a ele depois que os dois se tocaram. Observei como ele falou com ela, como andou. Todo seu trejeito mudou.
– Isso é verdade, Dan? – perguntou minha prima.
– É.
– E qual o nome do outro? – perguntou a cigana.
– Ele se autodenomina Mazda.
– Imagino que ele deva te chamar de Mainyu.
– Como?
– Deuses persas… o bem e o mal.
Arqueei uma sobrancelha.
– Esqueça.
– Desde quando você tem essa personalidade? – perguntou Liloca.
– Há algum tempo. Mas como você conseguiu nos distinguir? – perguntei para Cassandra.
– Eu sou uma cigana, lembra?
– Que perdeu seus poderes.
– Mas graças a um de vocês dois meus poderes voltaram.
– Com apenas um toque? – arguiu minha prima.
– Pois é. Isso que eu chamo de sintonia cósmica. Com um toque eu mudei sua personalidade e tive de volta meus poderes.
– Mas quando você o tocou de volta ele voltou ao normal. – concluiu Constelion. – Isso não significa que voltou a perder seus poderes também?
Aquilo era uma coisa bem coerente. E Cassandra percebeu isso.
– Venha cá. – Ela chamou o vampiro para perto da mesa. – tire uma carta desse baralho.
– O que?
– Por favor.
Meio cético, Constelion retirou uma carta.
– É um cupido?
– Não. – ele virou a carta para ela. Por um espelho deu para ver que era uma carta preta. A carta da morte, acho.
– Tem razão. Eu perdi meus poderes novamente.
O casal na mesa olhou para mim.
– Acreditem em mim. Trazer Mazda de volta não vai ser boa coisa.
– É o único jeito de desfazer esse feitiço.
– Você nem sabe se ela pode desfazer.
– Você tem razão, mas eu posso tentar. Tenho mais chance de desfazer esse encantamento se eu tiver de volta meus poderes.
– Essa é minha única chance, irmão.
– Da última vez que Mazda saiu, foi um desastre.
– A última vez que ele saiu não durou nem cinco minutos. – me corrigiu Cassandra.
– Que seja. A penúltima vez que ele saiu eu fui parar dentro de uma pedra marciana.
– O que?! – exclamou minha prima.
– Deixe de ser egoísta, irmão. Você não sabe como é o fardo de ter a cara de outro e não a sua própria.
– Tem razão, Constelion. Mas você também não sabe o que é assistir um garotinho arrogante e prepotente arriscando a sua vida e a vida de outras pessoas no seu próprio corpo.
– Ele é parte de você, Dan. Não devem ser muito diferentes. – disse Cassandra.
– Como água e vinho.
– Irmão, por favor. Não me obrigue…
– Não me obrigue a quê? Você vai tirar Mazda de dentro de mim à força?
– Se você não colaborar.
– Quem está sendo egoísta agora?
– Tem alguma coisa errada com Helena. – disse a cigana de repente.
– Quem é Helena? – perguntou minha prima.
– Meu arcano.
– Irmão, daremos um jeito de trazer você de volta.
– Acredite, Mazda fará de tudo para não deixar que isso aconteça.
– Cuidado! – com o grito, Cassandra me alertou no momento exato que o assassino apontava para eles.


Eu controlei seu sangue e o joguei contra uma parede derrubando sua arma. No segundo seguinte Constelion estava na minha frente me socando com força. Eu cuspi sangue. Quando me virei para revidar ele já estava chutando a barriga do assassino que tentava levantar e na minha frente estava a ruiva. Ela me puxou e sem que eu esperasse me deu um beijo.
 E dizem que você ouve sinos…
Mazda afastou a garota no momento em que o assassino levantava dando um chute na cara de Constelion e virava com a pistola que pegou do chão ao dá a cambalhota e apontava na nossa direção. Ele chegou a apertar o gatilho, mas o poder de Liloca havia chegado nele antes, fazendo-o desaparecer.
– O que você fez? – perguntou Cassandra num misto de medo, surpresa e alivio.
– Meu poder pode criar passagens em objetos sólidos como parede, mas quando atinge alguém o deixa preso viajando entre várias dimensões indefinidamente.
– Será que ele matou meu pai e minha tia? – perguntou Constelion se levantando.
– Não. – respondeu Mazda. – eu mandei um guerreiro cuidar dele para que eles fugissem, mas ele falhou. No entanto eles conseguiram fugir.
– Você salvou minha vida. – disse Cassandra toda derretida para Mazda.
– Uma pequena e simplória retribuição a quem me devolveu a vida.
Os dois riram.

Cassandra havia garantido que iria estudar sobre o feitiço que sua mãe colocou em Constelion e assim que descobrisse algo nos chamaria.
Liiloca voltou com o anel para casa e Mazda levou Constelion para a minha. Inicialmente eu achei uma total ausência de tato por parte de Mazda ao levar o filho de meu pai com outra para dentro de minha casa, porém, para minha surpresa, minha mãe o recebeu de boa vontade, contudo o vampiro deveria dormir na laje.
– Espero que as acomodações estejam boas.
– Não se preocupe. Eu tenho a noite toda para me acostumar até eu ir dormir. – Constelion observou Mazda. – Algum problema?
– A última vez que estive nessa casa foi do tamanho de um boneco. Agora ela me parece estranhamente…
– Pequena?
– Diferente.
– É verdade que você trancou Dan em uma pedra marciana.
Fomos aprisionados. Ele bota a culpa em mim, mas duvido que pudesse fazer algo diferente. – disse colocando as mãos no bolso e retirando, em seguida, com a caneta que eu achei na escada.
– O que é isso?
– Não sei. Estava aqui no bolso. É uma caneta. – Que perspicácia!
Ele analisou o objeto em sua mão então desenhou um risco na mão que se auto-corrigiu virando um raio, depois sumiu.
– Estranho.
De repente faíscas elétricas começaram a surgir na palma de Mazda. Ele apontou para o céu e um raio saiu de sua mão cortando o ar causando uma trovoada.
– Uau! A caneta fez isso?
– Parece que sim.
Ele trocou a caneta de mão e desenhou algo que pareciam chamas na outra palma. Segundos depois sua mão começou a pegar fogo, mas não queimava.
– Que achado, hein! – exclamou Constelion.
– Mas isso é uma caneta e não um lápis. O que acontece se eu escrevo as palavras?
Instantes depois os dois estavam no andar inferior de frente para uma folha de papel. Mazda se inclinou escreveu a palavra fogo.
Nada aconteceu.
– Talvez algo aconteça se escrever frases. – aconselhou o vampiro.
Novamente o rapaz se inclinou no papel e utilizando a palavra já escrita manuscreveu:
“O fogo consumiu o referido papel.”
Mal o ele retirou a caneta e o papel começou a queimar.
– Incrível!
Desastroso! Se com meus anéis e poderes que eu não tinha ele já fazia besteira, agora ele causaria desgraças. Por que logo eu tinha que encontrar aquela caneta?
Em outra folha ele escreveu que a folha queimada voltaria ao normal e assim se fez.
– Percebe Isto, Mazda? Tudo o que você escrever vai acontecer. Você pode retirar meu feitiço. Agora mesmo!
– Pra que a pressa, garoto?
“Ele não vai fazer isso tão cedo, Constelion.” pensei sem reparar no que meu hóspede escrevia. “Você deveria ter me ouvido”
– Do que está falando? Você pode fazer isso agora mesmo.
Um anel de bronze saiu da folha, o que chamou minha atenção. Em cima dele havia algo alarmante escrito.
– Eu sei. Mas você já pensou se você não gosta de seu rosto? E você pode dizer que é meu irmão gêmeo. Isso vai fazê-lo se sentir mais da família. – disse com um sorriso colocando o anel no dedo.
Esse gesto causou uma força descomunal que me pegou como se eu fosse um pano e me lançou para uma estrutura metálica circular.
Ele me aprisionou no anel.
– Você não vai fazer tão cedo não é? Pois se fizer não haverá motivo pra você continuar aqui.
– Com essa caneta isso nem é algo a se pensar. A verdade é que talvez eu não queira ter esse rosto pra sempre. Talvez eu queira ter o meu próprio.
– Eu não serei o substituto de Dan.
– Você será o que eu quiser.
Constelion tentou pegar a caneta da mão de Mazda, no entanto este o jogou contra a parede com uma rajada de ar saindo de uma mão. E com a outra ele invocou dois guerreiros das trevas.
– Senhores. Tomem conta dele. E cuidado que ele é perigoso.
– Seus guerreiros não podem me deter Mazda.
Com um sorriso amarelo ele diz:
– Acredite. Depois do que eu escrevi no ar, você não pode ir a lugar algum.
E usando a mesma poeira negra que teletransportava Constelion, Mazda desapareceu.

E reapareceu na casa de Cassandra.
– Atrapalho?
– Como entrou? – perguntou a mulher que lia a revista na sala.
– A porta estava aberta.
– Não, não estava. – disse Cassandra.
– Seus poderes voltaram mesmo, não é? – perguntou andando pela sala de trabalho da cigana.
– Mais do que eu imaginava. – respondeu antes de olhar para a outra mulher que se retirou. – O que quer? Não tem nem duas horas que vocês saíram.
– Fiquei tempo de mais preso em um corpo que era utilizado de maneira ociosa. Não queria ficar em casa. Então vim te chamar para sair um pouco. Respirar.
– A casa é bem arejada, Sr. Mazda. – disse rindo.
– Eu não sou adivinho, mas aposto que ficou semanas aqui trancada tentando reaver seus poderes. E agora que os tem vai continuar aqui trancada?
– Eu tenho um trabalho para fazer para seu irmão.
– Qual é? – disse se aproximando. – Ele passou anos com aquele rosto e vai passar tantos milênios sem ele que nem vai se lembra como era. Se tinha sobrancelha grossa ou fina… – mais perto. – nariz grande ou pequeno… – mais perto ainda. – cabelos pretos ou ruivos. – frente a frente. – Seus cabelos são lindos sabia?
– É o primeiro a achar. – disse ficando vermelha.
– As pessoas não acham ruivos bonitos. Eles não sabem o que estão perdendo.
– Se se aproximar mais um passo, meu toque pode trazer Dan de volta e eu perderei meus poderes.
– Gosto do perigo. – respondeu tirando o anel do dedo.
    No chão eu não poderia ver absolutamente nada.






Fiquei assim por um tempo indeterminado até que senti os dedos de alguém. Era uma mulher. Tentei lhe dizer alguma coisa, mas ela só ouviria, como percebi depois, se colocasse o anel. E ela não o fez.
Mais algum tempo, que eu não sei exatamente quanto foi, fui passado para outro, contudo novamente essa nova pessoa não colocou o anel.
Não de primeira.
“Constelion?”
– Irmão? O que faz num anel?
“Mazda me aprisionou aqui. Tem que me libertar.”
– Acho difícil. Ele está com uma caneta poderosa que pode tornar realidade tudo o que ele quiser.
“Eu sei, mas ele não pode ficar com meu corpo.”
– Me desculpe, irmão por não ter te ouvido. Mas eu não sei o que fazer para te ajudar. Ele tirou meu poder de teletransporte e colocou dois seguranças me vigiando:

(Para ver na fonte original, baixe e instale clicando Aqui)

– Senhores. Tomem conta dele. E cuidado que ele é perigoso.
– Seus guerreiros não podem me deter Mazda.
Sorrindo sarcasticamente, Mazda disse:
– Acredite. Depois do que eu escrevi no ar, você não pode ir a lugar algum.
Apos dizer estas palavras, ele desapareceu da mesma forma que eu fazia, transportando suas moléculas para o local desejado por uma fenda no espaço.
“Droga!” observei seus escravos e arrisquei uma fuga, contudo, foi um fracasso:
Eu voei na direção de um dos guerreiros contra a parede, mas ele se transformou em sombra e eu colidi contra o concreto. O outro me pegou pelas costas enquanto o primeiro saía da parede para me socar algumas vezes. Em seguida eles me levaram para o quarto na laje e me trancaram lá.
Eu fiquei pensando em um modo de deter os guerreiros, porém tive que parar ao ouvir uma pequena explosão e um clarão do lado de fora. Então, de repente a porta foi arrombada e lá estava o assassino apontando uma arma para mim. Sem pensar muito eu voei no pescoço dele e, quando o larguei seco no chão, uma chave caiu. Percebi que era da moto que ele usava e, com ela, fugi até a casa de Cassandra no intuito de alertá-la.
Chegando lá, fui recepcionado por Helena, a amiga de Cassandra que vimos na sala.
Onde está Cassandra?
Eu não sei. Mazda apareceu aqui e depois os dois sumiram. Ele deixou cair isso. então ela me passou esse anel.
Mal analisei o anel e ouvimos uma batida na porta
Clientes? perguntei.
    – Acho difícil. Helena foi abri a porta e recebeu uma coronhada. Era o assassino de novo.


“Mas que droga!”
Ele começou a atirar em minha direção, mas por sorte fui mais rápido e entrei na cozinha. Havia uma porta lá, mas eu tinha que tirar ele da minha cola pois, se havia mais de um, quanto menos melhor.
Cortei com uma faca o cano do gás e fui para a bancada de frente para a porta. Ele apareceu e quando o gás já tomava conta de parte da cozinha eu levantei e sai pela porta. Como eu havia imaginado, ele atirou e causou uma explosão. Escapei por pouco do fogo. Então eu fugi só parando agora para abastecer.
Preferi não voltar lá para ver se ele tinha morrido.

“E quanto a Helena.”
– Creio que ficou bem. A explosão não destruiu a casa toda. Agora eu estou indo até a casa de Liiloca para lhe explicar tudo e preveni-la sobre Mazda.
“Não há tempo para alertas. Temos que arranjar um jeito de deter Mazda e é agora.”
– Irmão! Ele pode estar indo até a casa de Liloca nesse exato momento.
“Eu sei, mas minha prima sabe se virar. Além do que, de nada vai adiantar alertá-la se não temos como detê-lo. E lembre-se, ele está com Cassandra, sua verdadeira chance de ter seu próprio rosto. Se ela se voltar contra ele, sabe-se lá o que ele pode fazer.”
– Cassandra, sim, sabe se virar. E ela não é da nossa família. Liiloca tem que ser prioridade acima de meu rosto e de uma cigana.
“Acha que eu não me importo com minha família?”
– Você nem ao menos tem a nossa telepatia. E para ter isso é necessária empatia familiar.
“Então avise a ela telepaticamente.”
– Se Mazda também tiver esse dom, ele também ficará sabendo. Os pensamentos vão viajar em rede aberta.
“Deixe de ser obtuso, Constelion! Deter Mazda deve ser prioridade, pois ele representa um risco a todos.”
– Eu não vou discutir isso com você.
“Conste…” antes que eu sequer completasse seu nome ele retirou o anel.
Isso já estava ficando irritante. Eu tinha que descobrir um modo de não ser tão vulnerável.
“Vamos lá, Danilo. Você tem o sangue Falcão nas veias. Você também pode se comunicar com seu pai. Tente. Tente!”
E enquanto eu estava no vazio, me concentrei o máximo que eu pude em meu pai. Contudo, quando achei que estava quase conseguindo, perdi a conexão. Tentei de novo, porém não fui mais além do que tinha ido.
Depois tentei a mente de Júnior; Liloca; Silvainha, mas o resultado era o mesmo e isso era frustrante. Tentei então um público maior: me concentrei na mente e nos pensamentos de cada parente meu por parte de pai e achei o menos provável: meu primo Bob (Bruno). Eu senti seus pensamentos acerca do anel. Suas dúvidas, sua curiosidade e foi em cima disso que o convenci a usá-lo.
“Bob!”
– Dan? Então é verdade? Você foi preso no anel.
“O que houve? Onde é este lugar?”
– É a casa de Keka (Kelly). Liloca me trouxe pra cá.
“O que houve na casa dela? Me conte tudo.”
– Um vampiro que era a sua cara apareceu lá…

Liloca? chamou o vampiro quando chegou lá.
Constelion? O que houve? Que cara é essa?
Dan estava certo. Mazda é perigoso. Ele encontrou uma caneta que tudo o que ele escreve acontece e colocou Dan num anel.
Aí foi a vez de você, quero dizer, o cara que parecia com você, mas não era você, aparecer do nada:
Constelion? Onde você estava?
Se afaste Mazda! disse colocando Liloca atrás dele e na minha frente.
Eu descobri. O assassino está atrás de você e de Cassandra. Quando voltei para casa você não estava lá.
O que?
Lembre-se que na casa dela ele ia atirar nela e não em você. E há muitos dele.
Onde ela está?
Na casa de um amigo. Você tem que me dizer por que ele matou a mãe de vocês e quer matá-los agora.
A mãe de Cassandra também foi assassinada? Por quê?
É o que eu quero saber.
Como se você realmente se importasse. Traga Dan de volta e aí conversamos.
É verdade Mazda? perguntou Liloca. Você colocou Dan dentro de um anel?
Claro que não! Como eu faria isso?
Mentiroso! o vampiro voou pra cima do tal Mazda e o jogou contra a parede. Deu uns murros nele e falou: Traga Dan de volta agora!
Como eu vou fazer isso? Só Cassan… novamente o vampiro deu uns murros nele.
Desgraçado! Você usou a caneta. Desfaça o que fez.
Mazda, você realmente seria capaz de fazer isso? perguntou Liloca.
Vai acreditar em um vampirinho que você acabou de conhecer?
Eu te conheço menos tempo do que ele. E tenho a palavra de Dan contra você.
Os dois olharam para ela até que o próprio Mazda falou:
Eu não vou ficar aqui ouvindo acusações absurdas.
Então Mazda criou raios com uma mão e fogo com outra e pegou nos braços do vampiro que disse:
Taí. Uma não me afeta e a outra eu posso aguentar. por fim deu uma cabeçada no nariz de Mazda que caiu no chão. A caneta deve estar em algum bolso. disse o vampiro revistando os bolsos de Mazda, então alguém bateu na porta.
Todos nós olhamos para ela.
Será que é o assassino? perguntou Liloca.
Ele não bateria na porta. falou Mazda limpando o sangue do nariz que estava quebrado, mas que não estava mais.
Os dois levantaram iguaizinhos.
Ninguém vai abrir a porta? perguntei.
Vá lá. disse Mazda.
Vai mandar seu próprio primo abrir a porta pra um assassino? perguntou o vampiro.
Não é o assassino, e se fosse não atiraria nele.
Como sabe?
Ele não estará na sua frente.
Então eu fui abrir a porta. Quando eu olhei era meu tio, só que ele caiu em cima de mim e, um homem atrás dele, atirou na cabeça do vampiro, só que Mazda desviou a bala de alguma maneira que ela só passou de raspão. Liloca o pegou antes que ele caísse e Mazda lançou um raio nele que pegou no relógio que parecia um morfador de tão grande e voltou derrubando ele. Liloca foi pra trás da mesa com o vampiro e o homem começou a atirar. Do chão eu vi que o vampiro deu o anel para Liloca e depois voou com mesa, cadeira e tudo para o homem que bateu na escada de cima do corredor e caiu. O vampiro foi atrás.
Liloca levantou e olhou para Mazda que já levantava dizendo que estava bem. Eu tirei meu tio de cima de mim que parecia drogado. Ele estava dormindo. Liloca me ajudou a botá-lo no sofá.
Saiam daqui. mandou Mazda.
Leila soltou um poder na porta da cozinha e atravessamos ela parando aqui. Aí ela me disse que eu tinha que proteger esse anel com minha vida.

“O.k. Bob. Preciso que você me diga o que pode fazer.”
– Como assim?
“Por exemplo… Liloca pode soltar um poder na parede, nas portas e elas abrem um portal para outros lugares. Como você viu, ela soltou na porta da cozinha e depois de atravessá-la ela parou aqui.”
– Ah… entendi o que você quer dizer.
“E então? O que você pode fazer?”
– Eu lanço um poder e o que toca vira ferro.
“Que interessante!” disse antes de tomar o controle do corpo de Bob. A ideia não me agradava, mas eu tinha que arranjar um corpo, tirar Mazda do meu e salvar Constelion e Cassandra.

Sem meus anéis, tudo ficaria mais difícil, então tive que pegar um dinheiro na casa de minha prima e pegar um ônibus até o Pero Vaz.
– Sim.
– Ph (Philipe), sou eu, D. Este é o corpo de meu primo. Preciso de sua ajuda.
Meio relutante, Ph me deixou entrar e me levou pro quarto dele.
– Se é D, mesmo, você pode me dá uma prova?
– Você dormia com seu irmão e não sozinho. Onde está Th (Thiago)?
Ph riu antes de responder:
– Eu dupliquei o quarto.
– Uau! Isso deve ter resultado em um poder e tanto, hein?
– Me resultou um grande trabalho, isso sim. Mas me diga, por que você está no corpo de seu primo, mesmo?
Eu contei toda a história desde quando eu vi a caneta caindo na escada até o motivo de eu estar no corpo de meu primo.
– Você quer dizer que esse Mazda é resultado do que eu fiz com você?
– Exatamente. E eu quero que você me ajude a destruí-lo.
– D, ele é parte de você.
– Eu estou farto de ouvir que ele faz parte de mim! Eu estou completo sem ele!
– Não, não está. Ele pode ser uma parte sua reprimida por seus medos, seus comedimentos, sua educação, mas ele é inegavelmente você.
– Como sabe? Você nem ao menos o viu. Ph. Ele é uma escória! Uma blasfêmia. Arrogante, intempestivo, covarde. Me aprisionou em um anel e agora, pra melhorar a situação, ele possui essa caneta mágica que o transforma em um deus!
– Olhe como você fala. Em um tom invejoso, doido. Por que realmente você o quer morto?
– Porque ele não deveria nem existir.
Nós nos olhamos e eu percebi como Ph refletia o assunto.
– Você… nós começamos isso. Nós vamos terminar. Você me ajuda?
– Se ele é tão ruim assim, e se é fruto de uma trapaça em uma brincadeira minha… eu ajudarei.
Apertamos as mãos em acordo e fomos até a casa de Liloca. Ph duplicou os próprios óculos e, colocando um deles, viu a imagem da casa dela na minha mente. Depois duplicou uma chave e girando uma delas no ar abriu uma fenda no espaço pelo qual fomos sugados e cuspidos em sua sala.

No sofá, minha prima cuidava de meu pai que já estava acordado.
– Pai! O senhor está bem?
– Bob! Eu não mandei ficar na casa de Keka?
– Me desculpe Liloca, mas tive que tomar o corpo de Bob emprestado.
– Dan?
– Eu fiz ele usar o anel.
– O que está acontecendo? – perguntou meu pai meio tonto.
– Depois eu te conto, meu pai. Agora eu preciso achar Constelion e Mazda.
– Eles estão lá embaixo.
– Vamos! – Chamei Ph e descemos as escadas correndo, no entanto os dois já haviam sumido. Lá só estava a carcaça pálida do assassino. – Tem aparecido mais do que deveria. – disse um segundo antes dele se sentar.
Eu preparei para disparar o poder de Bob, mas Ph já estava falando com ele.
– O que houve aqui?
– Muita coisa. – disse o moribundo com a voz morta.
– A partir do momento que o vampiro te jogou na escada. – falei após ver que Ph o estava controlando.
Então o corpo do assassino disse:

Eu bati na parte inferior da escada e caí, porém me segurei no muro de um andar abaixo. O vampiro veio até mim e perguntou:
Por que matou a minha mãe, a mãe da cigana e quer nos matar?
acha que só porque eu tô nessa situação eu vou lhe responder?
Acredite. Consigo imaginar situações piores. e dizendo isso ele retirou uma seringa do bolso com um líquido amarelo nele. Última chance. falou tirando a tampa da seringa.
Sua droga não vai funcionar comigo. falei soltando o muro, contudo ele me segurou com uma mão e injetou o líquido no meu ombro com a outra. Sentir um leve calor no corpo, porém algo passageiro.
O próximo passo dele foi mostrar os dentes e tentar cravá-los na minha jugular, porém acionei uma arma presa no meu antebraço para sair e atirei em seu peito. O vampiro me largou e eu abri o guarda-chuva que trazia nas costas e planei até o térreo. Não obstante eu recebi um chute na barriga assim que pousei. Era o que se parecia com ele.
 Minha arma havia caído, então fechei o guarda-chuva e arrisquei transformá-lo em arma, no entanto ele começou a tomar controle dos meus movimentos me fazendo largá-lo e me erguendo no ar. Nesse momento o vampiro pousou e pediu:
Não o mate.
Ele não tem mais nenhuma informação útil. O que sabemos é que ele recebeu uma ordem de um papel mágico dizendo para matar a mãe de vocês e os filhos que elas já tivessem.
Isso foi o que ele lhe disse. Ele pode saber mais e eu vou extrair isso dele.
O vampiro se aproximou de mim e sugou todo meu sangue.

– Foi só isso.
– Seu amigo vampiro deve ter dado a ele uma substância utilizada por vampiros feiticeiros que se agrega ao sangue tornando-o um livro líquido de toda a história da pessoa. – disse Ph.
– Isso quer dizer que ele descobriu alguma coisa e foi até lá. Pra onde eles poderiam ter ido?
– Por favor! Deixem-me descansar em paz.
– Retalharei seu corpo todo se não me disser. – falou meu amigo.
Se houvesse ar nos pulmões do assassino, ele suspiraria. Aliás. Como ele conseguia falar sem ar para mover suas cordas vocais?
– Eu sou apenas um clone. O ser original está em uma fazenda fora da cidade. Ele nos criou lá e mandou que viéssemos encontrar e matar nosso alvo.
– E que fazenda é essa?

Em um estalar de dedos, ou melhor, em uma escarrada pra ser mais exato, aparecemos na tal fazenda. Nenhum sinal do vampiro ou de Mazda.
– A fazenda é grande. Eles podem estar em qualquer lugar.
– Será que além de teletransporte e conversação com mortos você não tem nenhum truquezinho para encontrá-lo?
– Até tinha, mas o relógio que eu dupliquei parou. Se o objeto não funciona, meu poder não funciona.
– Pelo amor de Deus! Pra isso existe relojoeiro.
– Relaxe. Eu vou duplicar meu celular. O sobressalente fica com você para uma futura comunicação.
– Obrigado.
Ph tirou o aparelho do bolso e colocou no muro de madeira da varanda da casa principal efez sua mágica. Ao completar a duplicação dois jagunços apareceram apontando espingardas para nós.  
– Achei! – e após dizer isso, girou a chave nos cuspindo nos estábulos.
Novamente nenhum sinal de Mazda ou de Constelion.
– Tem certeza que você os achou?
– Absoluta. Só não queria aparecer em um lugar que eu não saberia o que estava acontecendo.
Ele se dirigiu até uma cela onde não havia cavalo algum, então afastou o feno do chão e abriu a porta subterrânea. Descemos as escadas e chegamos à sala. Lá estava o assassino congelado até o pescoço e preso em uma parede. No meio, Mazda observa Constelion olhar alguns papeis.
– Chegamos em boa hora? – perguntei.
Mazda se virou meio surpreso, mas nada se comparava a sua cara quando viu Ph ao meu lado. E isso mostrava que ele entendia o que isso representava.
– Philipe?
– Ajuda extra.
– Achei! – disse Constelion. – Aqui estão cinco nomes incluindo o de minha mãe e o da mãe de Cassandra.
– Observe o final do último nome. – disse o assassino já soltando vapor pela boca.
Depois de alguns segundos Constelion fala:
– Tem uma barra piscando. As letras também são estranhas: parece mais uma fonte do Word do que uma caligrafia.
– E o veredicto, Sherlock? – perguntou Mazda aparentemente normal.

– É como se o papel fosse de uma tecnologia desconhecida.
Era impressionante. Em tão pouco tempo eles já haviam descoberto o paradeiro do assassino, o derrotado e arrancado respostas dele.
– E agora? – perguntou Constelion. – Vou ficar sempre fugindo, esperando um novo mercenário mandado por sei lá quem? Até que ele ou ela consiga me matar. E matar Cassandra?
– Temos que pensar de cabeça fria. – falou Mazda depois de terminar de cobrir o rosto do assassino com gelo. – Os outros nomes são de todos de mulheres?
– São. E embaixo diz que se elas já tiverem algum filho que é para matá-los também.
– Isso nos dá uma dica. – disse o usurpador de corpos.
– Que dica?
– De que o mandante é do futuro. – completei.
– O que?
– Se ele quer matar mulheres e os filhos dela, só pode ser porque alguém no futuro vai aborrecer alguém. – continuou.

– O que sugere que a tecnologia do papel seja desconhecida porque ainda não foi inventada. – finalizei. Ph olhou pra mim pelo canto do olho e sorriu pelo canto da boca.
– Meu Deus! – exclamou. – Como vou deter alguém que ainda nem nasceu?
– Eu posso fazer isso. – disse Mazda.
– Eu não confio em você.
– Qual é Constelion? Lembre-se que Cassandra também corre perigo.
– Fala como se desse a mínima. – disse.
– Se eu não me importasse, eu não a manteria segura, como eu fiz.
– Você também o conhece? – perguntou Constelion
– Sou eu! Dan. – e mostrei o anel. – peguei o corpo do meu primo emprestado.
– E quem é ele?
– Um amigo meu.
– Deixe-me ajudá-lo Constelion.
– Você vai me fazer um grande favor devolvendo o corpo de Dan.
– Sabe que eu não posso fazer isso.
Constelion olhou para mim e para Ph antes de dizer:
– Então me diga onde Cassandra está. Vou explicar a ela o que aconteceu. Isso você pode fazer, não é?
Mazda meneou a cabeça afirmativamente e escreveu o endereço da casa de Pombinho em outra folha de papel que estava na mesa onde havia as ordens de assassinato.
– Obrigado. – disse meu irmão antes de sumir. Certamente Mazda devolveu-lhe os poderes também.
– Nem pense em se teletransportar. – disse apontando a mão que poderia disparar um poder que poderia torná-lo uma escultura de ferro.
– Eu não vou fugir feito um covarde, Danilo. Acha que eu tenho medo de Philipe e seus truques de duplicação?
– Devolva meu corpo, Mazda. Por bem.
– “Se não…” – debochou. – Ta na hora de você me mostrar um pouco de respeito.
Mazda lançou um raio contra mim, mas eu desviei por pouco. Ao meu lado Ph duplicou a corrente que pendia em sua calça. Não, triplicou. Não… ele criou dezenas de correntes, todas unidas uma na outra e jogou nele, no entanto ela atingiu o resto do vapor de seu teletransporte. O outro apareceu atrás de Ph e lançou um raio nele que caiu ajoelhado. De lado para ele lancei o poder de Bob. Mas uma vez ele sumiu. Esperando que surgisse atrás de mim, me virei afastando seu braço e lhe dei um soco.
– Previsível. – em seguida lhe dei um chute na barriga derrubando-o em cima da mesa.
Ph se levantou e, multiplicando o próprio sopro, lançou uma rajada de ar que o jogou com mesa e tudo na parede. Entre os escombros ele tentou escrever algo, contudo eu lancei o poder de Bob na caneta, porém o poder só funcionou na mão dele.
– Droga!
Mais uma vez Ph lançou sua corrente e mais uma vez ele se teletransportou, no entanto, dessa vez meu amigo acertou. Mazda apareceu atrás de nós dois, porém um pouco mais distante e amarrado pela corrente que Ph criou.
– Pra onde você for eu irei também.
Mazda riu debochadamente, então uma nuvem negra se formou ao seu redor crescendo exponencialmente, entretanto, a corrente continuou presa, mas para nossa triste surpresa, não era mais Mazda que Ph prendia e sim o braço de uma besta feita de fogo e sombras.


– Desgraçado! Ele nos enganou.
– Acho que não. – respondi olhando por debaixo das pernas do monstro o corredor que ele fugia.
Lancei o poder de meu primo na lâmpada acesa no teto levando o lugar à escuridão e corri atrás dele passando por debaixo da criatura contando que ele não se teletransportasse de novo.
No estábulo recebi um soco de ferro e cai no meio do feno.
– Muito esperto de sua parte trazer Philipe aqui. Mas o que ele fez não pode ser desfeito.
– Quem falou em desfazer?
Mazda se preparou para soltar seus raios mais uma vez, porém eu lhe dei uma rasteira. Em seguida transformei em ferro sua outra mão e parti pra cima dele. Dei-lhe alguns socos pouco antes de Ph abrir a porta subterrânea.
– Vamos, Ph! Faça!
– Aqui não. – disse me tirando de cima de Mazda e o pegando pela camisa.
Fomos para fora do estábulo a grande distância e olhamos o mesmo começar a pegar fogo.
– Achei que você tinha… – antes que eu terminasse, Mazda tentou me dá um murro, porém sua mão parou ante ao poder de Ph.
– Que pena! Eu controlo o ferro. – disse me fazendo reparar que ele usava dois anéis feitos de ímã.
A mão que segurava a caneta abriu deixando-a cair no chão e foi direto para seu pescoço, contudo Mazda esticou uma perna e chutou o rosto de Ph voltando a controlar seus punhos. Na distração eu tentei pular para pegar a caneta no chão, mas ele lançou, com o um movimento de braço, uma rajada de ar contra mim me atirando longe. Ph tirou do bolso um radinho que logo virou dois e, com cada um em uma mão, ligou-os liberando ondas sônicas que pararam em suas mãos metálicas no exato momento que o demônio saia dos destroços e apontava sua mão para nossa direção, se desprendendo em seguida e se transformando em uma besta menor que correu mirando em Ph.
Eu disparei o poder de Bob, contudo ele não fez efeito, então Ph mirou um dos radinhos no bicho que recuou, mas sem receber nem um dano efetivo. Mazda pegou a caneta do chão com uma mão enquanto se protegia com a outra e tentou escrever algo no ar com seus dedos estáticos. Em resposta, meu amigo parou de atacar a besta e, juntando os radinhos em um aparelho só, criou um mini micro-ondas e, com ele, liquefez as mãos do outro que caiu junto com a caneta e os anéis. Quando a mão viva do demônio estava perto de Ph, este girou a outra chave criando um buraco negro sugando-o e sumindo com ele.
– Idiotas! Agora o demônio não tem quem o comande. – disse Mazda.
Mais agressivo (principalmente por também estar sendo atacado pelos jagunços), o demônio esticou-se para o céu deixando-o nublado com uma nuvem negra e socou o chão se transformando em uma cortina de fogo que destruiu a casa e começou a queimar tudo ao redor em uma grande explosão. Mazda tocou com o pé as suas mãos de ferro líquido e desapareceu. Ph criou outra fenda nos sugando milésimos antes do fogo nos alcançar.

Aparecemos na casa dele com fumaça saindo dos nossos corpos.
– Meu Deus! – falou Th entrando no quarto ao ouvir o baque de nossos corpos caindo no chão. – de onde vocês vieram? – fedíamos a enxofre.
– Nem queira saber. – disse Ph se levantando junto comigo.
– Temos que ir atrás de Mazda. – falei quando Th se retirou. – Ele deve ter ido para a casa de Pombinho também.
– Por que acha isso.
– Provavelmente ele vai querer que Cassandra devolva suas mãos.
– E ela é poderosa assim?
– Ela é uma cigana. Então… sim.
– O.k.
– Outra coisa. – me aproximei dele. – Não sei como parar Mazda. Talvez você tenha que ser mais…
– A única coisa que será indubitavelmente eficiente será duplicá-lo. Como ele já é uma metade, outra duplicação vai rachar sua alma e destruí-la.
– Então faça isso. – disse sem hesitação.
– Tem certeza?
– Apenas faça.
Ele afirmou com a cabeça depois girou a chave novamente e paramos na sala da casa de Pombinho.

De frente para a porta estava ele com suas três primas: Aluada, Ciça e Pau-De-Sebo que observavam preparados, as batidas na porta. No outro lado Constelion observava Cassandra segurar uma bola de cristal média com uma mão e com a outra fazer as mãos de Mazda crescerem de novo. Antes que ela concluísse o trabalho lancei o poder de Bob na bola que caiu rachando o piso. O poder cessou. Os três olharam para nós e sem hesitação Ph levantou a mão apontando para Mazda lançando seu poder invisível de duplicação, contudo, Cassandra se colocou na frente dele estremecendo.
– Pare! – gritei abaixando a mão do meu amigo.
Cassandra ia cair no chão, mas Mazda a pegou antes.
– Cassandra? – falou com a voz baixa. Ele olhou para ela assustado e depois para nós com raiva.
– O que foi que eu fiz? – se lamentou Ph.
Não sei como, mas ele esticou a ponta de seu antebraço até formar uma mão e depois dedos. Ele tocou novamente na sopa metálica que se encontrava a caneta e os anéis e sumiu deixando que eu segurasse o ar.
– Droga.
Cinco segundos depois, tempo que eu levei me levantando lentamente, Mazda apareceu. Ele estava atrás de mim e chutou minhas costas. Com a mesma perna lançou uma rajada de ar em Ph que defendeu com os braços que sangraram devido à lufada. Ele virou-se para mim de novo e dessa vez lançou uma onda que me atirou pela janela.
“Droga! Além de morrer, eu vou matar meu primo”. Numa tentativa que julguei erroneamente infrutífera, disparei o poder de meu primo na água que se transformou em mercúrio. “Droga duas vezes!” Por sorte, o metal agiu como gelatina e, apesar de todo molhado, consegui subir.
Da janela eu vi Ph e Mazda lutando. Este criou uma espada de gelo e acometia ferozmente meu amigo que se defendia com a corrente entre um soco e outro com ela enrolada no punho.
– Constelion? – chamei meu irmão que me ajudou a entrar de volta na sala.
Sem entender o que estava se passando, a família Oliveira virou-se para ver a luta e, como eu havia imaginado, Pombinho ajudou Mazda. Ph tinha esquivado de um ataque ficando atrás de nosso algoz e o enforcou com a corrente, então Pombinho se meteu lançando seus raios de fogo pelos olhos derrubando meu amigo. No chão, Ph desviou por pouco do golpe de Mazda que quebrou sua espada em várias pedras de gelo e lançou nele suas ondas sônicas através de um novo par de radinhos que o jogou no corredor. Pombinho lançou novamente seus raios flamejantes que foram defendidos pela corrente de Ph, porém o poder refletiu no metal e atingiu a porta destruindo-a. 
Então eu entendi o motivo daquela barricada. Era uma legião de assassinos que estava batendo na porta. O primeiro foi recebido pelo poder de Ciça que lhe atingiu em todos os pontos do corpo como uma metralhadora de pirilampos. O segundo voou porta afora com um dos discos de Pau-De-Sebo. E o terceiro recebeu uma sequência de golpes dos pés de Aluada que o derrubou em segundos. O quarto virou uma estátua de ferro bloqueando a passagem apenas pelo momento que Mazda voltou à sala, Pombinho se virou para a entrada de sua casa e Ph se levantou.
Mazda lançou sua onda em Ph prendendo-o com uma camada de gelo. Em seguida disparou o poder do anel negro contra mim. Eu desviei por pouco me jogando no chão e atirando a bola de ferro de Cassandra contra ele. A esfera fez ele atravessar a parede e entrara na cozinha batendo na geladeira. Me levantei no momento em que Constelion voava para fora levando um assassino junto com ele. O sexto foi congelado pelo sopro de Pombinho bloqueando novamente a passagem por tempo o suficiente para eu transformar a camada de gelo em ferro permitindo que Ph se libertasse.
– Obrigado. – disse pouco antes de Mazda jogar uma geladeira contra mim. Ph nos teletransportou para o lado nos salvando por pouco.
– Se isso virar um hábito eu vou ficar sem osso. – disse.
– O que queria que eu fizesse?
– Geladeira é feita de ferro, lembra?
Como mais nenhum assassino tentava entrar na casa, todos se viraram para mim e para meu parceiro.
– Espere Pombinho! Não é o que você está pensando.
– Vocês invadem a minha casa e atacam meu amigo. O que eu estou pensando errado? – disse com os olhos flamejando preparados para lançar mais raios.
– Eu sou Braço. Esse no meu corpo se chama Mazda. Ele é uma duplicação minha. Uma segunda personalidade.
– Ele está mentindo. – disse Mazda voltando da cozinha. – Acabe com ele Diego.
– O que ele fala é verdade Pombinho. – disse Ph apontando para mim. – Esse é o seu verdadeiro amigo que foi preso por ele nesse anel de bronze. – mostrou na minha mão.
– Não acredite neles Diego. Tudo isso é uma armação.
– Não, não é. E eu posso provar. – disse. – Sou eu. Seu amigo de muitos anos. Você me ensinou xadrez. Jogamos bola juntos na rua. Eu estive aqui no seu aniversário de dezoito anos. Comi o bolo que sua mãe fez na casa de sua avó. Como eu saberia isso se não fosse Braço.
– Do mesmo modo que ele deve saber que te salvei de Esforiöul em frente à casa de Jean. – rebateu Mazda.
“Desgraçado”
– É melhor você convencer logo seu amigo, senão serão cinco contra dois. – sussurrou Ph para mim.
Era visível a confusão nos olhos de Pombinho. Como saber quem estava falando a verdade?
Eu saberia como provar.
– Informações todo mundo tem. Mas se usar esse anel, você saberá quem está falando a verdade.
– Não dê ouvidos a ele, Diego. Isso é uma armadilha.
– Ele sabe que não é. – falei. – Só o verdadeiro Braço sabe como derrotá-lo e nunca faria isso.
– Ele tem razão. – concordou Pombinho.
Então eu retirei o anel do dedo e joguei para ele. No ar, eu pude perceber que Mazda lançava um poder do anel das sombras em direção ao anel, mas Pombinho foi mais rápido e pegou o anel deixando que o poder batesse em seu peito e voltasse para Mazda que voou o corredor todo. Pombinho colocou o anel e então eu pude falar com ele.
“Pombinho, sou eu.”
– Então é verdade?
“Sim. Mas eu não tenho tempo de te explicar isso agora. Temos que dá um jeito de tirá-lo do meu corpo.”
Pombinho foi até Mazda no chão, mas de repente começou a fraquejar. De uma corrente que eu sempre mantive no pescoço, havia um anel com uma pedra verde nele e o outro estava usando-o contra Pombinho.
– Então era isso? Estava debaixo do meu nariz e eu nem percebi. – disse se levantando com a caneta em uma mão e o anel em outra.
– Me dê o anel.
– Nun… ca.  – num esforço sobre-humano, Pombinho lançou o anel para Ph que estava no início do corredor, porém Mazda esticou o braço e o pegou antes de meu amigo.
– Se não quiser que eu destrua Danilo agora mesmo, não venha atrás de mim. – após dizer isso, Mazda colocou o anel bronze na corrente onde estava o outro anel e se teletransportou para a nossa laje onde três assassinos atiravam na porta de aço sem sucesso.
Mazda escreveu no ar que os três deveriam se matar, então os do canto miraram na cabeça do que estava no meio que deu uma cambalhota para trás derrubando as armas dos dois em seguida dando-lhes um tiro no peito de cada um. Logo depois ele mirou em Mazda que criou uma parede de gelo à sua frente e escrevia nela que teria uma espada a laser laranja. Quando as balas estavam começando a atravessar a parede, ele se teletransportou para trás do assassino e cortou sua cabeça com a espada.
Após vencer seus inimigos e me ter de volta em sua posse, Mazda guardou a espada e abriu a porta que guardava Cassandra desacordada na cama. Ele tirou sua bola de cristal do bolso e colocou na cabeceira. Escreveu no lençol que a pedra voltaria ao normal, em seguida que a alma recém divida de Cassandra seria novamente uma.
– Dan? – perguntou ela.
– Mazda. – respondeu ele.
– Me desculpe. – disse se sentando na cama. – Vocês são tão parecidos.
– Você está bem? – perguntou ignorando o comentário.
– Sim. – respondeu calma, depois admirada ao olhar para a porta do quarto.
Mazda já levantou com o sabre em punho virando-se para o homem de paletó cinza.

– Fascinante o que um humano pode fazer em menos de vinte e quatro horas com uma caneta tão poderosa quanto essa. – disse o homem.
– Quem é você?
– Eu sou Maia. Um Arquiteto do Universo. Com essa Caneta que você está usando eu posso criar planetas, galáxias… e com essa – ele mostrou outra caneta semelhante. – eu posso criar vida. – ao dizer isso um homem apareceu no quarto terminando de tirar o capuz da capa que deveria deixá-lo invisível.
– Se essa caneta é sua, o que ela fazia jogada em uma escada?
Ele riu constrangido.
– É lamentável, mas eu a perdi. Acho que ela caiu no seu planeta.
– Então você o mandou vim atrás de mim, pegar a caneta de volta?
– Buld é uma criação minha. Na verdade criei toda sua raça e seu planeta também. É um sacerdote e tem a permissão de me ver assim como você que está usando minha caneta. Aliás. Se não se importa…
– Achado não é roubado. – disse ainda com a espada em punho.
– Essa Caneta não lhe pertence. Só os Arquitetos do Universo podem usá-la.
– Então como eu consegui fazer essas proezas? Acho que ela é bem democrática, não acha.
– Acho que você deveria me devolver ela.
– “Se não…”. Sabe? Eu tô cansado de ouvir essas ameaças, então porque você não faz logo o que quer fazer?
– Eu não posso interferi nas criações dos outros Arquitetos. No entanto Buld não é Arquiteto.

O homem de capuz tirou de sua capa uma espada igual à de Mazda, porém amarela.






– Você não vai querer fazer isso. – disse o Outro.
– Ah, quero sim.
Quando Buld partiu pra cima de Mazda, este se teletransportou para atrás dele e o atacou, porém o reflexo da criação de Maia era muito bom e se defendeu por pouco. Mazda o atacou de várias maneiras encostando-o na parede até que este a atravessou.
– Pra onde ele foi?
De repente o homem de Maia saiu da parede dando dois chutes em Mazda que recuou. A luta continuou intensa dentro do quarto até Buld chutar a barriga de seu oponente contra o umbral e depois tentar corta-lhe a cabeça. Então Mazda foi para fora do quarto onde a luta reiniciou. Os dois estavam usando suas habilidades: Buld atravessando paredes e Mazda se teletransportando e voando, não obstante, o ladrão de corpos e de canetas alheias criou um guerreiro das sombras e começou a atacar Buld juntos. Por sorte, até mesmo o chão é um aliado do alienígena. Quando ele tropeçou em uma divisão da parte coberta da não-coberta, o guerreiro foi atacá-lo no chão, porém ele entrou e saiu do concreto dividindo o guerreiro e voltando a atacar Mazda que se teletransportou para mais longe.
– Estou impressionado. – disse Mazda ofegante.
– Suas trapaças não poderão me deter.
Ao contrário de Buld, o Outro já suava. Percebendo isso Cassandra apontou sua bola de cristal para seu namorado.
– Se interferir no seu amado eu terei que interferir na minha criatura. – disse Maia apontando brevemente o dedo para Buld.
– Está cansado? – perguntou o ET
– Eu ainda dou conta.
– Que bom. – após dizer isso, ele colocou o capuz e novamente ficou invisível.
– Isso não é bom.
Mazda esperou pelo ataque silencioso de Buld e quando este fez, ele estava preparado. O alienígena ia cortar as mãos dele, porém, Mazda tirou o braço na hora certa girando e enfiando seu sabre nas costas de Buld. Após dá o golpe, o Outro abaixou o capuz do oponente mostrando sua cara de surpresa.
– Como? – perguntou Maia.
– Ele tem um cheiro horrível. Percebi que ele vinha pela direita então, imaginei que ele cortaria meu braço. – respondeu retirando a espada e deixando o corpo cair.
– Não precisava matá-lo.
– Ele matou meu guerreiro. E agora? Quem será o próximo?
Maia estava em um dilema: tinha que pegar sua caneta de volta, mas não podia atacar uma criação que não era sua. Provavelmente ele não esperava que Mazda pudesse vencer Buld. Nem eu, devo confessar. Cada vez mais Mazda me surpreendia. Primeiro ele esticava membros, depois controlava o ar e agora pode sentir o cheiro das pessoas ao seu redor. Como ele conseguia tanto poder? De onde ele tirava essas habilidades que eu não tinha?
Era uma incógnita.
Então de repente Maia começou a falar, aparentemente, sozinho:
– Sua criatura roubou uma caneta minha… Na verdade ele não roubou. Eu a perdi. – disse embaraçado. – Eu tentei, mas ele matou minha melhor criatura. E eu não posso atacá-lo… Acha que eu já não tentei? Só você pode resolver isso… Você deve abrir uma exceção para ele. Não posso ficar sem minha Caneta… Eu posso perder meu cargo! É arriscado… Tudo bem, Javé. Você tem razão. Farei isso agora mesmo. – então olhando para Mazda ele disse: – Eu voltarei, humano. – então ele sumiu.
– O que foi isso? – perguntou Cassandra.
– Eu não sei. Mas por precaução, eu quero que você faça uma coisa por mim.
– O que eu posso fazer por você que essa tal caneta criadora não possa.
– Se os poderes dela forem anulados, nada do que eu escrever vai valer. Por isso eu quero que você feche meu corpo.
– Como é?
– Sentir o cheiro desse cara foi um poder que veio na hora certa. Um golpe de sorte eu diria, mas nem sempre pode ser assim. Por isso eu quero que você feche meu corpo. Eu sei que pode fazer isso.
– Sim, eu posso, mas para isso eu teria total controle do seu corpo.
– Como assim?
– Para fechar seu corpo eu tenho que criar um boneco seu…
– Tipo Voodoo?
– Isso. Só ferindo o boneco poderão te ferir. No entanto se eu cravar uma agulha no peito do boneco, você morre.
– Eu confio em você.
– Não deveria. Ninguém deveria ter o controle da vida de outra pessoa.
– Escute Cassandra. Eu estive nesse mundo por pouco tempo, mas foi tempo o suficiente para descobrir que eu te amo. Se minha vida tiver que ficar nas mãos de alguém que seja você.
– Mazda…
– Eu salvei sua vida várias vezes. Está na hora de você retribuir.
Cassandra ficou um tempo pensativa, mas por fim concordou.
– Tá. Mas eu preciso de um fio de cabelo seu.
O Outro cedeu seu fio e observou sua namorada fazer o boneco. Nesse momento Constelion apareceu.
– Irm… Mazda. – disse ao olhar para o dito cujo.
– Como sabe que ainda sou eu?
– Se não fosse pelo anel no seu dedo, eu diria por seu ar de deus.
O casal nada disse.
– O que é isso?
Mazda fechou a porta à suas costas e saiu do quarto com Constelion.
– Nada. Acho que acabou os clones de assassinos.
– A primeira leva, você quer dizer. Ela está bem? Nem uma alternância de humor repentina?
– Eu a curei com a caneta.
– E quando vai me curar.
– De novo essa discussão?
– Não é justo o que você está fazendo Mazda. Mas é uma opção sua e, apesar da cigana ser sua namorada não vai poder impedi-la de mudar meu rosto.
– Não, não vou. Mas ela não vai querer.
– Como pode estar tão certo?
– Eu sou seu namorado e ela vai fazer o que me agradar.
Constelion riu.
– Sua concepção de namorada está tão equivocada que eu realmente me pergunto se é o velho Mazda, escorregadio e poderoso que nem seis pessoas podem deter.
Dessa vez foi Mazda que riu.
– Aposto que nesse exato momento eles estão tramando um modo de me retirar daqui.
– Na verdade, não. – Constelion sorriu. – Eles estão apostando em quanto tempo Dan conseguiria arrancar sua cabeça fora se tivesse o corpo dele.
– Danilo não tem mais corpo, Constelion. – disse seco.
– Claro.
Cassandra abriu a porta, contudo, antes que ela dissesse alguma coisa desapareceu como um quebra-cabeça desfeito. Não só ela como Constelion. Não só os dois como o quarto, a laje e todo o resto ao redor do Outro.
No lugar, um imenso vazio, e vozes suaves, porém fortes o bastante para fazer reis se ajoelharem.
– O que está havendo?
– Você está em um Julgamento.  – disse a voz de Maia.
– Do que?
– Do possível roubo da Caneta do Arquiteto Maia. – disse outra voz.
– Eu não a roubei.
– E como você a achou? – perguntou uma voz feminina dessa vez.
– Estava na escada.
– Por que as lembranças não são suas?
– Por que… não são bem minhas.
– E de quem são? – continuou a voz feminina.
– De… outra pessoa. Éramos um, contudo fomos divididos. Ele estava no controle do corpo naquele momento.
– Então foi ele que achou a Caneta. – inferiu outra voz feminina.
– Sim, mas a posse do corpo agora está comigo. E a Caneta também.
– Por que não quer devolver a Caneta a seu verdadeiro dono, agora que sabe quem ele é?
– Por que eu gostei dessa Caneta e não acho justo ele tirá-la de mim, já que ele a perdeu.
– Como pode dizer o que é ou não justo, se aprisiona parte de sua própria alma em um anel? – questionou Maia.
– Se é parte de mim, eu faço dela o que eu quiser. Pelo menos não a perco por ai.
Não pude deixar de rir com a resposta de Mazda. Mesmo falando de mim como seu não fosse o dono do corpo, ele colocou bem seu ponto de vista.
– Tratar sua própria alma como um objeto não é digno de alguém que se quer, possa olhar para essa Caneta. – rebateu Maia parecendo que adivinhava o que eu pensava.
– Tem razão Maia, mas isso não tira seu erro. – disse outra voz, masculina dessa vez. – Se você é capaz de perder a Caneta, você também não merece possuí-la.
– Nem ele.
– Então concorda que não seria injusto se tirássemos de você essa Caneta, correto?
– Não. – ele falou rápido, porque talvez fosse um ser divino, mas um simples ser mortal titubearia com essa pergunta capciosa.
– Então rebaixaremos você a apenas criador de coisas e não de seres. – disse outra voz. – Afinal se falha na manutenção e guarda de sua Caneta pode falhar na criação de um ser novo.
– Certo. – Maia assentiu triste.
– E quanto a ele? – perguntou uma voz feminina.
– Fazendo um levantamento: – disse outra voz. – Adquiriu dois poderes com desenhos nas mãos que foram utilizados contra assassinos, contra parte de sua alma no corpo de seu primo e contra o próprio amigo.
“Dois a um” pensei feliz.
– Colocou parte de sua alma em um anel; tirou os poderes do irmão e colocou em si; tornou seu corpo e da namorada com o dom da regeneração a ferimentos; fez assassinos se matarem e criou uma espada para sua proteção.
– Empate. – disse outra voz antes que eu terminasse minhas contas.
“Então o que pesa mais?” pensei já não tão feliz.
– As únicas mortes causadas pelo poder da caneta foram para salvar vidas.
– Exceto pelo meu sacerdote. – disse Maia.
– Seu sacerdote também tirou uma vida.
– Era do mundo das sombras.
– E há diferenças agora? Só por que não fomos nós que as criou é válido sacrificar tais almas?
– Não. – respondeu rápido de novo.
– Devido ao empate de ações – começou a primeira voz. – a Caneta será concedida ao humano de calasse C, tipo Homidi, de nome Mazda, desde que ele corrija todas as falhas causadas por ele até o final de um ano em seu tempo.
– Ele será um Arquiteto agora? – perguntou Maia.
– Sim. Um Arquiteto Humano.
– Não será justo colocar um humano com poderes acima de um Arquiteto. – disse a primeira voz feminina.
–Não. Portanto, para que haja o equilíbrio, Maia será restituído de suas canetas e deverá observar e, quando necessário, guiar Mazda para a correção de seus deveres alertando-o de seus devidos erros.
– Que erros exatamente? – perguntou Mazda.
– Todos. Para se tornar um arquiteto e ter a Caneta que tanto quer, terá que se redimir de seus pecados. Terá o poder das Canetas Construtoras do Universo, mas seguirá parâmetros, tais quais, não poderá criar nada além daquilo que seja para uso pessoal, nem animal racional. E se criar algum animal irracional terá que haver um motivo, uma lógica para que aquele animal passe a existir. Ele terá que ter uma história. Porque ele foi criado, de onde vem sua espécie, onde vive, quando surgiu o primeiro, como se dá sua reprodução, quais suas características que lhe difere dos outros animais, de quem é caça e de quem é predador, terá que dizer seus ciclos reprodutivos, digestivos e, além de outros, seu ciclo de vida. Isso, além de outras considerações. Todos estão de acordo?
– Sim. – disseram em um harmônico uníssono.
– Está de acordo, humano?
– Sim. – respondeu Mazda com um sorriso incabível em sua cara.

Então tudo voltou ao seu lugar exatamente como era antes. Mas ele não era mais o mesmo. Ele agora tinha uma Caneta em cada mão e podia fazer, definitivamente, o que quisesse. Agora ele era um Arquiteto Humano do Universo.
Agora ele era um deus.






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